segunda-feira, 18 de junho de 2012

Hospital no Rio: "Os pacientes estão à míngua, estão morrendo. Meu desabafo foi a gota d'água do acúmulo de estresse"

Ângela Maria Tenório, médica do Hospital Estadual Rocha Faria, no Rio de Janeiro
Para o médico e advogado Sérgio Palmeira, que lançará no segundo semestre o livro “Direito, Medicina e Poder”, um dos maiores problemas da categoria é o esquema de plantões. “Os médicos fazem plantões enormes, muitas vezes de 24 horas, apesar de isso ser vetado pelo CFM, e acham que estão se beneficiando, já que dormem no trabalho e pensam: ‘Estão me pagando para dormir’”. Essa prática possibilita, segundo o especialista, um “equilíbrio artificial” do mercado, no qual há um médico para três postos de trabalho, segundo pesquisa do CFM. A média brasileira é maior do que a mundial, de 1,4 médico por mil habitantes, mas bem mais baixa do que a de países mais desenvolvidos. Os Estados Unidos, por exemplo, contam com 2,4 médicos por mil habitantes; Portugal, 3,9; e Cuba, recordista, 6,4. “Se o número de vagas é o triplo do número de profissionais, quem diz que não faltam médicos está fazendo uma defesa corporativista por acreditar, erroneamente, que os plantões são bons para eles. Perde o paciente, que é mal atendido”, afirma Palmeira. Médicos de hospitais públicos ouvidos por ISTOÉ revelaram ser uma prática comum dois profissionais pagos para trabalhar durante as mesmas 12 horas combinarem entre si a divisão de horários – um atuaria nas primeiras seis horas e o outro nas restantes.
O fato é que, sobrecarregados, os médicos não conseguem atender à demanda. Na noite da quarta-feira 30 de maio, por exemplo, a médica Ângela Maria Tenório teve uma espécie de surto no Hospital Estadual Rocha Faria, zona oeste do Rio de Janeiro. Pelos corredores da instituição lotada, ela gritava: “Os pacientes estão à míngua, estão morrendo.” À ISTOÉ, Ângela disse que o hospital deveria ter uma equipe com nove profissionais de clínica médica, mas só vem trabalhando com quatro. Naquele dia, só ela estava presente para atender a duas enfermarias com cerca de 130 pessoas internadas e uma unidade intensiva com mais de dez pacientes em estado grave. “O desabafo foi a gota d’água do acúmulo de estresse”, disse.
Fonte: Revista IstoÉ, nº 2223

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