Carina Bratt
Entrevista concedida a
Aparecido Raimundo de Souza
O LIVRO ‘O GRITO DO SILÊNCIO’, de Zeni Klug Berger, é uma obra profundamente marcada pela memória e pela dor, mas também pela resistência e pela esperança. Embora não haja muitas informações públicas detalhadas sobre esta obra específica, o título e o contexto sugerem que se trata de uma narrativa voltada para experiências traumáticas, possivelmente relacionadas ao Holocausto ou a vivências de perseguição e silêncio forçado, já que a escritora Zeni Klug Berger é conhecida por sua ligação com a memória judaica e pela valorização da história de sobreviventes.
Na força poderosa do título: ‘O Grito do Silêncio’ percebemos que ele transmite uma tensão poderosa como pode ser vista no correr do texto ‘O Patriarca’, (página 8), onde fica explicito o paradoxo entre a necessidade de expressar a dor e a impossibilidade de fazê-lo. Isto sugere que o livro aborda histórias de pessoas que viveram situações em que a sua voz foi calada, mas, em oposto, a memória ainda ecoa pelos cantos da sua doce imaginação. Obras desse tipo geralmente cumprem um papel essencial de preservar lembranças e dar voz aos que foram silenciados. É provável que a escritora Zeni Berger busque resgatar histórias individuais ou coletivas que, sem esse registro, poderiam se perder no tempo, como vemos com a leitura do texto ‘Seguindo o meu relato’, (fls 10 a 14).
Dimensão
humana: Mais do que fatos históricos, um trabalho como este costuma destacar o
lado humano, sentimentos, medos, esperanças, mostrando como o silêncio pode ser
opressor tanto quanto a violência explícita. A meu ver, o impacto na leitura
desperta reflexão sobre a importância da empatia e da escuta. Ao confrontar os
textos meigos do ‘Silêncio’, o leitor é convidado a se tornar guardião das
memórias, garantindo que essas vozes não desapareçam. Como um todo, o livro, de
ponta a ponta, escrito com o pé direito,
tendo uma esferográfica entre os dedos, é uma obra simples, mas que se insere
na tradição de literatura de testemunho fundamental para compreender não apenas
os eventos históricos, mas também, e sobretudo, os efeitos psicológicos e
sociais da opressão.
O
árduo trabalho empregado em sua confecção, contribui também para manter viva a
lembrança de que o silêncio pode ser cúmplice da injustiça, e que dar voz aos
seus diversos personagens é um ato de resistência e humanidade. Em resumo: ‘O
Grito do Silêncio de Zeni Klug Berger’ é um livro-exemplar que convida à
reflexão sobre a memória, a dor e a resistência. Ele mostra que mesmo quando a
voz é calada, o grito permanece e precisa ser ouvido para que a história não se
repita. Vamos trazer à baila, à guisa de ilustração, o Primo Levi e Elie
Wiesel, para enriquecer ainda mais o comentário? Ok! Vamos lá. Nesse tom, é
possível agregar o comentário sobre ‘O Grito do Silêncio’ aproximando-o dos
testemunhos de Primo Levi e Elie Wiesel, uma vez que todos compartilham a mesma
busca para dar voz ao indizível horror dos campos de concentração e ao silêncio
que se seguiu ao trauma.
Primo
Levi: Em obras como ‘É isto um homem?’, Levi descreve com precisão quase
científica a experiência em Auschwitz. Seu estilo é marcado pela objetividade,
mas também pela reflexão ética sobre a desumanização e a sobrevivência. Ele
mostra como a linguagem pode ser usada para resistir ao esquecimento e para
analisar o mal de forma racional. Elie Wiesel: Em ‘A Noite’, narra a sua
vivência em Auschwitz e Buchenwald, com um tom profundamente pessoal e
espiritual. Sua escrita é marcada pela dor da perda da família e pela luta para
manter a fé diante da barbárie. O silêncio inicial de Wiesel, antes de
escrever, reflete a dificuldade de transformar o trauma em palavras.
