segunda-feira, 18 de junho de 2012

Imprensa, Indigenismo e conflito

À direita da estrada vicinal, na Terra Indígena do Panambizinho, em Mato Grosso do Sul, as lavouras perderam espaço para o mato e o lixo. Ao lado,em uma propriedade particular, a terra fértil permite a produção de milho, arroz e soja.

Valfrido Chaves
Semana passada foi rica quanto ao papel da imprensa em informar e discutir questões relevantes da sociedade, tal como se viu na “Veja” e no “Correio do Estado” de quinta, 14 de junho. Com a reportagem “Adivinhe qual é a terra dos índios”, a revista pôs o dedo na ferida apontando para a decadência social das comunidades indígenas com terras ou sem terras e o triste papel do Cimi nos conflitos quando, juntamente com a Funai, pareceriam tentar encobrir o fracasso da política indigenista estatal e ongueira, quando fazem do fator “terra” a causa única da desagregação social indígena. E pior, parecem aliar-se para encobrir a responsabilidade do Império, da República, do Estado brasileiro e de governos na colonização e povoamento de nosso MS, tentando fazer dos colonizadores e proprietários, bodes expiatórios e inimigos das comunidades indígenas. Esse talvez seja um dos maiores crimes no contexto do “conflito indígena” onde, conforme “Veja”, ”o Cimi incita os índios a invadir terras para avançar em seu objetivo de criar a “nação Guarani” que seria independente do Estado brasileiro”. Outro aspecto relevante levantado por Veja é o de que “No processo de demarcação de terras, a Funai atua como se detivesse os três poderes: emite as instruções normativas como poder legislativo; demarca como poder executivo e, apesar de ser parte interessada, é a instância de recursos administrativos.” As entidades citadas parecem buscarem, através do conflito, segregar o índio, afastá-lo da sociedade em geral, apesar de, aqueles apoiados por fazendeiros no trabalho com a terra, progredirem econômica e socialmente. Quando se sabe haver uma ideologia baseada na idéia de que “o conflito é o motor da história”, os direcionamentos para o conflito, um aparente absurdo, tornam-se compreensíveis, caro leitor. Já a matéria do Correio “ MS lidera violência...” se propõe menos conclusiva ou opinativa, mas traz as estatísticas que expõe a desagregação social e familiar da população tutelada e manipulada. Mostra-nos que a taxa de homicídios nas comunidades segregadas é quatro vezes maior que a taxa nacional e, quase sempre vemos, essa mortandade entre os índios é repassada à mídia como “assassinato de índios” “que enfrentam uma verdadeira guerra contra o agronegócios”. Com esta maliciosa desinformação, os desavisados pensam em “capangas”, mortes encomendadas, e não na desagregação famíliar engendrada sob uma tutela incompetente, promotora consciente de ócio e ódios. Qualquer pessoa entende que, se índios e não índios se unissem para cobrar do Estado brasileiro uma solução que abrigasse à dignidade de ambas as comunidades “em conflito”, o problema há muito não existiria. Entretanto, leitor, o impasse perverso se explica bem à luz do sublime mandamento marxista: “...destruir de todas as formas, todas as seguranças e todas as garantias da propriedade privada até aqui existentes”. Enfim, leitor, como negar os fatos?
Título e Texto: Valfrido M. Chaves, Psicanalista, 18-06-2012

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