terça-feira, 5 de junho de 2012

A cidade fantasma

A cidade continua a ter um rio magnífico e uma luz maravilhosa. Foto: Rodrigo Cabrita
Luís Menezes Leitão
Em 1910 André Brun escreveu: “Há, a um canto da Europa, um país chamado Portugal, à beira-mar plantado, o qual se divide em duas partes: a Baixa e a província. A província que começa no Largo das Duas Igrejas, na Rua das Pretas e na Rua da Prata, estende-se para um lado, para um Minho longínquo.” Se escrevesse hoje, chegaria à conclusão que a Baixa também fazia parte da província, com o Terreiro do Paço transformado num hipermercado. Não sei se a câmara achou o evento adequado ao cavalo de D. José, pensando que ficaria melhor enquadrado no meio de palhas, frutas e legumes. O próprio rei deve estar, porém, a dar voltas no túmulo com esta situação.
Com as limitações de trânsito no Terreiro do Paço, o mesmo está transformado hoje num deserto. O melhor é por isso concessioná-lo a uma empresa comercial, privatizando assim um símbolo de Lisboa. Provavelmente o mesmo vai acontecer com o Marquês de Pombal onde, com as duas rotundas previstas, os lisboetas ficarão tontos de tanto andar à roda, podendo assim o mesmo ser igualmente concessionado.
Esta câmara está a destruir Lisboa. Cada vez há menos residentes, os seus edifícios estão desertos, incluindo os da câmara, e aumentam as restrições à circulação. Pelos vistos o interesse da câmara é gerir uma cidade fantasma. De facto, sem pessoas, há mais espaço para estes eventos comerciais.
Título e Texto: Luís Menezes Leitão, jornal “i”, 05-06-2012

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