E nessa confusão toda, qual a relação com ‘O Grito do Silêncio?’. Simples, a resposta: O título sugere, de cara, a tensão entre o silêncio e o grito, entre a impossibilidade de narrar e a necessidade de testemunhar. Assim como Levi e Wiesel, o livro se insere na tradição de dar voz ao sobrevivente, transformando a memória em resistência contra o apagamento histórico. O testemunho a bem da verdade, não é apenas um relato individual, mas também um ato coletivo de memória, que busca impedir que o horror se repita. Ao aproximar ‘O Grito do Silêncio’ de Levi e Wiesel, podemos ainda destacar o seguinte.
A
universalidade do trauma, embora cada obra tenha contexto próprio, ambos, diria
euzinha, revelam as dificuldades de traduzir em palavras o que parece
indizível. O papel da literatura como ética da memória é exatamente este:
escrever é um ato de responsabilidade, não apenas pessoal, mas também
histórico. O contraste entre estilos: Levi mais analítico, Wiesel mais
emocional, e ‘O Grito do Silêncio’ talvez se situe em algum ponto entre esses
polos. Sua escrita é marcada pela memória e pelo trauma, buscando dar voz não
apenas a si, mas a todos como ela que testemunhou um lado sombrio da vida,
desde quando saiu do ventre da mãe.
No
‘Grito do Silêncio’, lembrando, escrito com o pé direito tendo uma caneta presa
entre os dedos, Zeni Berger enfatiza que o silêncio não é apenas ausência de
voz, mas uma forma de opressão e apagamento. Em seus ‘voos dentro das
possibilidades’, a autora deixa claro que a palavra e a memória são
instrumentos de resistência contra a violência e a desumanização. A meu ver, o
‘Silêncio’ como opressão imposto representa censura, medo e invisibilidade das
vítimas. Voz como resistência: dar voz às experiências é um ato político e
humano, capaz de romper o apagamento. Dimensão poética: seus “voos” são
metáforas para a imaginação e a esperança, mesmo em meio ao trauma que sempre a
acompanhou (Ver ‘Simplesmente’, página15).
Possibilidades
de futuro? Muitas! Zeni Berger sugere que, apesar da sua dor, há caminhos de
reconstrução e dignidade. (Fls. 26, verso escrito em 02.08.1981 e logo à
frente, um versinho pastoril escrito em 16.06.1982). Em resumo, a mensagem como
um todo é que a palavra e a memória são forças vitais contra a opressão. O
vínculo com ‘Pé no Chão’ está na mesma linha de pensamento: repetindo o já
dito, ambos defendem que não se pode calar diante da injustiça, seja pela
afirmação da vida (pé no chão) ou pela resistência contra o apagamento (‘O
Grito do silêncio’).
O livro ‘Pé no Chão’, de (2018) totalmente escrito com o pé direito preso a uma caneta esferográfica entre os dedos, marcou brilhantemente a estreia de Zeni Berger na literatura. Nele, ela já apresentava uma escrita voltada para a identidade, a resistência e o enraizamento, trabalhando, sobretudo, a ideia de manter firmeza diante das adversidades. Quando depois publicou ‘O Grito do Silêncio’, da mesma forma que o primeiro, percebi existir uma continuidade temática. Em ‘Pé no Chão’, o foco está em afirmar a vida e a presença, ou a ideia de se manter firme, não se deixando apagar. Em ‘O Grito do Silêncio’, o foco se desloca para denunciar o apagamento e a censura, mostrando que o silêncio imposto precisa ser rompido pela palavra e pela memória. Assim, os dois livros se complementam: o primeiro marca o início da voz literária de Zeni Berger, e o segundo aprofunda essa voz como um grito de socorro contra a sua própria opressão e cá entre nós, em defesa da memória coletiva.
Título e Texto: Carina Bratt, da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, 9-12-2025
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