Nuno Carvalho
Não descuide o futuro da sua
empresa, mesmo quando atravessa bons momentos. Cuide do seu maior activo, o
capital humano.
Presidente da JerónimoMartins, sem querer e por outros motivos, acabou por enriquecer o País
quanto ao que deve ser um empreendedor exemplar.
Foi a caminhada mais longa que
fiz na passadeira do ginásio, sintonizada no canal da SIC Noticias, onde
permaneci quase 1h, não por necessidade física, mas sim porque não conseguia
parar de ouvir Alexandre Soares dos Santos, Presidente do Grupo Jerónimo
Martins, na sua excelente entrevista dada à SIC Noticias.
Enquanto caminhava na
passadeira no nível 6, Soares dos Santos não saia do nível 10 na sua
entrevista. Sem querer e pelos motivos que recentemente vão fazendo manchete
nos jornais e televisões quanto à campanha do Pingo Doce, Soares dos Santos
acabou por enriquecer-nos quanto ao que deve ser um verdadeiro empreendedor.
Foi depois de ver a entrevista
que decidi escrever, não sobre o tema em questão, mas sobre aquilo que
considero serem mensagens importantes para todos os empreendedores em Portugal.
Cristão e com 77 anos de
idade, Soares dos Santos refere dois aspectos que o preocupam; o futuro do
negócio de família a 10 anos, e os recursos humanos. Começo por comentar as
suas preocupações, onde a primeira "futuro da empresa a 10 anos" não
deve ser esquecida pelos empreendedores. O facto de um negócio correr bem, não
deve necessariamente implicar desleixo ou despreocupação. É importante
reflectir sobre o futuro e ter visão para que o negócio se consiga sustentar a
longo prazo.
A preocupação com os recursos
humanos, foi talvez a mensagem mais importante e mais forte em toda a sua
entrevista. Afirma ter constituído um fundo de 3M€ para ajudar 2.000
funcionários, está disponível para cortar o seu próprio salário para ajudar os
colaboradores, de portas abertas para receber os colaboradores com o objectivo
de resolver os seus problemas, e compensa os seus funcionários quando estes
excedem a produtividade esperada.
Quando constituímos uma
empresa este deve ser o nosso primeiro objectivo: Fazer com que todos juntos
consigamos vencer, recompensar essa vitória, e reconhecer o trabalho feito. Na
gigantesca economia mundial, perderam-se todos estes princípios, e as pessoas
passaram a ser números. É difícil lutar contra esta teoria, e o próprio
ressaltou alguns exemplos disso, revelando que os administradores estrangeiros
sugerem reduzir em pessoal para aumentar lucros. A resposta de Soares dos
Santos, mais uma vez foi digna de um homem sensível à situação actual, dando a
entender que desconhece ele e o seu administrador, o preço de uma simples
garrafa de agua, tentando mostrar com esse exemplo que ambos desconhecem a
crise, e que os milhares de colaboradores que tem a seu cargo, merecem o seu
apoio em especial em momentos tão difíceis como os que atravessamos.
Infelizmente, e cada vez mais,
pessoas que deram o seu melhor encontram-se hoje numa situação financeira muito
grave, chegando mesmo ao ponto de não terem dinheiro para alimentar os seus
filhos. A culpa não foi de muitos deles, mas sim da degradação da economia
mundial, que acabou por descuidar o activo mais importante, as pessoas. As
empresas esquecem-se que um cidadão que não tem receitas, não consome, logo a
empresa sofre uma quebra nas suas receitas, e assim sucessivamente até
chegarmos a um cenário de pobreza. Para além disso temos a questão humana, onde
Soares dos Santos mostra ser um exemplo a seguir.
Outra das notas que retive, e
que concordo totalmente, é ser-se transparente. Dizer o que vai na alma, porque
não? É precisamente esta atitude que falta na nossa cultura. As repostas
políticas de grandes personalidades que não levam a lado nenhum e que Soares
dos Santos mais uma vez deixou recado: "O português tem medo de
falar". Se queremos ser empreendedores, políticos, cidadãos, etc sérios,
honestos e transparentes temos de responder com total transparência às questões
que nos colocam. Esta atitude mostra muito de cada um de nós. Quem arrisca ir
por este caminho, sujeita-se sempre a mais criticas mas a longo prazo compensa,
pois todos ficam a saber com quem estão a falar e acabam por apreciar essa
honestidade.
Também afirma a imensa
capacidade dos Portugueses. Uma afirmação natural de quem teve experiência
internacional e que sabe distinguir o que temos cá dentro quando comparado com
o que existe lá fora. Reforço também por experiência própria: "o Português
não acredita em si e na sua capacidade de execução". Achamos sempre que os
outros são melhores. Temos aquilo que eu chamo, uma boa base para fazer pizza,
mas apenas nos falta, por vezes, juntar os bons ingredientes.
Como ultima nota, assume que
está preocupado com o futuro da União Europeia, e que não consegue captar
investimento estrangeiro enquanto permanecerem as dúvidas quanto ao Euro. Esta
não é uma preocupação apenas para grandes grupos, mas também para todas as PME
em Portugal. Os políticos responsáveis pelo futuro da união europeia devem
estar alerta para estes comentários, não só porque podem destruir muitos postos
de trabalho, como os podem comprometer quanto ao seu crescimento.
Em resumo, não descuide o
futuro da sua empresa, mesmo quando atravessa bons momentos; cuide do seu maior
activo, o capital humano; seja transparente e diga o que pensa e não o que é
politicamente correcto, pois trar-lhe-á benefícios a longo prazo; acredite em
si; e esteja atento às medidas tomadas pelos governantes na união europeia.
Tivemos todos a oportunidade de receber uma boa palestra do que é ser um
empreendedor exemplar, de forma totalmente inesperada. Obrigado Sr. Soares dos
Santos.
Título e Texto: Nuno Santos, Fundador e líder executivo
da Zonadvanced - Grupo First, Jornal de Negócios, 17-05-2012
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