Reportagens desagradam a alas
petistas, e ‘Veja’ enfrenta campanha
O Globo

A operação tem todas as
características de retaliação pelas várias reportagens da revista das quais
biografias de figuras estreladas do partido saíram manchadas, e de denúncias de
esquemas de corrupção urdidos em Brasília por partidos da base aliada do
governo. É indisfarçável, ainda, a tentativa de atemorização da imprensa
profissional como um todo, algo que esses mesmos setores radicais do PT têm
tentado transformar em rotina nos últimos nove anos, sem sucesso, graças ao
compromisso, antes do presidente Lula e agora da presidente Dilma Roussef, com a
liberdade de expressão.
A manobra se baseia em
fragmentos de grampos legais feitos pela Polícia Federal na investigação das
atividades do bicheiro Carlinhos Cachoeira, pela qual se descobriu a verdadeira
face do senador Demóstenes Torres, outrora bastião da moralidade, e, entre
outros achados, ligações espúrias de Cachoeira com a construtora Delta. As
gravações registraram vários contatos entre o diretor da Sucursal de
"Veja" em Brasília, Policarpo Jr, e Cachoeira. O bicheiro municiou a
reportagem da revista com informações e material de vídeo/gravações sobre o
baixo mundo da política, de que alguns políticos petistas e aliados fazem
parte.
A constatação animou alas
radicais do partido a dar o troco. O presidente petista, Rui Falcão, chegou a
declarar formalmente que a CPI do Cachoeira iria "desmascarar o
mensalão". Aos poucos, os tais blogs começaram a soltar notas sobre uma
suposta conspiração de "Veja" com o bicheiro. E, no fim de semana,
reportagens de TV e na mídia impressa chapas brancas, devidamente replicados na
internet, compararam Roberto Civita, da Abril, editora da revista, a Rupert
Murdoch, o australiano-americano sob cerrada pressão na Inglaterra, devido aos
crimes cometidos pelo seu jornal "News of the World", fechado pelo
próprio Murdoch.
Comparar Civita a Murdoch é
tosco exercício de má-fé, pois o jornal inglês invadiu, ele próprio, a
privacidade alheia. Quer-se produzir um escândalo de imprensa sobre um contato
repórter-fonte. Cada organização jornalística tem códigos, em que as regras sobre
este relacionamento — sem o qual não existe notícia — têm destaque, pela sua
importância. Como inexiste notícia passada de forma desinteressada, é preciso
extremo cuidado principalmente no tratamento de informações vazadas por fontes
no anonimato. Até aqui, nenhuma das gravações divulgadas indica que o diretor
de “Veja” estivesse a serviço do bicheiro, como afirmam os blogs, ou com ele
trocasse favores espúrios. Ao contrário, numa das gravações, o bicheiro se
irrita com o fato de municiar o jornalista com informações e dele nada receber
em troca.
(…)
Título e Texto: Editorial de “O Globo”, 08-05-2012
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