quinta-feira, 4 de julho de 2024

[Daqui e Dali] O parecer de Rousseau sobre o "Emílio"

Humberto Pinho da Silva

Em 1749, a Academia de Dijon, realizou concurso sob o tema "Terá o progresso da Civilização Contribuído para o Aperfeiçoamento Moral do Homem?"

Vários enciclopedistas disseram: Sim. Mas Rousseau respondeu: “O homem nasce bom; a sociedade é que o corrompe e o torna mau. Sendo assim, necessário é abandoná-la, criar a nova sociedade racional.”

Em 1762 Rousseau publicou o "Emílio" ou " Da Educação", que obteve grande sucesso e influenciou determinantemente na educação do século XIX e XX.

Trata-se de romance pedagógico, que retrata a educação de órfão, nobre rico, desde o nascimento até ao casamento.

Rousseau era órfão de mãe. Nasceu em 1712, e foi criado no seio de família de raízes evangélicas.

Respeitava a Bíblia e Cristo, admirava a Sua doutrina, mas não acreditava numa religião de instituições. Defendia a necessidade de aniquilar a sociedade e criar uma nova, não evoluída de existente. Ideias que lhe valeram forte contestação e perseguições de católicos, evangélicos e até de políticos.

O respeitado historiador brasileiro, Armando Alexandre dos Santos, Membro da Academia de História de Lisboa, escreveu numa publicação paulista, curioso artigo em que narra pitoresco episódio, ocorrido entre comerciante suíço, admirador do método exposto no "Emílio", e o filósofo, quando este se encontrava nos últimos anos de vida.

Segundo o Professor, baseando-se no livro de memórias da Baronesa de Oberkirch, dama alemã que acompanhou a princesa que casou com o filho da Czarina Catarina, Grão-Duque Paulo, travou-se o seguinte diálogo entre Rousseau e o negociante, em que o comerciante lhe contou que educara os filhos, segundo pareceres expostos no " Emílio".

O escritor e filósofo escutou-o detidamente e, após breve reflexão, proferiu com arrojo:

"Se educa seus filhos segundo as orientações que expus no ‘Emílio’, devo-lhe dizer que é um grande animal."

Embora o filósofo acreditasse no método, é natural que, na velhice, tivesse dúvidas da eficácia. Provavelmente realizaria alterações.

Daqui se conclui: que nem toda a teoria se deve seguir, sem refletir, mesmo quando provê de um Rousseau.

Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, junho de 2024

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