Valdemar Habitzreuter
Num fato ou acontecimento
impactante que mexe com a sociedade nota-se uma reação popular imediata em seu
primeiro momento; mas depois, mesmo exposto e explorado por um tempo prolongado
na mídia, vê-se a tendência de perder sua importância e interesse para o
público. É o que está acontecendo com a Lava Jato; daí o fato de não haver mais
pressão e reação do povo para combater, ostensivamente, os malfeitos de
autoridades públicas. Parece que só a novidade momentânea desperta estupefação
e exigências para que se faça algo pela moralidade, mas de curto prazo; a longo
prazo essas exigências vão se diluindo, transformam-se em desinteresse.
Estamos às voltas com a luta
da corrupção no país. Mas ela ainda se ostenta com garras poderosas, haja vista
toda cúpula do Executivo que age nos bastidores para que não seja apeada de seu
trono e, assim, também conspirar e poder se safar de futuras punições. Em
outros países democráticos, em sentido forte, isto não seria tolerado: a
população não se deixaria governar por corruptos, infratores da moral e ética
da vida republicana.
A corrupção é uma praga
perigosa e persistente na esfera de nossa política, tudo gira em torno do “toma
lá dá cá”, das mais vis negociações infringindo as leis da Constituição. Tudo
na surdina, através de manobras sofisticadas para que não chegue ao
conhecimento público.
E essa malandragem de nossos
políticos podemos observar ainda agora em plena vigência da Lava Jato. Nada os
faz abdicar de sua natureza podre, estão entranhados dessa podridão e nem sequer
sentem mais o cheiro fétido que exala dos poros de suas almas. É com esse
estrume acumulado em seu caráter que se sentem fortes para enfrentar os que os
atacam.
Há, pois, um cheiro de podre
no ar; é só observar as manobras que rola no alto escalão do governo e se
perguntar por que Torquato foi empossado ministro da Justiça; por que Temer
preferiu Raquel Dodge para a PGR; por que o consenso dos delinquentes da cúpula
e consorciados pela escolha de Segóvia como diretor da PF; por que os diálogos
privativos sem agendamento e entendimentos com ministros do STF; e outras
manobras mais que ainda estão em gestação...
Tudo, tudo converge para enfraquecer e mesmo acabar com a Lava Jato.
Mas, o perigo maior é que todo
esse entourage a que o governo Temer se cercou, todos estes personagens
proclamam com veemência que estão nestes postos para combater firmemente a
corrupção e que a Lava Jato é a pupila de seus olhos e será fortalecida e
incentivada. Que aberração! Nada mais que um sortilégio muito bem arquitetado e
orquestrado para ludibriar o povo. E parece que está funcionando. O povo está
dando ouvidos a essas falácias e se acomodando e perdendo o interesse pelo
movimento e pelas ações da Lava Jato.
A própria equipe da Lava Jato
já está se sentindo abandonada, seu quadro efetivo está sendo aos poucos
reduzido e seu poder delimitado pela gangue do poder central. O povo sabe
disso, mas opta pela passividade, e que já fez o que teve que fazer. Talvez
fique esperando que um meteorito caia sobre Brasília...
O cheiro do ar podre da
corrupção que outrora sentíamos forte e o rechaçávamos, agora o inalamos com
naturalidade, vamos nos acostumando e comungando com a perspicácia dos corruptos,
e nosso apoio à Lava Jato ficou para as calendas. O mau cheiro da corrupção
continua pairando no ar, contaminando a sociedade. Somos um povo que engole
tudo e ao final parece que nos deleitamos com isso... Um fedido camembert pode
ser repulsivo no primeiro momento pelo odor, mas, aos poucos, uma delícia para
as papilas gustativas...
Título e Texto: Valdemar
Habitzreuter, 14-11-2017
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