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Fidel Castro e Luiz Inácio Lula da Silva, Cuba, fevereiro 2010. Foto: Ricardo Stuckert/Presidência |
Caro Chico,
Não
concordo com alguns aspectos de sua análise. Vai em azul intercalando seu
texto.
Otacílio,
Lamentavelmente,
tenho que concordar contigo. Mas existe muita insatisfação em Cuba e também
muito 'complexo de vira-latas', quando o povo sente que o que há de bom na ilha
está reservado apenas para turistas estrangeiros (e para os membros da reduzida
burguesia estatal do politiburo socialista).
E
por que se acomodam com este estado de coisas que já dura há mais de 50 anos? Que
insatisfação é esta que não se transforma em revolta?
Não
acho que seja insatisfação, mas sim, covardia. Um homem quando sente que tem um
opressor, ou mata o opressor ou o opressor o mata. Não dá para oprimido e
opressor viverem juntos. A independência dos Estados Unidos, conquistada
através de uma sangrenta guerra contra a Inglaterra, aconteceu por causa da
opressão que o império britânico exercia sobre as suas colônias na América do
Norte. A diferença está na qualidade humana dos que fizeram a guerra pela
independência dos Estados Unidos e dos que se acomodam sob a tirania do regime
comunista cubano.
É claro
que os cubanos endinheirados que estão na Flórida só voltariam para a ilha caso
o regime dos Castros fosse varrido do país e o regime que o substituísse lhes
dessem sobejas garantias jurídicas de estar inserido no sistema financeiro
global, MESMO QUE CONTINUASSE DE CARÁTER AUTORITÁRIO.
Nenhum
regime de caráter autoritário merece o respeito de quem tem dignidade e auto
respeito. Há uma realidade que muitos não percebem: a maioria das pessoas já
nasceu fracassada e por por isto tão poucos são ricos. Defeito de fabricação.
Poucos se dispõem a pagar o preço do sucesso, que é muito alto. A mesma coisa
acontece com países. Cuba, assim como o Brasil, já nasceram fracassados.
O que me
pergunto é se há homens em Cuba que possam liderar tal reviravolta política
para propiciar tamanha recuperação econômica, uma vez que o povo em si não é
capaz de ajudar em nada que isso ocorra.
Não,
não há ninguém em Cuba capaz de liderar um movimento no sentido de mudar o
regime. Cuba vai acabar como o Haiti. Aliás, já está quase como o Haiti.
No Brasil,
a coisa já é um pouco diferente, embora a raíz do problema seja a mesma, ou
seja, a baixa qualidade da cidadania. Pelo menos, aqui, há homens que podem
liderar mudanças, como ocorreu em 1964, oportunidade de ouro perdia pelos
patrícios para lançar as bases de uma democracia meritocrática e de um sistema
econômico capaz de fomentar a agregação de valor à exportação e privilegiar a
universidade, à educação e ao ensino.
É
ai que você está mais enganado. O Brasil se transformou num valhacouto de
canalhas e toda a culpa pelo que hoje acontece pode ser debitada aos militares
que tomaram o poder em 1964. O que fizeram eles? Criaram uma verdadeira
democracia capitalista? Qual nada! Estatizaram o país de modo a deixar os
soviéticos morrendo de inveja. Fecharam o país ao comércio exterior imaginando
que a xenofobia doentia e o nacionalismo provinciano iriam transformar o Brasil
numa potência econômica às suas próprias custas. Foram bonzinhos com os
comunistas em plena guerra fria quando os comunistas lutavam para dominar o
mundo.
Quem
você acha que no Brasil atual, dominado pelo capital internacional, teria
coragem de liderar um movimento para mudar o estado deplorável de imoralidade
em que o país está mergulhado? Nem os poderes místicos seriam capazes de tal
façanha. Os militares? Fala sério! Militar tem a cabeça quadrada e hoje estão
muito bem pagos para ficarem quietos e calados. Essa história de que militar é
patriota, ama o Brasil a ponto de defendê-lo com o sacrifício da própria vida é
conversa para boi dormir. E você tem que admitir que os militares de hoje não
são os de ontem. Castelo Branco e Emílio Médici morreram faz tempo. Os de hoje
são meros guardiões desse regime prostituído que o Lula instituiu. São lacaios
desse regime apodrecido.
Me
aponte um homem sequer, ou um grupo de homens que tenha coragem nesse país de
merda de mudar o rumo dessa situação calamitosa em que está mergulhado o
Brasil.
Resta saber
se esses homens estão dispostos ou não em entrar na luta para tanto.
É,
resta saber se esses homens... Mas que homens, Chico? Eu tenho que rir!
Abração,
CHICO
Abração,
Otacílio![]() |
Encontro de Lula e Fidel aconteceu em uma casa. Foto:
Ricardo Stuckert/Presidência
Fonte: G1
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Linda casa, Fernandinho! É padrão em Cuba?
Caro, Jim,
ResponderExcluirInfelizmente, segundo o nosso amigo Otacílio - australiano por opção -, em seu realismo deceptivo, não há nada a fazer com o Brasil, a nao ser destruir e começar de novo, ou simplesmente buscar outro lugar decente para se viver. É possível que ele tenha razão, mas para quem está aqui, a opção é lutar, é tentar transformar a bosta em creme de cheiro, buscar a construção de uma sociedade melhor e mais preparada para desempenhar um papel de principal potência mundial. Pode ser que não consigamos, pode ser que consigamos apenas uma melhora discreta. Mas o que não podemos fazer é deixar de tentar. Os argumentos do Otacílio, a quem prezo muito, são poderosos e históricos e lhe alicerçam as convicções que sedimentou a respeito de sua terra natal. Só espero que, um dia, que acredito não estarei aqui para ver (nem ele) esse panorama sombrio possa ter mudado para melhor. Para tanto, a nossa ação de hoje será fundamental. É isso ou ir embora para outro país...
Caro Chico, efetivamente concordo, particularmente, com esta sua assertiva:
ResponderExcluir"É possível que ele tenha razão, mas para quem está aqui, a opção é lutar, é tentar transformar a bosta em creme de cheiro, buscar a construção de uma sociedade melhor e mais preparada..."
No entanto, o que mais aprecio na prosa de Otacílio é o desassombro! Julgo que essa é uma forma de luta, mais eficaz, de tornar o Brasil o que ele merece ser. Quero dizer, só chamando as coisas pelos seus nomes, sem contemplação e sem medo de ser feliz, pode causar reação. Penso que já passou da hora da auto indulgência e da auto complacência, tipo, como ainda leio (não ouço, porque não moro no Brasil) "Ah, mas o Rio é lindo", "Amo o meu Brasil", "em todo o mundo é assim", "também tem assaltos em Nova Iorque, etc..." ... porque, caro Chico, se auto indulgência e a auto complacência não estivessem tão arraigadas o Brasil não estaria desse jeito, onde a degradada qualidade de vida - favelas - é acariciada e protegida e serve para propaganda turística! e outros exemplos...
Enfim, se já estão arraigadas, cabe a uns poucos, como vocês, impedir que se transforme em DNA, se é que me entende...
Grande abraço./-