quinta-feira, 11 de julho de 2013

Sobre o artigo “Como quebrou a Varig”

José Carlos Bolognese
 
“Deram o mercado e os empregos de presente para estrangeiros e aqui dentro massacram os aposentados e os demitidos como se fossem ameaças à União que eles ainda não entenderam – nem querem entender – é o coletivo de Cidadão/Eleitor/Pagador de Impostos/Trabalhador”


Como parte do lado sacrificado pelo fim da Varig, sempre vejo com curiosidade e um pouco de esperança todas as reportagens que falam da empresa, seus feitos e sua debâcle. A curiosidade é pelo meu perene interesse pela organização que deu a um jovem simples uma melhor compreensão das pessoas e do mundo, no caso deste último, literalmente me jogando dentro dele. E meu ânimo se renova sempre que a Varig volta a ter visibilidade nos meios de comunicação. É triste que ela tenha acabado – ou sido acabada – mas nós não podemos deixar que também se acabe a sua história, como uma forma de fazer justiça a nós mesmos, seus ex funcionários.
A não ser por uma minoria – que de acordo com seus interesses nunca vai falar nada – não acredito que muita gente dentro e fora da Varig possa um dia vir a saber a verdade completa sobre como se deu o fim da melhor empresa de aviação brasileira. É o meu caso e certamente o da maioria, pois nosso tempo na Varig foi ocupado com trabalho, não sobrando nada dele para especulações sobre o que se tramava nos bastidores, sem poder assim buscar a prevenção para o que se desconhecia.

Melhor no seu tempo e talvez melhor depois dele, visto que a experiência atual de voar pelo Brasil e para o exterior não é das melhores - com exceção dos 90% que, de acordo com a reportagem da Piauí, preferem empresas estrangeiras - a Varig faz falta. Além do mais, nos dias de hoje muitos passageiros somaram ao seu medo de avião, o medo de aeroporto.

Pessoalmente, da longa matéria da Piauí me interessam somente alguns tópicos. Primeiro é por um trecho particularmente interessante, quando um ministro do atual governo é provocado para falar sobre a participação estrangeira no capital das empresas aéreas nacionais, que por lei é de 20%. Quando é informado que a Lan Chile detém 70% do capital da Latam, portanto “dona” da Tam brasileira, diz que não sabe (devia saber, é titular da pasta de aviação) e que o fato de… “estar na lei não significa que é funcional. O mercado já resolveu esse problema…”. E emenda: “Não é só um pensamento. É a realidade“.
Quanto pragmatismo de ocasião em tão poucas palavras! É a cara desse desgoverno admitindo que a lei quando atrapalha é posta de lado. Não por acaso a lei que assegura os direitos dos trabalhadores da Varig e Transbrasil vem sendo sistematicamente posta de lado há vários anos. Se é a “realidade” para o capital das empresas – e também para o calote aos aposentados, como se pode deduzir – não respeitar a lei quando interessa não é mesmo “só um pensamento”, mas “a realidade” - o modus operandi - de quem pretende se perpetuar no poder.

Um outro ponto da reportagem que me chama a atenção, agora pela meia verdade, é quando a revista cita um consultor especialista em transporte que diz: “O maior bem de uma companhia aérea é os passageiros“. Seria sim, uma verdade inteira se os passageiros não precisassem dos trabalhadores da aviação para viajar de avião. Como ainda não inventaram aviação “self-service”, para completar essa verdade é preciso incluir esses homens e mulheres, profissionais indispensáveis. E não esquecer os aposentados, que em grande parte construíram os empregos dos trabalhadores atuais e o transporte aéreo que serve aos passageiros de hoje.
Finalmente, é de se lamentar quando a revista acertadamente diz que… “os passageiros brasileiros estão sendo transportados por companhias estrangeiras. Uma coisa é liberalidade. Outra coisa é dar o mercado de presente“. À política de “Céu Abertos” juntou-se a irresponsabilidade fiscal de divisas voando… para fora do país! Deram o mercado e os empregos de presente para estrangeiros e aqui dentro massacram os aposentados e os demitidos como se fossem ameaças à União que eles ainda não entenderam – nem querem entender – é o coletivo de Cidadão/Eleitor/Pagador de Impostos/Trabalhador.
Título e Texto: José Carlos Bolognese, (um ex-aeronauta que não quebrou a Varig nem manda divisas para o estrangeiro), 11-7-2013

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