Ramiro Marques
O que leva um historiador
prestigiado, um antigo reitor da Universidade de Lisboa, a dizer tanta asneira
numa única entrevista? O fanatismo ideológico. O marxismo cega.
Nunca tivemos uma política
educativa tão extremista e tão fundamentalista, pelo menos desde os anos 50, afirmou
António Nóvoa ao Jornal de Negócios do dia 31 de outubro de 2014.
É preciso descaramento. O que
Nóvoa [foto] diz é que as políticas educativas impostas durante o PREC, em 1975
e 1976, e que foram corrigidas pelo ministro da educação, Sottomayor Cardia,
não foram extremistas nem radicais ou, pelo menos, não o foram por comparação
com o pretenso radicalismo e extremismo das políticas educativas do atual Governo
(2011-2014). Com esta afirmação, Nóvoa passa uma esponja pelo processo de
destruição do ensino técnico em Portugal, feito de uma assentada, em 1975, era
Rui Grácio secretário de estado da orientação pedagógica no III
Governo Provisório, presidido por Vasco Gonçalves, que tomou posse em
30 de Setembro de 1974 e chegou ao fim em 26 de Março de 1975.
Passa também uma esponja –
será que aplaude agora como aplaudiu na época? – pelo processo de criação de
matrizes curriculares e programas de ensino inteiramente baseados na dialética
marxista, no materialismo histórico e na teoria marxista da construção do
comunismo. Como historiador da educação, Nóvoa sabe que os manuais escolares
foram integralmente substituídos por panfletos, designados de textos de apoio,
elaborados pela secretaria de estado da orientação pedagógica e inteiramente
focados na teoria marxista. Sabe, com certeza, que, durante o PREC, foram
saneados milhares de docentes sem que eles tivessem tido possibilidades de
defesa. E não pode ignorar que, no PREC, se assistiu à queima de bibliotecas
inteiras com a justificação de que os liceus da época estavam “infestados” de
literatura “fascista”.
Quando a jornalista interrompe
Nóvoa para afirmar que o saber não é o mesmo que saber trabalhar, o
antigo Reitor da Universidade de Lisboa, diz o seguinte: Exactamente.
Não se pode ficar na primeira parte. Isto em Portugal está a perder-se devido
às políticas dos últimos três anos.
Como é que um historiador da
educação pode fazer uma afirmação destas? Com que fundamentos? Quais são as
evidências que António Nóvoa mobiliza para fundamentar a acusação de que as
políticas dos últimos três anos desligaram o saber do trabalhar? Se Nóvoa não
estivesse cego pelo marxismo, reconheceria, certamente, o trabalho que este Governo
tem feito em matéria do desenvolvimento do ensino vocacional básico, secundário
e superior, reforço do ensino dual e dos estágios formativos em contexto de
empresa.
A política educativa do
Crato é decalcada da política educativa de George W. Bush, no princípio do
século XXI. Quando Crato fala do Português e da Matemática, hoje, a
metáfora é a mesma que levou à escola salazarista. Uma escola paupérrima,
medíocre, minimalista, afirmou Nóvoa na entrevista ao mesmo jornal.
Nóvoa arruma de uma vez a
política educativa de Nuno Crato dizendo que ela é inspirada pela política
educativa de Bush. Esquece que o movimento “back to basics” é anterior à
chegada de Bush à presidência dos EUA e foi aplicada, em muitos estados, ao
longo das décadas de 80 e 90. Para a esquerda, Bush é sinónimo de ignorância. A
diabolização das políticas de Bush é feita na base da pretensa superioridade
moral e cultural da esquerda. Bush é de direita, logo é ignorante, logo as suas
políticas são más. A cereja em cima do bolo é a afirmação de que a política de
Nuno Crato é salazarista e que a escola atual é paupérrima, medíocre e
minimalista. Para os marxistas, a Cultura e a Educação têm um dono e esse dono
é a Esquerda. A Esquerda é, para os marxistas, a verdadeira, única e natural
depositária da verdadeira Cultura e Educação; logo, para os marxistas, qualquer
política educativa que vise a excelência, a competição entre escolas e entre
alunos, a concorrência entre escolas, a avaliação do desempenho, e se centre na
defesa do cânone científico, humanístico e tecnológico promove as
desigualdades, impede a inclusão e, em consequência, provoca a ignorância. E
isto é dito sem necessitar de prova. É dito como se fosse uma verdade cuja
autenticidade se impõe sem necessidade de evidências.
Nenhuma destas acusações
fortuitas adere à realidade. Nem a escola atual é pobre – veja-se o
investimento em novos edifícios escolares e equipamentos e o aumento dos apoios
aos estudantes por via da ação social escolar – nem é medíocre – veja-se as
subidas nos rankings do PISA (PISA 2012, Results in Focus) e os
elogios dos últimos relatórios da OCDE (Education at a Glance, OECD
Indicators, 2014), a redução das taxas de abandono escolar e o aumento
contínuo e gradual da frequência do ensino secundário profissional e do ensino
superior – nem é minimalista – veja-se a generalização do inglês no 1º ciclo,
as atividades de enriquecimento curricular, o aumento do número de professores
do ensino especial e dos professores de apoio (CNE, 2014, Educação 2013).
O que leva um historiador
prestigiado a dizer tanta asneira numa única entrevista? O fanatismo
ideológico. O marxismo cega.
Título e Texto: Ramiro
Marques, Membro do Conselho Nacional da Educação, professor coordenador
principal no Instituto Politécnico de Santarém, Observador,
2-11-2014
Referências
CNE (2014). Educação 2013. Conselho Nacional da Educação
OECD (2014). Education at a Glance: Education Indicators
PISA (2012). Results in Focus
Marques, R. (2014). Quatro notas sobre o ensino vocacional. Comunicação no Congresso da BCSD Portugal, Lisboa: Culturgest
CNE (2014). Educação 2013. Conselho Nacional da Educação
OECD (2014). Education at a Glance: Education Indicators
PISA (2012). Results in Focus
Marques, R. (2014). Quatro notas sobre o ensino vocacional. Comunicação no Congresso da BCSD Portugal, Lisboa: Culturgest
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-