Redinaldo estava à janela do
quarto observando a chuva forte que o acordara com a sinfonia no telhado. Sua
tia e sua prima eram mais felizes, pois dormiam no andar inferior da casa, pois
já não tinham fôlego para subir as escadas com muita frequência. Como ele
passava a maior parte do tempo na rua e não ajudava no pagamento do IPTU, era
justo que tivesse de realizar maior
esforço.
Seus olhos se fixaram no
súbito clarão azul atrás da montanha. Teria sido um avião que se espatifara no
chão? Eram 2h30. Colocou a capa plástica e desceu as escadas atapetadas, que
não escondiam o ranger das madeiras
antigas.
Após caminhar vinte e cinco minutos,
chegou à clareira. A chuva já havia reduzido seu volume. Agora, era mais fina
que os pingos das folhas das árvores ao longo da estrada de terra. Não viu
nenhuma fogueira nem vestígios de metais. Não ouviu nenhum ruído similar a um
pedido de auxílio. Acendeu a potente lanterna e iniciou uma investigação mais
minuciosa. Após caminhar uns oitenta metros, observou que diversas árvores
apresentavam uma poda regular, alinhadas ao longo do trecho que ele percorreu.
Porém, onde estavam os galhos que foram decepados? Em paralelo a estas árvores
cortadas, o capim apresentava o aspecto marrom de queimado, numa
largura em torno de dez metros.
Quando estava por retornar,
encontrou algo similar a um cilindro amarelo de plástico, contendo duas
pílulas: uma verde, outra vermelha. Na superfície do tubo, algo que lembrava
uma banana d'água. Existiam diversos caracteres em alto relevo em volta do
cilindro. Não conseguiu ler nada. Estaria em árabe, japonês ou
algum idioma que nunca ouvira falar? O tubo era maleável, mas não
apresentava nenhuma ranhura ou rosca que lhe permitisse retirar as duas pílulas.
Não mudou de forma após levar algumas pancadas com uma pedra. Tentou serrá-la
com seu facão. O efeito foi similar ao de esfregar algodão na sua superfície.
Usou o isqueiro por três minutos e nada mudou. Aliás, mudou: o combustível do
isqueiro acabou e sua mão esquentou. Tocou com a ponta da unha do indicador
numa das beiradas do tubo. Ora que bela surpresa: as pílulas vieram agarradas à
sua unha. Como atravessaram o invólucro se não havia abertura visível?
A vermelha, cheirava à groselha. Redinaldo detestava tal cheiro. A verde emanava uma gostosa fragrância de hortelã. Jogou a vermelha no riacho e colocou a verde na boca. Sentiu uma espécie de vertigem. Talvez uns cinco segundos. Abriu os olhos. O riacho estava inexplicavelmente limpo, com diversas plantas nas margens, livres dos detritos que a vizinhança despejava. Que edificações estranhas eram aquelas a duzentos metros de distância?
Lembravam aqueles castelos
medievais vistos em filmes das cruzadas. De familiar, apenas o céu sem nuvens
(repentinamente com a lua cheia), e as plantas à sua volta. A fileira de
palmeiras parecia a mesma que acompanhava o caminho de terra. Só que estavam
baixas, como se tivessem nascido há poucos meses, com belas folhagens exibindo
um verde vistoso.
Ainda segurava a
"banana" plástica. Agora estava entendendo os sinais contidos na sua
superfície. A mensagem lhe vinha à cabeça sem que fosse
preciso” lê-la". Sentia através da telepatia. O texto era bastante
claro:
"Pastilhas do tempo -
força 250 X 2. Se ingerir a vermelha em primeiro, e a verde a seguir, avançará 500
anos e voltará após 4 horas. Se engolir a verde em primeiro e a vermelha a
seguir, recuará 250 anos, retornando dentro de 2 horas.
Importante:
1) Se o invólucro apresentar
algum defeito ou a data de validade estiver vencida, troque-o em qualquer
posto ao longo da Via Láctea sem nenhuma despesa adicional.
2) Não deixe de engolir a
2ª em até 8 minutos após a 1ª
pastilha!
3) Se engolir a 1ª pastilha
e perder a 2ª, mentalize seu código astral de nascimento (25 algarismos,
incluindo os 3 dígitos verificadores) por 3 segundos e nós o resgataremos em
menos de dois dias. O custo da operação será debitado ao F.E.R.E (Fundo
Especial de Resgate Espacial). Se assim não proceder em até 3 dias, não teremos
como resgatá-lo."
Laboratório E.F.I. (Espaço Futuro Infinito) - para bem servi-lo em
qualquer dimensão, lhe deseja uma agradável viagem pelo
tempo."
Título e Texto: Haroldo P. Barboza, Andaraí, março de
1996. (Menção especial em Broward - EUA - junho de 1998)
Autor do livro: Brinque e cresça feliz!
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