terça-feira, 14 de janeiro de 2020

O Rio e seu recorrente suicídio urbano

Washington Fajardo


Produtores de festas, promoters de megablocos e de eventos privados mandam na cidade do Rio de Janeiro sempre com a defesa de que trazem recursos para a cidade. Mentira. Festas/blocos fechados, cercadinhos no réveillon, megablocos no espaço público são operações de MARCAS.

Parte inferior do formulárioEstas marcas, brands, negócios, produtos, e suas celebridades, agentes, executivos etc. ganham muito dinheiro e não trazem tantos benefícios públicos. Ou são eventos de consumação fechada ou funcionam com operadores exclusivos. São eventos para convidados. São eventos de massa para veicular produtos e consumo. Nem criam tantas oportunidades, nem tantas dívidas trazem. Isso virou uma praga no Rio. Recursos públicos são disponibilizados para organizar e montar tais “festividades”.

É uma ideia de desenvolvimento turístico totalmente equivocada pois é baseada no CONSUMO da cidade e não na imersão na urbanidade do Rio. É a lógica da cidade à venda ao invés da promoção da cidade que acolhe, estimula e fornece cultura.

Marcas e promoters lucram muito. E se o evento dá errado, como aconteceu neste domingo, 13/1, no Bloco da Favorita, o ônus é todo público.

Desordem, quebra-quebra, destruição de patrimônio e o caos no espaço público são DANOS À REPUTAÇÃO DO RIO que geram desinvestimentos, afastam visitantes e consolidam a fama de cidade decadente e sempre em DESORDEM.

Lembremos o caos do carnaval de 2018 e suas imagens de inferno urbano que motivaram a intervenção federal na segurança pública da cidade.

Cariocas precisam abandonar o discurso fácil de farra e algazarra e exigir mais ordem na alegria pois é possível. Ministério público precisa investigar a relação entre promoters poderosos, marcas e autoridades públicas.

A imagem do Rio é muito preciosa e cada segundo de caos urbano vai circular pela imprensa do país e do mundo. Melhorar uma reputação urbana é muito difícil e leva tempo. Estas marcas privadas lucram e a marca pública “Rio” é destruída.

O carioca precisa refletir. Basta de nos vangloriarmos de vivermos num lugar “da beleza e do caos”. É um comportamento urbano suicida.

Copacabana é o bairro da cidade com a maior concentração de população idosa, então por que todo mundo quer fazer foto aérea dos seus eventos na paisagem do bairro, mas ninguém quer cuidar ou conservá-lo?

A festa deles acabou e a bagunça agora é nossa.

Chega de confusão no Rio. Chega de achar que extroversão é sinônimo de desorganização.
Não somos uma cidade de final de semana; somos uma metrópole com história de séculos e que precisa funcionar bem todos os 365 dias do ano.
Título e Texto: Washington Fajardo, Arquiteto e urbanista, Diário do Rio, 13-1-2020, 11h20

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