O homem mais rico do Brasil
está apostando em recursos naturais e infraestrutura. Será que vai se dar bem?
The Economist
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Foto: Reuters |
Sair em campo vendendo seguros
de porta em porta não é uma tarefa fácil. Ninguém gosta de ter o almoço
interrompido por um estranho que vem com estórias de acidentes e de morte. Um
vendedor tem que acreditar no que vende para suportar ver as portas se fecharem
na sua cara e continuar em frente. Este foi o batismo de fogo de Eike Batista.
Ele entrou na faculdade em 1970 apenas por futilidades políticas. Mas, as
habilidades que ele aprendeu a dominar lhe foram muito úteis desde então.
Batista (na foto, partilhando
os holofotes com a presidente Dilma, acabou desistindo do seu curso de
engenharia e deixou a Alemanha para voltar a sua terra natal, o Brasil. Comprava
ouro de garimpeiros fora da lei na Amazônia e vendia-o no Rio de Janeiro, e,
aos 25 anos de idade já tinha ganhado 6 milhões de dólares. Pediu mais dinheiro
emprestado e perdeu a maior parte dele comprando máquinas pás-carregadeiras na
tentativa de mecanizar sua mina adquirida na floresta. Alimentos, combustível e
equipamento, tudo teve que ser levado de avião para lá. Seus mineiros ficavam
doente, uns de malária e outros de desnutrição e de infecções e acidentes
diversos. Finalmente, sua mina começou a produzir. Hoje ele faz piada dizendo
que a vida lhe ensinou a “manter seus negócios à prova de idiotas”, de onde tem
margens de lucro tão altas que até mesmo grandes contratempos podem ser superados.
Então ele comprou mais minas
no exterior. Já em 1986, ele era o diretor de uma mineradora de ouro canadense
que cresceu até valer a saborosa quantia de 1,7 bilhão de dólares. Em 2001,
problemas legais na Rússia e na Grécia reduziram esse valor para bilhão e Batista
pediu demissão para voltar para casa e, no Brasil, voltar a vender novos
sonhos.
A partir de 2004, Eike Batista
criou e listou cinco empresas: a MPX (geração de energia); a MMX (mineração), a
LLX (logística); a OGX (petróleo e gás) e a OSX (construção naval). Uma sexta,
um de seus poucos bens não brasileiros, uma mina de carvão na Colômbia, estava
para ser desmembrada da MPX em 25 de maio último.
Juntamente com quatro empresas
não cotadas, uma de entretenimento, uma de metais preciosos, uma de tecnologia
da informação e uma de propriedades, elas compõem o império EBX (Eike Batista
X, com o X supostamente a representar sua “multiplicação” de riqueza). Delas,
só umas poucas já deram lucros consideráveis. Algumas delas foram listadas antes
que se tornassem muito mais do que uma ideia. Mas vender bens em potencial o tornou
o homem mais rico do país e o sétimo mais rico do mundo, que lhe rendeu uma estimada
hoje em 30 bilhões de dólares. Isso é mais do que Mark Zuckerberg ganhou com o
seu Facebook. Eike Batista diz que não ficará satisfeito até que arrebate o
primeiro lugar de Carlos Slim, o magnata mexicano das telecomunicações.
O que Eike Batista pensa do Brasil
O império EBX reflete o
entendimento de Eike Batista sobre os ‘pontos fortes e fracos’ do Brasil. O
país tem minerais em abundância e ele os extrai para vendê-los ao Brasil e ao
mundo. Ele também tem uma infraestrutura acanhada. Não acanhada como um biquíni
de Copacabana, mas muito leve para ser usada num lugar tão grande: daí a fila
de navios em marcha lenta passando em frente às praias do Rio de Janeiro, à
espera de uma vaga em seu sobrecarregado e pouco eficaz porto.
Eike Batista pretende
construir estradas, ferrovias, portos, navios e refinarias para mudar a
situação de minérios do Brasil no mercado global. Também está construindo
usinas termelétricas a funcionarem alimentadas por seu próprio gás e carvão.
