sexta-feira, 12 de agosto de 2011

É um movimento social qualquer, são criminosos ou o que é que anda a incendiar Londres?

José Pacheco Pereira
Em Portugal usa-se a classificação “social” como uma espécie de desculpa quanto à responsabilidade individual dos membros de um qualquer “movimento” nos atos que praticam. O vandalismo das claques de futebol tem sempre um sociólogo qualquer a explicar que não se trata de crime, mas sim de um “protesto social” qualquer de jovens desenraizados, desempregados, com uma qualquer “subcultura juvenil”, que explica as pedradas e as violências sobre a polícia e os adeptos do outro clube.

Captura de tela: JP
No caso dos distúrbios de Londres, o mesmo tipo de interpretações sociológicas, que já ouvimos para os queimadores de carros em Paris, vem ao de cima. Estamos perante um “movimento social” que não se resolve prendendo, julgando os seus membros, nem varrendo a rua com a polícia à bastonada. Pelo contrário, é preciso respeitar as “comunidades” (cá são os bairros da periferia) e nem tocar com uma pena nos “jovens” envolvidos, porque os “movimentos sociais” só se confrontam com medidas “sociais” de integração.

Sucede que eu também penso que há fatores “sociais” envolvidos nos distúrbios e que a homogeneidade dos seus atores, o modus operandi, a mistura de violência gratuita contra a propriedade, mesmo dos pequenos lojistas, o roubo de telemóveis e plasmas, a jactância das filmagens para o Facebook e o Youtube de pôr um carro a arder, tudo isto aponta para algo que pode ser classificado como “movimento social”. Só que penso igualmente que nenhuma sociedade civilizada pode permitir que a ordem e a segurança dos seus cidadãos, incluindo o direito de propriedade, seja posto em causa por uma qualquer “subcultura juvenil” criminosa, pelo que uma das coisas que tem faltado, e muito, em Londres é polícia, prisões e, para os culpados, condenações. E, pelos vistos, faltam também canhões de água, um método bastante civilizado de conter tumultos, que pelos vistos os ingleses só usam na Irlanda do Norte.
Eu sei bem que palavras como “civilização”, “ordem”, “crime” estão nos antípodas da sociologia da desculpa social, que as consideram uma variante da linguagem do poder, mas sempre podemos ver as coisas de outro modo sem sair do “social”. Se daqui a meia dúzia de dias os tumultos continuarem, aparcerá outro “movimento social”, constituído por cidadãos locais, pequenos comerciantes, lojistas, que se vão organizar em milícias para defender as suas casas e as suas lojas. Nessa altura, um encapuçado a contar as suas aventuras ao telemóvel ao mesmo tempo que apedreja uma montra corre o risco de levar um tiro de caçadeira, ou uma sova monumental com barras de ferro. Não é bonito de se ver, mas também é “social”.
Título e Texto: José Pacheco Pereira, Professor, revista Sábado, nº 380, 11 a 17-08-2011
Edição: JP
Clique aqui para ler a entrevista de Suzella Palmer ao "Público"

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2 comentários:

  1. Os "sociólos" deveriam escutar Pauline Pearce...
    (Claro que a viram e a escutaram, mas não lhes interessa ver, pois mostra-lhes o que eles não podem ver sob pena de revelar ao mundo o vazio e a hipocrisia das suas teses...)

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  2. Qual será a opinião da Sra. Suzella sobre as "pessoas zangadas e infelizes" da Síria??
    E os esfomeados da Etiópia, coitados!, não podem contar com o apoio, ajuda e solidariedade das "pessoas zangadas e infelizes" que moram em Londres para lhes ensinar e instigar a derrubar os governos (ou arremedo de) que os deixam no estado lamentável que assistimos nos televisores...

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