Marianella Salazar
Mais do que qualquer mortal, o
presidente Hugo Chávez, que tem passado a vida gravitando em torno de seu
próprio ego, mal consegue enfrentar a gravidade de seu estado de saúde e
administrar com algum decoro a inevitável fase terminal de sua patologia, como
sói ocorrer com muitos pacientes diagnosticados de câncer.
Lamentavelmente, Chávez não
aprendeu a usar uma ferramenta psicológica, como o controle das emoções, que
tanto ajudaria a esse tipo de doente a encarar esta fase de extinção de seu
governo e – ao que parece – de sua própria vida.
Não faz sentido falar do tempo
perdido no cultivo de tantos inimigos, tentando aferrar-se ao poder a qualquer
custo e com ajudas inclusive dos que já passaram para o andar de cima (ou mais
propriamente, para o andar de baixo), como as almas oferecidas ao fogo do
inferno, tão diversas como as da savana de Maisanta, Kadafi, e Saddam Hussein,
e, daqueles que ainda respiram, como os guerrilheiros das FARC, Fidel e Raúl
Castro, que também carregam o pesado fardo de seu compromisso com as trevas.
Se ao invés de se abraçar com
o curandeirismo cubano ele o tivesse feito com o budismo zen e dedicasse
algumas horas à sadia prática da ioga, a estas alturas já teria se livrado desse
ego insaciável e desmedido que o convenceu ser o centro do universo e permitiu
perverter suas relações com meio país e meio mundo.
Agora, por estar tão absorto
com a gravidade de sua doença terminal, ele não pode governar nem resolver problemas
de caráter urgente, como a sua sucessão presidencial, que libertam e espalham
demônios nas Forças Armadas para lhe dar pavio à lâmpada e entre os que
aspiram a candidatura do PSUV.
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Marianella Salazar, foto: Ernesto Morgado |
Lágrimas negras
O tema de sua própria extinção
é altamente estressante para qualquer um, muito mais para um indivíduo com a
personalidade narcisista e histriônica de Chávez (segundo diagnósticos de
reconhecidos psiquiatras que têm descrito os sintomas de seus transtornos
mentais), e seu comportamento público assim se manifesta e revela seu crescente
e enorme medo da morte.
As lágrimas presidenciais que
salpicaram em cadeia nacional em 3 de abril passado, transmitidas pela TV do
Palácio Miraflores, quando promulgou a Lei Orgânica do Trabalho e designou os
membros do Conselho de Estado, demonstraram incapacidade e falta de maturidade
para encarar com fortaleza e serenidade seu previsto desenlace fatal. A mudança
do slogan revolucionário, que proclamava "Patria, socialismo o
muerte", pelo de "Patria, socialismo, venceremos", foi um
subterfúgio para tentar exorcizar o medo que lhe consome a alma só em mencionar
a palavra ‘muerte’.
Chávez sofre uma grande
depressão, não aguenta ficar de pé por mais de alguns minutos. No último fim de
semana, quando se despedia de Raúl Castro, no aeroporto José Martí, em Havana,
irrompeu em pranto.
Durante o voo de volta para
casa não falou com ninguém além dos médicos que lhe aplicaram uma injeção
tranquilizante que o fez dormir até que o avião pousou no aeroporto de
Maiquetía; desceu do avião sem ajuda, mas caminhou com dificuldade e só
conversou, muito preocupado, com o general Rangel Silva. Sua filha, Rosa
Virginia – escolhida em Cuba para lhe suceder quando desistir da candidatura,
também chorou durante a viagem como a perguntar-se o que seria da Venezuela sem
seu papai. À herdeira política espera a missão impossível de endossar os votos
do pai no próximo 7 de outubro.
Enquanto isso, a música
preferida para a maioria dos venezuelanos é o tique-taque do relógio...
Pragmatismo cruel
Os irmãos Castro vão se
desvinculando aos poucos do governo de Chávez. Começam a se acercar da oposição
venezuelana. Guillermo Aveledo já os tranquilizou ao negar que os cubanos serão
retirados das “missões”. Necessitam chegar a um acordo sobre as remessas de
petróleo e demonstram a sua inquietação quanto à possibilidade do "próximo
presidente de Venezuela ser um dos nossos prisioneiros".

E o relógio venezuelano segue
tocando... tique-taque, tique-taque...
Título e Texto: Marianella Salazar, “El Nacional”, Venezuela, 16-05-2012
Tradução: Francisco Vianna
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