Foi a OGX, empresa de Eike
Batista de petróleo e gás, que o impeliu ao do círculo dos ricos para o dos
super-ricos. Ele a fundou em 2007, poucos meses antes do gigantesco monopólio
petrolífero do Brasil, a Petrobras, ter anunciado a possibilidade de exploração
das enormes reservas de petróleo offshore
conhecidas por “pré-sial” (ou "sub-sial") – erroneamente chamadas de
‘pré-sal’.
Alguns blocos-lotes
promissores foram conseguidos por leilões no final daquele ano – por informação
privilegiada Petrobras, através de Paulo Mendonça, seu recentemente aposentado
chefe de prospecção e exploração, que deu a dica para que a OGX fizesse os
lances para adquirir os lotes, entre os que ainda estão em oferta. Ele adquiriu
21 deles, a maioria em águas rasas. Desde então, o Brasil deixou de leiloar
qualquer novo campo offshore,
deixando a OGX como a maior empresa privada de petróleo no país. Sua lista de
empresas de 2008 arrecadou 4,3 bilhões de dólares, na época um recorde para o
Brasil.
Com seu escritório instalado no
22º andar da sede da EBX, no Rio de Janeiro, com vista para um cartão postal da
cidade, o Pão de Açúcar, Eike Batista se auto-descreve como um "labrador catador
de trufas pelo faro”. Os garimpeiros tipicamente bateiam em cerca de 17.000
lugares em todo o país para encontrar ouro – diz ele – mas, em seus dias de
garimpagem ele teve sorte oito vezes. Talvez 85% dos poços de teste da OGX encontraram
petróleo, também chamado de ‘ouro negro’.
No depósito de petróleo da
OGX, em Waimea no Havaí, EUA, a empresa descobriu poços que entraram em produção
em apenas dois anos, um recorde mundial. Os primeiros 1,2 milhão de barris foram
vendidos para a Shell em março último. E, ao contrário da Petrobras, que é a
única operadora na região do pré-sial, os custos de produção da OGX são 20%
mais baixos dos custos globais.
A EBX tem ativos em nove
estados brasileiros. Mas é no Porto de Açu, no estado do Rio, que a visão de
Eike Batista sobre o novo Brasil, se torna mais verificável. A ideia original
era construir um terminal offshore
através do qual pudesse exportar minério de ferro de sua mina ‘Minas-Rio’.
Depois que foi vendido, em 2008, para a Anglo-American,
o projeto cresceu com uma joint venture
com essa gigante da mineração mundial.
Eike Batista então começou a
pensar em horizontes maiores. Com 70% do PIB do Brasil no sul e no sudeste, por
que não acrescentar um terminal de contêineres para competir com os caros e
lotados portos da região? Então, vieram as possibilidades de exploração das
vastas reservas de óleo do pré-sial e os planos se expandiram mais uma vez,
para incluir um complexo industrial de instalações de manuseio de petróleo e um
estaleiro capacitado a lidar com navios petroleiros.
Agora LLX (logística) está
tentando chegar a um acordo com a Vale, a maior empresa de mineração do Brasil,
para reconstruir uma estrada de ferro em ruínas que passa nas proximidades, e, tenta
persuadir o governo em melhorar as estradas locais. Uma nova cidade será
construída para abrigar os trabalhadores ("a Veneza dos trópicos", como
Eike Batista gosta de chamá-la, mas para todos os outros o nome que usa é
"Eikelândia").
Os primeiros carregamentos de
minério de ferro estão programados para 2013, e ambos os terminais devem estar
prontos até o final desse ano. Em 2015, se tudo correr conforme o previsto, Açu
será o terceiro maior complexo portuário do mundo, movimentando cerca de 350 milhões
de toneladas de carga por ano.
Todo cuidado é pouco na compra dos locais
O governo brasileiro insiste
em que as operadoras de petróleo e de gás tenham que comprar a maioria dos
equipamentos que precisam de fabricantes nacionais que têm preços
superfaturados. Este é um fado pesado a Petrobras, que precisa de um
sofisticado conjunto de brocas e ferramental para perfurar milhas abaixo do
fundo do oceano, e uma grande razão pela qual os preços das suas ações têm definhado
nos últimos anos. Mas, segundo Eike Batista, “a regra é necessária para
promover o desenvolvimento industrial do país". “Você acha que o Brasil
pode perder essa chance e deixar de construir uma indústria naval”? – pergunta
ele. “Mesmo que isso aumente os custos da OGX em até 50%”, diz ele, “pois tais campos
de petróleo ainda vão me fazer ganhar muito dinheiro”.
