José Carlos Bolognese
“Deram o mercado e os empregos de presente para
estrangeiros e aqui dentro massacram os aposentados e os demitidos como se
fossem ameaças à União que eles ainda não entenderam – nem querem entender – é
o coletivo de Cidadão/Eleitor/Pagador de Impostos/Trabalhador”
Como parte do lado sacrificado
pelo fim da Varig, sempre vejo com curiosidade e um pouco de esperança todas as
reportagens que falam da empresa, seus feitos e sua debâcle. A curiosidade é pelo meu
perene interesse pela organização que deu a um jovem simples uma melhor
compreensão das pessoas e do mundo, no caso deste último, literalmente me
jogando dentro dele. E meu ânimo se renova sempre que a Varig volta a ter
visibilidade nos meios de comunicação. É triste que ela tenha acabado – ou sido
acabada – mas nós não podemos deixar que também se acabe a sua história, como
uma forma de fazer justiça a nós mesmos, seus ex funcionários.
A não ser por uma minoria –
que de acordo com seus interesses nunca vai falar nada – não acredito que muita
gente dentro e fora da Varig possa um dia vir a saber a verdade completa sobre
como se deu o fim da melhor empresa de aviação brasileira. É o meu caso e
certamente o da maioria, pois nosso tempo na Varig foi ocupado com trabalho,
não sobrando nada dele para especulações sobre o que se tramava nos bastidores,
sem poder assim buscar a prevenção para o que se desconhecia.
Melhor no seu tempo e talvez
melhor depois dele, visto que a experiência atual de voar pelo Brasil e para o
exterior não é das melhores - com exceção dos 90% que, de acordo com a reportagem da Piauí, preferem empresas estrangeiras - a Varig faz falta.
Além do mais, nos dias de hoje muitos passageiros somaram ao seu medo de avião,
o medo de aeroporto.
Pessoalmente, da longa matéria
da Piauí me interessam somente alguns tópicos. Primeiro é por um trecho
particularmente interessante, quando um ministro do atual governo é provocado
para falar sobre a participação estrangeira no capital das empresas aéreas nacionais,
que por lei é de 20%. Quando é informado que a Lan Chile detém 70% do capital
da Latam, portanto “dona” da Tam brasileira, diz que não sabe (devia saber, é
titular da pasta de aviação) e que o fato de… “estar na lei não significa que é
funcional. O mercado já resolveu esse problema…”. E emenda: “Não é só um
pensamento. É a realidade“.
Quanto pragmatismo de ocasião
em tão poucas palavras! É a cara desse desgoverno admitindo que a lei quando
atrapalha é posta de lado. Não por acaso a lei que assegura os direitos dos
trabalhadores da Varig e Transbrasil vem sendo sistematicamente posta de lado
há vários anos. Se é a “realidade” para o capital das empresas – e também para
o calote aos aposentados, como se pode deduzir – não respeitar a lei quando
interessa não é mesmo “só um pensamento”, mas “a realidade” - o modus operandi - de quem pretende se
perpetuar no poder.
Um outro ponto da reportagem
que me chama a atenção, agora pela meia verdade, é quando a revista cita um
consultor especialista em transporte que diz: “O maior bem de uma companhia
aérea é os passageiros“. Seria sim, uma verdade inteira se os passageiros não
precisassem dos trabalhadores da aviação para viajar de avião. Como ainda não
inventaram aviação “self-service”, para completar essa verdade é preciso
incluir esses homens e mulheres, profissionais indispensáveis. E não esquecer
os aposentados, que em grande parte construíram os empregos dos trabalhadores
atuais e o transporte aéreo que serve aos passageiros de hoje.
Finalmente, é de se lamentar
quando a revista acertadamente diz que… “os passageiros brasileiros estão sendo
transportados por companhias estrangeiras. Uma coisa é liberalidade. Outra
coisa é dar o mercado de presente“. À política de “Céu Abertos” juntou-se a
irresponsabilidade fiscal de divisas voando… para fora do país! Deram o mercado
e os empregos de presente para estrangeiros e aqui dentro massacram os
aposentados e os demitidos como se fossem ameaças à União que eles ainda não
entenderam – nem querem entender – é o coletivo de Cidadão/Eleitor/Pagador de
Impostos/Trabalhador.
Título e Texto: José Carlos Bolognese, (um ex-aeronauta
que não quebrou a Varig nem manda divisas para o estrangeiro), 11-7-2013
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