José Carlos Bolognese
§ "Não há nenhum pensamento
importante que a burrice não saiba usar, ela é móvel para todos os lados e pode
vestir todos os trajes da verdade. A verdade, porém, tem apenas um vestido de cada vez
e só um caminho, e está sempre em desvantagem"
Robert Musil – Em "O
Homem sem Qualidades"
"Mais de seis
anos... Como saber até aonde vai esse escuro túnel e se o brilho lá no fundo é
uma frágil esperança ou a luz de algo real?"
Nenhuma de nossas campanhas
pela solução do Aerus e pelos demitidos da Varig até agora logrou resultados
palpáveis, mas sequer poderíamos dizer honestamente se já houve alguma. Não se
assustem os lutadores de sempre, pois também me considero um. Ainda não vi
nenhum movimento onde houvesse uma unicidade total, uma coesão em torno do
motivo principal que é o fato de termos pago pela nossa desgraça. Infelizmente
tenho visto muita discussão estéril e apegos aferrados a opiniões que, se
vistos de fora do nosso meio dariam mais a perceber que somos um grupo que não
tem uma causa comum e sim, uma guerra interna sem fim. E assim se cria o dilema
de apresentar a verdade, aquela que conta, por ser unânime e sem dissensões e,
despida de todo o glacê de irrelevâncias, chegue aonde deve chegar e mude o status quo.
Apesar do óbvio e ululante
escândalo que é a insegurança da previdência privada, não existe um automatismo
do bem por parte das instituições que corrija as injustiças ou evite que elas
aconteçam.
Não sou dono da verdade mas,
na minha opinião, estamos demasiadamente focados na origem dos problemas que
levaram ao fim da Varig e ao calote no Aerus e, nem tanto, como acredito, nos
resultados nefastos que nos assolam há mais de seis anos. Mas atenção: Não que
não devam falar aqueles que realmente têm o domínio histórico, conheçam os
fatos como aconteceram porque os viveram pessoalmente e até por terem provas
materiais e circunstanciais. Ao contrário, devem falar os que têm mais
conhecimento sobre a gênese do problema da intervenção no Aerus, da açodada
aplicação da “Lei Recuperação” no caso da Varig e, principalmente dos autores
dessa desgraça toda – o que fizeram eles e que não deveriam ter feito – os
fatos, as alternativas, os caminhos desprezados que poderiam ter salvado a
empresa e a dignidade dos trabalhadores e aposentados.
Além, claro, do prejuízo causado
ao país, pois este é outro desses assuntos do qual ninguém quer assumir a
autoria. Aí, podemos lembrar do muito que poderiam ter feito e não fizeram. Em
países mais sérios essa gente é levada à justiça, como esse ex-primeiro-ministro
islandês, Geir Haarde:
É o primeiro julgamento
mundial por causa da crise financeira de 2008. Geir Haarde,
ex-primeiro-ministro da Islândia, começou a ser julgado por um tribunal
especial por negligência na gestão da crise. Geir Haarde esteve no poder entre
2006 e 2009, quando a contestação popular fez cair a coligação governamental
que liderava, de ter deixado os bancos crescer de forma desmesurada,
com ativos que representavam 900% do PIB do país.
Mas, para a grande maioria de
nós que sabemos mais o que é sofrer tantas privações sem conhecimento exato de
suas causas, o importante é nos manifestarmos para que esse fardo seja removido
de nossos ombros. O valor argumentativo de falarmos das consequências sobre nós
da quebra da Varig e calote no Aerus, pode ser definido numa simples frase:
“Não é assim porque queremos
que seja; é assim porque é.”
É o argumento que ninguém pode
negar. Porque todos nós pagamos pela complementação da aposentadoria e ninguém
pode provar o contrário. Porque os demitidos não receberam seus direitos e
ninguém pode provar o contrário.
Por outro lado, para convencer
aqueles que ainda se demoram em dúvidas e “perdem o sono” por causa do problema
Varig/Aerus, temos uma sugestão:
Experimentem “viver”, ainda
que não por seis anos, com uma redução brutal de seus rendimentos. Sufoquem a
ansiedade, procurem os seus credores e digam que não podem mais pagar por
quaisquer dívidas pendentes. Sintam calafrios quando lerem um extrato bancário.
Reúnam os familiares e digam que por determinado tempo terão de fazer ajustes
dolorosos para seguir vivendo. Comecem a cuidar-se em hospitais públicos.
Convençam seus velhos hipertensos, cardíacos e diabéticos a espaçar os horários
dos remédios e a confiar na sorte de que isto não piore o quadro.
Nessa altura vão dizer que é
uma ideia maluca, mas nada melhor para provar que uma coisa é verdadeira do que
passar pela experiência de vivê-la pessoalmente. Assim seria interessante
começar a perguntar às autoridades – todas aquelas envolvidas com a questão do
Aerus – se seriam capazes de viver com a mesma privação de renda que nos é
imposta. Ou pelo menos com uma redução de 50% de sua renda total. Jogada assim
no ar é uma sugestão boba, eu reconheço, mas o objetivo é a pergunta ser feita
por todos os lesados da Varig e do Aerus, seus familiares, seus amigos,
simpatizantes e outros que correm o mesmo risco. Num movimento massivo, com
milhares de assinaturas, seria muito constrangedor fazer essa gente responder
se sobreviveriam a uma mudança tão drástica – e para pior – em seu modo de
vida.
Minha sugestão é que se
escreva a essas autoridades, não para fazer julgamentos de caráter, mas para
deixar claro que se um grupo de pessoas pode passar por uma situação como esta,
qualquer outro pode.
A Nossa Comissão da Verdade só
fará diferença se todos se convencerem, deixarem de lado a descrença e
participarem de abaixo-assinado – virtual ou não, ou ambos – via Internet,
redes sociais ou correio, cartas para autoridades e fazedores de opinião. Mas
em grande volume porque é a única linguagem que eles entendem.
Título e Texto: José Carlos Bolognese, 18-05-2012
Presidenta Dilma, AJUDE os ex-trabalhadores da Varig!
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