Enquanto isso, outras partes
de seu império estão tirando vantagem de regras locais. A OSX (construção
naval) irá fornecer navios e plataformas para a OGX e Eike Batista espera que a
Petrobras também o faça. Ele aponta para outras possibilidades de cooperação
com o seu concorrente gigante: talvez ele venha a atracar seus navios em seu próprio
porto e a usar sua fábrica de tratamento de petróleo. É crucial para os planos
da LLX (logística) que a expectativa de que os fornecedores globais, obrigados a
criarem subsidiárias no Brasil, se quiserem uma fatia da bonança do petróleo, seja
a de escolher o complexo de Açu, onde, como um bônus, eles terão de enfrentar
os impostos estaduais de vendas de 2 % em vez de 18 %, um resquício da história
de pobreza da região.
Eike Batista credita parte de
seu sucesso ao seu pai, que o empurrou cedo para fora do ninho. Durante os anos
1980 e 1990, quando o Brasil sofria uma hiperinflação e lutava para pagar suas
dívidas externas, Eliezer Batista, seu pai, que em duas oportunidades tinha
sido presidente da antiga Vale do Rio Doce, hoje VALE, entre 1961 e 1986, por um
breve período foi também ministro de Minas e Energia. O filho pensava, então, como
muitos de seus compatriotas, que talvez não conseguisse fazer o ele que fez.
Garimpar ouro pelo mundo afora deu ao então rapaz Eike a dureza necessária para que cumprisse o seu
destino. Mas ele refreia qualquer sugestão de que seu pai tenha forneceu
qualquer apoio mais concreto, como dizer ao ‘labrador’ onde e como farejar. “Nada
me foi dado de graça”, diz ele. Suas concessões de mineiras foram compradas ou
reivindicadas nos termos que estavam disponíveis para todos os demais eventuais
interessados e, também, os seus blocos petrolíferos. "Eu aposto contra a
Petrobras, a Exxon, a Shell, e todos os ‘meninos grandes’, e eu pago um bilhão
de dólares", diz ele. Ele é sensível demais à sugestão de que ele tenha
herdado seu talento da Petrobras. Eles se aposentaram foram recontratados,
insiste ele.
Eike Batista não é um
capitalista de compadrio, nem um self-made-man,
mas algo situado no meio disso, diz Sérgio Lazzarini do INSPER, uma escola de
negócios de São Paulo. Parte do seu sucesso é devida à sua visão e ousadia, mas
ele também tem dominado a habilidade de desenvolver e construir se beneficiando
das ligações que possui e cultiva dentro do governo. Lazzarini destaca a
generosidade estratégica de Eike Batista, que gastou uma nota num ‘filme
biográfico lisonjeiro’ sobre o presidente anterior, Luiz Inácio Lula da Silva; uma
oferta de 12 milhões de reais para ajudar na bem-sucedida oferta do Rio de
Janeiro em sediar as Olimpíadas em 2016 e mais alguns milhões para equipar a ‘polícia
pacificadora’ das favelas do Rio de Janeiro. E independentemente de se a
estrutura do conglomerado EBX faz sentido quanto a sua operacionalidade,
certamente ela vai ajudar a obter um retorno considerável por ‘investimentos’.
"Elos criados numa área de operações podem ser reutilizados em outras",
diz Lazzarini.
Distribuição do império de Eike Batista
Uma crítica comumente feita
aos cochichos a Eike Batista é a de que ele é, na verdade, um vendedor muito
bom. Criando bochicho diretamente através da cadeia de fornecimento de petróleo
e gás viu o quão essencial isso foi para ele conseguir que as empresas se
preparassem para o aumento da produção e, portanto, para fazer os grandes
planos de Eike Batista serem concretizados, disse Lucas Blender da ‘Geração
Futura’, uma empresa corretora da bolsa. Mas os detratores do Sr. Eike Batista o
relegam como sendo a única pessoa, além de Bill Gates, a ter feito bilhões,
como no caso do Windows.
Sua tendência para ir ao
mercado logo após o desenvolvimento de um conceito pode certamente errar o tiro.
