quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Japão: A Grécia da Ásia

Cesar Maia   
(Anne Seith – Der Spiegel – Estado de SP, 12)
1. Os olhares do mundo financeiro estão voltados para a Grécia e para outras nações da zona do euro extremamente endividadas. Entretanto, a situação do Japão é ainda pior. O montante da dívida do país é imenso e não para de crescer, a ponto de o país precisar gastar 25% do orçamento somente para o seu serviço. Durante anos, a terceira maior economia do mundo se manteve, sem o menor remorso, tomando dinheiro emprestado mais do que qualquer outro país. Nas últimas décadas, os governos japoneses foram acumulando dívidas de cerca de US$ 14,6 trilhões, o que corresponde a 230% do Produto Interno Bruto, nível de endividamento muito superior aos 165% da Grécia.   
2. Esses gastos desenfreados transformaram o Japão numa bomba relógio - e num exemplo que pode servir de lição para a Europa. O Japão, o país do milagre econômico do pós-guerra, nunca conseguiu se recuperar do colapso da bolsa e da crise imobiliária que convulsionou o país nos anos 90. O governo foi obrigado a ajudar os bancos; as seguradoras faliram. Desde então, as taxas de crescimento anuais têm sido frequentemente insignificantes e a receita com impostos não chega a cobrir a metade dos gastos governamentais. Na realidade, o país se encontra numa espiral inexorável de gastos deficitários. 

Imagem: Adisak Banpot/ Dreamstime.com
3. O fato de essa tragédia desenrolar-se em relativo segredo pode ser atribuído a um fenômeno bizarro: contrariamente às economias carregadas de dívidas da zona do euro, o Japão continua não pagando juros sobre o que toma emprestado. Por exemplo, enquanto a Grécia teve de encarar juros de dois dígitos, os do Japão chegaram a apenas 0,75%. A própria Alemanha, a economia mais saudável da zona do euro, paga mais. Dinheiro sem fim. O motivo é simples: ao contrário dos países da zona do euro, em geral o Japão toma emprestado do próprio povo. Bancos e seguradoras nacionais adquiriram 95% da dívida soberana do país usando depósitos de poupança da população em geral. Além disso, os japoneses estão aparentemente tão convencidos de que, um dia, o país conseguirá saldar sua dívida que continuam emprestando ao governo uma quantidade aparentemente infinita de dinheiro. 
4. "Se o Japão for obrigado a procurar investidores no exterior, uma crise da dívida será inevitável", afirma Jörg Krämer, principal economista do Commerzbank, segundo maior da Alemanha. O presidente do Banco do Japão (Banco Central), Masaaki Shirakawa, desistiu das políticas monetárias disciplinadas que seus colegas ocidentais pregam. Shirakawa mantém as máquinas de imprimir dinheiro funcionando para estimular a economia. Desde 2011, o banco lançou programas de emergência de aproximadamente 900 bilhões. Em comparação, os fundos de ajuda financiados pelos 17 países-membros da zona do euro somam apenas 700 bilhões.
Cesar Maia, 16-01-2013

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