quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Crônica de Shangri-La: ponto de retorno

José Manuel

Parece que o nosso "turning point" é chegado e talvez até já tenha passado do ponto ideal, tal a baixa qualidade dos últimos acontecimentos constrangedores pelos quais o país está passando. Ou definitivamente damos a volta, assumimos um mea culpa urgente e tentamos recomeçar em novas e bases sólidas, realistas, com comprometimento acima de tudo, ou ficará difícil de divisar um porvir saudável como o que todos aqueles de bem desejam.

O que será que a Guiné Equatorial tem a ver com a Marquês de Sapucaí e os seus desfiles de carnaval no Rio?
Nada, nadica, a não ser pelo Fernão do Pó, que ao contrário do que se possa imaginar, não faz parte da contravenção, não é amigo do Anízio da Beija-Flor nem tampouco é traficante daquilo que o seu sobrenome declara.
Aliás, e por falar em contravenção, o puxador Neguinho da Beija-Flor [foto] foi quem disse com toda a autoridade no assunto, que se não fosse a contravenção, não existiria o maior espetáculo da terra. Falou e disse!
Esse é o "cara".

Ora, ora, pois então, segundo o carnavalesco, e a sua afirmação nos leva a acreditar, o carnaval de pindorama jamais teria existido não fosse o jogo do bicho, as drogas e a prostituição.

Voltando a Fernão do Pó, que o momesco deve desconhecer, ao contrário, foi um grande navegador português, que em estando a mapear a rota para as Índias, em 1471 aportou à Guiné, sendo o primeiro explorador em nome de Portugal, a reconhecer aquele território.
Ora, então pela teoria da análise combinatória, e como Portugal nos descobriu, está explicada a coincidência agora no século vinte e um e por aí é o bastante nesta história, se bem que agora graças a intelectuais formados na cátedra do samba ficamos sabendo um pouquinho mais sobre o carnaval carioca.

Os tempos modernos são fantásticos pelo seu dinamismo, pois quando achamos que já conhecíamos de tudo, pimba, aparece um fato novo que normalmente nos deixa ou de cabelo em pé ou de queixo caído, pelas aberrações que se apresentam.

E esta é  tão cabeluda que ninguém consegue explicar como é que um país que não é mais dimenor permite um desfile no  "maior espetáculo da terra", na cidade maravilhosa, colocar na passarela máxima da cultura popular um enredo homenageando uma figuraça  que, além de estrangeira e nada a ver com as nossas tradições, ainda figura, por exemplo, na wikipédia da seguinte forma:

“O regime autoritário no poder na Guiné Equatorial tem um dos piores registos de direitos humanos no mundo, e consegue se manter como o ‘pior do pior’ no ranking da pesquisa anual da Freedom House de direitos políticos e civis. Repórteres classificam o presidente Teodoro Obiang Nguema Mbasogo um dos ‘predadores’ da liberdade de imprensa. O tráfico de pessoas é um problema significativo, de acordo com o ‘US Trafficking in Persons Report’, de 2012, que afirma que ‘a Guiné Equatorial é uma fonte e destino para mulheres e crianças vítimas de trabalho forçado e tráfico de sexo.’”

Como a nossa cultura não é definitivamente de prevenção, para que fatos como este jamais aconteçam, e sim reativa, sempre com características pouco abonadoras, agora após o carnaval começam a pipocar as mais fantasiosas e contraditórias explicações para que esse escândalo cultural, mais um, o Culturão, seja explicado à sociedade que apenas depois do desfile se deu conta de como foi absurdamente ludibriado naquilo que é de mais sagrado às suas raízes culturais. Isto é apenas o reflexo do Planalto e as suas desastradas atitudes para com o povo, principalmente o humilde que vê na festa popular a expressão maior da sua cultura.


Esta é a foto do  filho vice-presidente em camarote durante o desfile. Farra com o dinheiro dos outros é sempre a melhor possível mesmo quando se conhece a palavra nepotismo.

A ironia do enredo é que para exaltar as nações africanas escolheu-se exatamente a que tem o povo oprimido por seu governante. Teodore Obiang Nguema Mbasogo, a oitava riqueza pessoal do mundo, é acusado de brutais violações dos direitos humanos, com tortura e morte de opositores. Segundo reportagem do jornal O Globo, o ditador captou dez milhões de reais para a Beija-Flor.

Ainda sobre o caso diz a folha de São Paulo, em 20-02-2015:
“A ditadura do presidente Obiang está sempre ansiosa por oportunidades como essa para mascarar sua repressão aos direitos humanos”, diz Tutu Alicante, diretor-executivo da ONG EG Justice (Justiça para a Guiné Equatorial) que está exilado nos EUA.
Segundo ele, o governo brasileiro “chegou à conclusão de que os petrodólares são mais importantes que dignidade humana”.

Ele lembra que mais de 75% da população da Guiné Equatorial sobrevive com menos de US$ 2 por dia. “Enquanto muita gente no meu país não tem acesso a água, educação, saúde ou comida, funcionários do governo, incluindo o filho de Obiang, Teodorin, estão em um dos hotéis mais caros do Rio esbanjando nosso dinheiro”, afirma.

Pois é, do carnaval até à data de hoje, uma semana se passou e um corolário de mentiras, uns desdizendo os outros, ninguém consegue explicar como milhares de reais entram no país para uma escola de samba, pois nem a Fazenda nem o ministério das Relações Exteriores  foram atualizados sobre o assunto. Aqui parece haver uma ótima oportunidade para a Polícia Federal, pois coincidentemente os negócios com esse país através de uma empreiteira nacional conhecida  e a visita de certo político, tem muito a contar.

Como o assunto tem um mau cheiro nauseante, está sendo substituído esta semana, pelo daquele Juiz que mandou confiscar os bens do Eike, aproveitando para se apoderar indevidamente dos seus veículos e guardá-los em sua garagem. Pior não poderia ser ser, a não ser a revelação de que os barões do transporte público, aquele pelo qual milhões foram às ruas em 2013, estão com as suas contas abertas no HSBC, na Suíça  e em paraísos fiscais, mostrando os milhões do país abastecendo contas no exterior, dinheiro esse suado dos trabalhadores de Pindorama.

Ainda esta semana, ao que tudo indica, e o povo já está fazendo " bolões " para  jogar no número e nome dos parlamentares envolvidos no Petrolão, será agitada e o ponto de retorno já de há muito passou do seu limite geográfico.

Enquanto isso, a sociedade vai assistindo a um desfile de absurdos, no carnaval da impunidade em todas as alas. 
Esperemos que os fósforos demorem a ser encontrados.
Título e Texto: José Manuel, 25-2-2015



Nota: a descritiva nas crônicas por mim publicadas é o resultado de pesquisa em notícias veiculadas em mídia nacional idônea, apenas compondo um pensamento lastreado em liberdade de expressão e ancorado no Artigo 5 inciso IX, da constituição Federal de 1988.

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