Logo depois do anúncio de 2010 da OSX, braço de construção naval da EBX, o Ministério
do Meio Ambiente do Brasil recusou-lhe a permissão para construir um estaleiro
no sul do estado de Santa Catarina, que havia sido descrito no prospecto como cerne
dos planos da empresa. Eike Batista retrocedeu e mudou seu estaleiro planejado
para Açu. Mas o revés alimentou dúvidas sobre sua capacidade de manter as suas
promessas brilhantes.
Em março, a revista ‘Época
Negócios’, brasileira de circulação mensal, colocou Eike Batista na sua capa,
com o subtítulo: "E aí, Eike, para onde você vai enviar suas mercadorias"?
Isso provocou um frenesi de mensagens de seus 865.000 seguidores no Twitter. "E
aí, ‘Época Negócios’, quando é que vai entregar um relatório consistente com os
fatos”? – disse uma delas. Em outra, o autor avisou a ‘Época’ para não pedir o
acesso novamente.
Eike Batista diz que já despachou
muita mercadoria aos seus compradores. A EBX – promete ele – vai gerar 1 bilhão
de dólares em EBITDA deste ano, aumentando para 10 bilhões até 2015. Quanto à
ideia de que por trás de seu carisma, há pouca substância, ele assinala os
vários tipos de cabeças duras que leram até o fim os seus livros e acabaram
como seus parceiros. Em 2010 as Indústrias Pesadas ‘Hyundai’, uma empresa de
construção naval da Coreia do Sul, adquiriu uma participação de 10 % na OSX. Em
janeiro deste ano, uma empresa alemã de energia, assinou uma joint venture com a MPX. Em março, a MUDABALA,
um fundo soberano de Abu Dhabi, comprou 5,63% da EBX por 2 bilhões de dólares.
Muitos de seus ativos, assinala, foram confirmados por autoridades reguladoras
independentes e todas as suas empresas públicas estão listadas no Novo Mercado,
o segmento de mercado de valores de São Paulo com os mais altos padrões de
informação e transparência.
Vai ser difícil para Eike
Batista, levar a cabo tudo o que prometeu, afirma Blender, mas este é o preço a
ser pago por ter que encaixar tantas peças do quebra-cabeças desse monte de
empresas de mercadorias e de logística do Brasil. No mês passado, a IBM comprou
uma participação de 20% na SIX Automação, subsidiária da EBX tecnologia de
serviços, e assinou um contrato para executar todas as operações de TI da EBX
para a próxima década. O objetivo, diz Rodrigo Kede, da IBM Brasil, é gerenciar
as necessidades do conglomerado de computação durante um período de rápido
crescimento, e para melhorar a eficiência. "Uma ideia que estamos
trabalhando é a de um modelo preditivo para a manutenção de plataformas de
perfuração”. "Outra é a utilização de ‘Smarter
Cities’ da IBM, a tecnologia para planejar e gerenciar as áreas
residenciais que crescerão em torno dos portos da LLX”.
Segundo a revista VEJA, uma
revista semanal brasileira, o modelo recém-criado de milionários do Brasil é o
de Batista. Depois de tanto tempo em crise econômica, os empresários brasileiros
precisavam de um impulso de confiança, diz ele.
Outra razão pela qual o Eike Batista
faz publicidade é a de incentivar – ou vergonhar – outros brasileiros ricos a doar
parte de seu lucro, afirma. Eike Batista está pagando para limpar a fedorenta
Lagoa Rodrigo de Freitas no Rio de Janeiro, mas "onde estão os outros
bilionários? Por que não adotam um lago”?
Perguntado sobre o que mais o
preocupa, primeiro, ele diz que é o aumento dos custos trabalhistas, mas depois
muda de ideia. As pessoas estão sempre perguntando do que é que ele tem medo,
mas ele não pode pensar em nada que o atemorize. "Dê-me tempo. Deixe-me
trabalhar", diz ele. Ele fez o suficiente para convencer os investidores a
dar-lhe mais tempo. Mas, mais cedo ou mais tarde, o vendedor do Brasil terá que
cumprir grande parte do que prometeu.
Título e Texto: Editorial do ‘The Economist’ – Tradução: Francisco Vianna
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