sexta-feira, 18 de maio de 2012

[Aerus] A Nossa Comissão da Verdade

José Carlos Bolognese
§ "Não há nenhum pensamento importante que a burrice não saiba usar, ela é móvel para todos os lados e pode vestir todos os trajes da verdade. A verdade, porém, tem apenas um vestido de cada vez e só um caminho, e está sempre em desvantagem"
Robert MusilEm "O Homem sem Qualidades"

"Mais de seis anos... Como saber até aonde vai esse escuro túnel e se o brilho lá no fundo é uma frágil esperança ou a luz de algo real?"


Nenhuma de nossas campanhas pela solução do Aerus e pelos demitidos da Varig até agora logrou resultados palpáveis, mas sequer poderíamos dizer honestamente se já houve alguma. Não se assustem os lutadores de sempre, pois também me considero um. Ainda não vi nenhum movimento onde houvesse uma unicidade total, uma coesão em torno do motivo principal que é o fato de termos pago pela nossa desgraça. Infelizmente tenho visto muita discussão estéril e apegos aferrados a opiniões que, se vistos de fora do nosso meio dariam mais a perceber que somos um grupo que não tem uma causa comum e sim, uma guerra interna sem fim. E assim se cria o dilema de apresentar a verdade, aquela que conta, por ser unânime e sem dissensões e, despida de todo o glacê de irrelevâncias, chegue aonde deve chegar e mude o status quo.
Apesar do óbvio e ululante escândalo que é a insegurança da previdência privada, não existe um automatismo do bem por parte das instituições que corrija as injustiças ou evite que elas aconteçam.
Não sou dono da verdade mas, na minha opinião, estamos demasiadamente focados na origem dos problemas que levaram ao fim da Varig e ao calote no Aerus e, nem tanto, como acredito, nos resultados nefastos que nos assolam há mais de seis anos. Mas atenção: Não que não devam falar aqueles que realmente têm o domínio histórico, conheçam os fatos como aconteceram porque os viveram pessoalmente e até por terem provas materiais e circunstanciais. Ao contrário, devem falar os que têm mais conhecimento sobre a gênese do problema da intervenção no Aerus, da açodada aplicação da “Lei Recuperação” no caso da Varig e, principalmente dos autores dessa desgraça toda – o que fizeram eles e que não deveriam ter feito – os fatos, as alternativas, os caminhos desprezados que poderiam ter salvado a empresa e a dignidade dos trabalhadores e aposentados.
Além, claro, do prejuízo causado ao país, pois este é outro desses assuntos do qual ninguém quer assumir a autoria. Aí, podemos lembrar do muito que poderiam ter feito e não fizeram. Em países mais sérios essa gente é levada à justiça, como esse ex-primeiro-ministro islandês, Geir Haarde:
É o primeiro julgamento mundial por causa da crise financeira de 2008. Geir Haarde, ex-primeiro-ministro da Islândia, começou a ser julgado por um tribunal especial por negligência na gestão da crise. Geir Haarde esteve no poder entre 2006 e 2009, quando a contestação popular fez cair a coligação governamental que liderava, de ter deixado os bancos crescer de forma desmesurada, com ativos que representavam 900% do PIB do país.
Mas, para a grande maioria de nós que sabemos mais o que é sofrer tantas privações sem conhecimento exato de suas causas, o importante é nos manifestarmos para que esse fardo seja removido de nossos ombros. O valor argumentativo de falarmos das consequências sobre nós da quebra da Varig e calote no Aerus, pode ser definido numa simples frase:
“Não é assim porque queremos que seja; é assim porque é.”
É o argumento que ninguém pode negar. Porque todos nós pagamos pela complementação da aposentadoria e ninguém pode provar o contrário. Porque os demitidos não receberam seus direitos e ninguém pode provar o contrário.
Por outro lado, para convencer aqueles que ainda se demoram em dúvidas e “perdem o sono” por causa do problema Varig/Aerus, temos uma sugestão:
Experimentem “viver”, ainda que não por seis anos, com uma redução brutal de seus rendimentos. Sufoquem a ansiedade, procurem os seus credores e digam que não podem mais pagar por quaisquer dívidas pendentes. Sintam calafrios quando lerem um extrato bancário. Reúnam os familiares e digam que por determinado tempo terão de fazer ajustes dolorosos para seguir vivendo. Comecem a cuidar-se em hospitais públicos. Convençam seus velhos hipertensos, cardíacos e diabéticos a espaçar os horários dos remédios e a confiar na sorte de que isto não piore o quadro.
Nessa altura vão dizer que é uma ideia maluca, mas nada melhor para provar que uma coisa é verdadeira do que passar pela experiência de vivê-la pessoalmente. Assim seria interessante começar a perguntar às autoridades – todas aquelas envolvidas com a questão do Aerus – se seriam capazes de viver com a mesma privação de renda que nos é imposta. Ou pelo menos com uma redução de 50% de sua renda total. Jogada assim no ar é uma sugestão boba, eu reconheço, mas o objetivo é a pergunta ser feita por todos os lesados da Varig e do Aerus, seus familiares, seus amigos, simpatizantes e outros que correm o mesmo risco. Num movimento massivo, com milhares de assinaturas, seria muito constrangedor fazer essa gente responder se sobreviveriam a uma mudança tão drástica – e para pior – em seu modo de vida.
Minha sugestão é que se escreva a essas autoridades, não para fazer julgamentos de caráter, mas para deixar claro que se um grupo de pessoas pode passar por uma situação como esta, qualquer outro pode.
A Nossa Comissão da Verdade só fará diferença se todos se convencerem, deixarem de lado a descrença e participarem de abaixo-assinado – virtual ou não, ou ambos – via Internet, redes sociais ou correio, cartas para autoridades e fazedores de opinião. Mas em grande volume porque é a única linguagem que eles entendem.

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