João Miranda
Compramos uma galinha a
crédito. Comprometemo-nos a pagar 30 dúzias de ovos por ano ao antigo dono da galinha, mas a galinha
só põe 28 e nós comemos 4 dúzias de ovos por ano. Tínhamos especulado que a
galinha iria produzir 40 dúzias por ano e até estávamos a planear entrar no
negócio dos ovos de avestruz. Descobrimos agora que temos um défice de 30+4-28=
6 dúzias. Como resolver este problema?
Solução Keynesiana: Alimentar a galinha com 10 dúzias de ovos por ano na esperança que ela produza mais ovos. Um factor crítico para esta solução é que o multiplicador ovário tem que ser superior a 1. Por cada dúzia de ovos que a galinha come ela tem que produzir mais de uma dúzia acima das 28 que habitualmente produz. Portanto, estamos plenamente convictos que se a galinha comer 10 dúzias de ovos por ano (investimento) ela passará a produzir um total de mais de 28+10=38 dúzias por ano.
Solução poedeira de último recurso: uma poedeira de último recurso
é usada para redefinir o conceito de “dúzia”, que a partir de agora passa a ter
8 unidades. A nossa galinha passa a pôr 42 dúzias, e como nós só devemos 30
ainda nos sobram 12.
Solução ovobonds: Junta-se a nossa galinha com a do vizinho alemão.
Como a galinha do vizinho alemão põe 32 dúzias por ano e só deve 22, sobram
dúzias suficientes para pagar as nossas dívidas e ainda podemos aumentar o
consumo de ovos. A parte mais difícil desta solução é convencer o alemão de que
se nós comermos mais ovos (os ovos dele) isso é bom para ele.
Solução troika estrangeira: Os vizinhos (uma alemão, um francês e um finlandês) juntam-se para nos emprestar os ovos que faltam, mas em contrapartida obrigam-nos a comer menos ovos. Como isso não chega, vão submeter a galinha a um programa de exercício e dieta na esperança que passe a pôr tantos ovos como a galinha do alemão.
Infelizmente este problema da
galinha é generalizado. Andou toda a gente a prometer mais ovos que aqueles que
todas as galinhas do mundo podem produzir. A galinha do alemão não põe ovos
suficientes para cobrir as dívidas da galinha espanhola e da galinha italiana.
Isto vai-nos obrigar a todos a comer menos ovos durante muito tempo. Ainda
assim será necessário redefinir a dúzia como um conjunto de 10.
Título e Texto: João Miranda, Blasfémias
RARARARARA GENIAL!
ResponderExcluirQue coincidência: esses dias estou tendo aulas de Economia sob a ótica keynesiana.
Entendi tudo.