Cesar Maia
(Anne Seith – Der Spiegel – Estado
de SP, 12)
1. Os olhares do mundo financeiro estão voltados para a
Grécia e para outras nações da zona do euro extremamente endividadas.
Entretanto, a situação do Japão é ainda pior. O montante da dívida do país é
imenso e não para de crescer, a ponto de o país precisar gastar 25% do
orçamento somente para o seu serviço. Durante anos, a terceira maior economia
do mundo se manteve, sem o menor remorso, tomando dinheiro emprestado mais do
que qualquer outro país. Nas últimas décadas, os governos japoneses foram
acumulando dívidas de cerca de US$ 14,6 trilhões, o que corresponde a 230% do
Produto Interno Bruto, nível de endividamento muito superior aos 165% da
Grécia.
2. Esses
gastos desenfreados transformaram o Japão numa bomba relógio - e num exemplo
que pode servir de lição para a Europa. O Japão, o país do milagre econômico do
pós-guerra, nunca conseguiu se recuperar do colapso da bolsa e da crise
imobiliária que convulsionou o país nos anos 90. O governo foi obrigado a
ajudar os bancos; as seguradoras faliram. Desde então, as taxas de crescimento
anuais têm sido frequentemente insignificantes e a receita com impostos não
chega a cobrir a metade dos gastos governamentais. Na realidade, o país se
encontra numa espiral inexorável de gastos deficitários.
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Imagem: Adisak Banpot/ Dreamstime.com |
3. O
fato de essa tragédia desenrolar-se em relativo segredo pode ser atribuído a um
fenômeno bizarro: contrariamente às economias carregadas de dívidas da zona do euro,
o Japão continua não pagando juros sobre o que toma emprestado. Por exemplo,
enquanto a Grécia teve de encarar juros de dois dígitos, os do Japão chegaram a
apenas 0,75%. A própria Alemanha, a economia mais saudável da zona do euro,
paga mais. Dinheiro sem fim. O motivo é simples: ao contrário dos países da
zona do euro, em geral o Japão toma emprestado do próprio povo. Bancos e
seguradoras nacionais adquiriram 95% da dívida soberana do país usando
depósitos de poupança da população em geral. Além disso, os japoneses estão
aparentemente tão convencidos de que, um dia, o país conseguirá saldar sua
dívida que continuam emprestando ao governo uma quantidade aparentemente
infinita de dinheiro.
4. "Se
o Japão for obrigado a procurar investidores no exterior, uma crise da dívida
será inevitável", afirma Jörg Krämer, principal economista do Commerzbank,
segundo maior da Alemanha. O presidente do Banco do Japão (Banco Central),
Masaaki Shirakawa, desistiu das políticas monetárias disciplinadas que seus colegas
ocidentais pregam. Shirakawa mantém as máquinas de imprimir dinheiro
funcionando para estimular a economia. Desde 2011, o banco lançou programas de
emergência de aproximadamente 900 bilhões. Em comparação, os fundos de ajuda
financiados pelos 17 países-membros da zona do euro somam apenas 700 bilhões.
Cesar Maia, 16-01-2013
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