terça-feira, 14 de novembro de 2017

[Para que servem as borboletas?] O cheiro de podre no ar continua...

Valdemar Habitzreuter

Num fato ou acontecimento impactante que mexe com a sociedade nota-se uma reação popular imediata em seu primeiro momento; mas depois, mesmo exposto e explorado por um tempo prolongado na mídia, vê-se a tendência de perder sua importância e interesse para o público. É o que está acontecendo com a Lava Jato; daí o fato de não haver mais pressão e reação do povo para combater, ostensivamente, os malfeitos de autoridades públicas. Parece que só a novidade momentânea desperta estupefação e exigências para que se faça algo pela moralidade, mas de curto prazo; a longo prazo essas exigências vão se diluindo, transformam-se em desinteresse.

Estamos às voltas com a luta da corrupção no país. Mas ela ainda se ostenta com garras poderosas, haja vista toda cúpula do Executivo que age nos bastidores para que não seja apeada de seu trono e, assim, também conspirar e poder se safar de futuras punições. Em outros países democráticos, em sentido forte, isto não seria tolerado: a população não se deixaria governar por corruptos, infratores da moral e ética da vida republicana.

A corrupção é uma praga perigosa e persistente na esfera de nossa política, tudo gira em torno do “toma lá dá cá”, das mais vis negociações infringindo as leis da Constituição. Tudo na surdina, através de manobras sofisticadas para que não chegue ao conhecimento público. 

E essa malandragem de nossos políticos podemos observar ainda agora em plena vigência da Lava Jato. Nada os faz abdicar de sua natureza podre, estão entranhados dessa podridão e nem sequer sentem mais o cheiro fétido que exala dos poros de suas almas. É com esse estrume acumulado em seu caráter que se sentem fortes para enfrentar os que os atacam.

Há, pois, um cheiro de podre no ar; é só observar as manobras que rola no alto escalão do governo e se perguntar por que Torquato foi empossado ministro da Justiça; por que Temer preferiu Raquel Dodge para a PGR; por que o consenso dos delinquentes da cúpula e consorciados pela escolha de Segóvia como diretor da PF; por que os diálogos privativos sem agendamento e entendimentos com ministros do STF; e outras manobras mais que ainda estão em gestação...  Tudo, tudo converge para enfraquecer e mesmo acabar com a Lava Jato.

Mas, o perigo maior é que todo esse entourage a que o governo Temer se cercou, todos estes personagens proclamam com veemência que estão nestes postos para combater firmemente a corrupção e que a Lava Jato é a pupila de seus olhos e será fortalecida e incentivada. Que aberração! Nada mais que um sortilégio muito bem arquitetado e orquestrado para ludibriar o povo. E parece que está funcionando. O povo está dando ouvidos a essas falácias e se acomodando e perdendo o interesse pelo movimento e pelas ações da Lava Jato.

A própria equipe da Lava Jato já está se sentindo abandonada, seu quadro efetivo está sendo aos poucos reduzido e seu poder delimitado pela gangue do poder central. O povo sabe disso, mas opta pela passividade, e que já fez o que teve que fazer. Talvez fique esperando que um meteorito caia sobre Brasília...

O cheiro do ar podre da corrupção que outrora sentíamos forte e o rechaçávamos, agora o inalamos com naturalidade, vamos nos acostumando e comungando com a perspicácia dos corruptos, e nosso apoio à Lava Jato ficou para as calendas. O mau cheiro da corrupção continua pairando no ar, contaminando a sociedade. Somos um povo que engole tudo e ao final parece que nos deleitamos com isso... Um fedido camembert pode ser repulsivo no primeiro momento pelo odor, mas, aos poucos, uma delícia para as papilas gustativas... 
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 14-11-2017

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