terça-feira, 23 de julho de 2013

Da narrativa pouco honesta

Rudolfo Rebelo
Há gente que não aprende. E, entre essa, muitos "esclarecidos" economistas. Que se lembram de Keynes apenas nos ciclos baixos da economia - sim, insultam o seu legado, todos os dias, esquecendo, por conveniência, o que "reza" a teoria na fase alta do ciclo económico; é como aqueles que só se lembram de Stª Barbara quando chove. Ou seja, a malta só quer é metade do Keynes.
Vem, a propósito, de um "comentador" que insiste em ser sociólogo, economista, politólogo e doutrinário, qual Mikail Suslov, junto dos socráticos socialistas. Diz esta alminha que o corte dos 4,7 mil milhões de euros é "economicamente estúpido" e invoca como testemunho um qualquer estudo para garantir que, em 2014, este corte provocará uma queda de 9,4 mil milhões de euros no PIB.
Bem, vamos ao que existe. Entre 2010 e 2012 a despesa orçamental foi cortada em mais de 11 mil milhões de euros. Dou de barato e ofereço mais um ano, o de 2013. Nestes anos, o PIB (ou seja, pela "óptica do rendimento" o somatório anual dos salários, lucros, rendas, juros ganhos, etc) não cairá 9 mil milhões de euros... Espanto?
Então, vejam: o PIB já cai desde meados de 2010, tendo a economia entrado em recessão no início de 2011, ainda com Sócrates em São Bento! Ou seja, mesmo com os 11 mil milhões de euros "em circulação" - agora "sugados ao consumo" - o PIB já estava a estatelar-se... e assim continuaria! O País falia, os cofres do IGCP estavam à míngua e tiveram de chamar a troika para pagar salários, pensões e reformas!
É isto que os socráticos nunca entenderão: injectavam gasolina e o motor... gripava. Descontrolados, bateram na parede.
Agora anuncia-se que no II trimestre deste ano a economia terá dado a volta, interrompendo dez trimestre recessivos (inicados por Sócrates, repito).
Os socráticos estão atarantados! Isto é demais. Então corta-se na despesa e a economia cresce? Mau...
Pois. Não digo que o corte da despesa não possua efeitos recessivos no imediato. A alteração do modelo estrutural da economia, com base em sectores exportadores ou de substituição de importações, é algo que demora a dar resultados. Mas, ao mesmo tempo, a despesa não reprodutiva que é subtraída à economia não gera mais défice orçamental e mais dívida pública do Estado, para além de ter efeitos benéficos nas contas externas. Ora, é isso que se está a assistir, com sacrifícios, diga-se.
Por isso, ou bem que os comentadores do costume revêem os seus apontamentos ou bem que continuam a laborar numa narrativa pouco honesta. Por mim, preferia a primeira.
Texto: Rudolfo Rebelo, 23-7-2013

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