José Mendonça da Cruz
Há factos, afirmações, dados
que desencadeiam nos jornalistas a vontade de investigar. Essa vontade não tem
como baias a oportunidade, a conveniência, os eventuais incômodos que a informação
possa suscitar. O jornalista quer apenas informar, deixar que as pessoas saibam
de factos confirmados, e que ajam como entenderem com base na informação. O
jornalista não é um apóstolo do governo; não é a guarda de defesa avançada de
círculos a quem os factos possam prejudicar; o jornalista não é um sabujo nem
um cãozinho amestrado. Mas alguns, que se dizem jornalistas, são.
Por exemplo: perante a notícia
de que x pessoas foram «detidas por desobediência», qualquer jornalista
minimamente honrado e brioso quereria saber pormenores dessa tal detenção,
seriam os mínimos do jornalismo: quem é detido, onde, porquê, em que condições,
sujeito a que processo, com que consequências, o que acontece depois, há multa,
quanto?, etc.
Acontece que as redações das
nossas televisões têm a curiosidade muito embotada, ou por servilismo ou por
estupidez. Não há qualquer esclarecimento sobre as detenções. Mas há, como na
Tvi, peças sobre a clausura que terminam com sentenças do género: «É para o bem
do próprio e da sociedade». E há, como na mesma estação, quem, depois de ouvir
acusações de incúria sobre as mortes num lar de idosos em Aveiro, encerre a
notícia buscando afanosamente um secretário de Estado que diga que «vai ficar
tudo bem», sem datas, nem pormenores, nem quantificação.
E depois, para maior educação
das massas, temos umas patetices quaisquer mal investigadas e pior confirmadas
sobre Boris Johnson, ou Trump ou Bolsonaro, como se fossem realidades iguais,
acompanhadas de gente a cantar à varanda (os cânticos de que os sabujos gostam
-- bom cá, se for a favor do governo; bom lá, se for contra).
O senhor presidente da
República, e muitos socialistas, nos jornais e fora deles, querem que este tipo
de informação seja protegido com subsídios dos contribuintes. Como defenderia a
preservação de sabujos quem deseja e defende informação limpa e honesta?
Título e Texto: Jorge
Mendonça da Cruz, Corta-fitas,
7-4-2020
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