domingo, 18 de novembro de 2018

[Pensando alto] Marxismo para principiantes, o voto com os pés e o maluco beleza

Pedro Frederico Caldas

Loucura é ficar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.
Einstein

Ufa! Quantos gatos no mesmo balaio!

Na verdade Einstein atribuiu essa frase a Rita Mae Brown, mas ficou consagrada como dele.

Você já leu O Capital, A Ideologia Alemã, O 18 Brumário de Luís Bonaparte, A Miséria da Filosofia, dentre a prolífica obra de Marx? Não leu?, fez muito bem. É sinal de que você estava cuidando de sua vida, ajudando a si próprio e aos outros. Lendo-os e ouvindo quem os leu, ou quem nunca os leu, mas vive citando-os, poderia ter caído na tentação e ter levado anos e anos aperreando a paciência alheia ou brincando de reordenar o mundo, como um demiurgo enlouquecido. Li-os. Ganhei e perdi lendo-os. Ainda bem que tomei antídotos, enquanto havia tempo, e tenho passado os últimos quinze anos aprofundando, cada vez mais, a leitura de inspirados pensadores, homens de grande suposição.

Marx, como todos sabem, criou o chamado socialismo científico. Antes dele, pensava, havia um socialismo sem pé nem cabeça, um amontoado de boas intenções. Ele teria descoberto o segredo da história e como levar a classe operária ao paraíso. O homem não era pouca coisa, nem padecia de modéstia. A chave de tudo estava em destruir a propriedade privada e libertar a classe operária de um pensamento que não era dela, era-lhe impingido pensar errado e alienadamente por uma superestrutura erigida pela classe dominante. Neste ponto, em contradição insuperável com a sua própria teoria, ele conseguia pensar diferentemente do que pensaria se a sua tese estivesse certa.

Já olharam com atenção para um retrato de Marx? Não parece um bicho grilo, ou um maluco beleza?

Pode até não ser um sem-terra, mas, com certeza, é um sem-barbeiro. Deixemos sua aparência em troca do que realmente interessa, o que ele pensava. Só pensava coisa boa. Querem ver? Mãos à obra.

Os operários, um dia, tomariam o poder, imporiam uma ditadura (Ditadura do Proletariado), aboliriam a propriedade privada, passando todos os bens (fábricas, comércio, bancos, agricultura, subsolo, meios de comunicação etc.) para o Estado. Daí em diante, desaparecido o egoísmo, todos trabalhariam magnanimamente para todos, cada um dando o máximo de sua capacidade, por mais capaz que fosse, não para o proveito pessoal, mas em prol do interesse coletivo. Claro que a coisa não seria tão fácil. Essa marcha, essa etapa da História não se daria sem, digamos assim, alguns, por assim dizer, pequenos incômodos: milhões e milhões seriam mortos ou iriam para campos de trabalho forçado, como efetivamente veio a acontecer; as crianças sairiam da guarda e da autoridade dos pais para a guarda fria, mas correta do Estado; só haveria um partido, um pensamento político e uma vanguarda revolucionária de homens altamente imbuídos de sua missão histórica; o coletivismo superaria o individualismo, todos dissolvidos no amálgama que transformaria o homem até então existente num novo homem, livre e redivivo, talvez a maior obra, a arte final do socialismo. Como proclamaria outro socialista, Mussolini, na vertente fascista do espectro, “Tudo no Estado, nada contra o Estado, e nada fora do Estado”.

Qual seria a cereja do bolo? Cumprida essa etapa da Ditadura do Proletariado, com tudo dissolvido, tudo amalgamado no Estado, este cairia na desnecessidade e desapareceria. Aí ingressaríamos no Paraíso terrestre, entraríamos automaticamente no Comunismo, quando então, como ele diz na obra A Ideologia Alemã, não haveria mais divisão do trabalho, as pessoas teriam tudo o que precisassem e poderiam caçar pela manhã, pescar à tarde, praticar farming ao anoitecer e se engajar em crítica literária após a jantar...  Ele só esqueceu de explicar, apontam os críticos, quem cuidaria de trabalhar para que as pessoas vivessem entretidas em caça, pesca, farming e tertúlias literárias.

Tentativas de implantar esse paraíso terreno foram encetadas em países dos mais diferentes quadrantes, climas, línguas e estágios. Nada deu certo. Tudo desmoronou sem que um só tiro fosse disparado. O que ainda não desmoronou, ou não retornou ao velho e bom capitalismo, como faz a China, está aí como uma espécie de museu dos horrores, a exemplo da Coreia do Norte, Cuba e outros menos votados.

E não foi falta de estudos provando que as teses marxistas, sobre não terem fundamentos científicos, como era pretendido, estavam completamente equivocadas. Pensadores da mais alta suposição refutaram as bases do marxismo, como Eugen von Bohm-Bawerk, Weber, Ludwig von Mises, Heyek, Thomas Sowell, Friedman, Roger Scruton e tantos outros, muitos outros.

Engraçado em tudo isso é que os marxistas, aduladores do povo, nunca tiveram a admiração popular, seu prestígio era e continua sendo abanado e abonado pela chamada esquerda acadêmica. Querem a prova?

Em qual país o povo, em nome de quem os comunistas sempre falaram e se proclamavam cavaleiros andantes, o comunismo chegou ao poder pelo voto? Nenhum. Os militares ou milícias e exércitos improvisados, sob a orientação de intelectuais iluminados, estiveram sempre na base da tomada do poder. Uma vez tomado, jamais o poder voltou a ser disputado em eleições livres. O povo é sempre olhado com suspeição e mantido sob estrito e violento controle. Para não haver risco, os exércitos ditos vermelhos são submetidos, como tudo mais, ao controle do partido.

A queda do Muro de Berlim e as vagas que se sucederam derreando todo o resto do sistema no Leste europeu, por todos nós assistido, chocou a esquerda. A grande maioria abandonou o barco, partidos comunistas mudaram de nome e a mídia esquerdista teve que abrir espaço para as vozes que insistiu não ouvir no passado.

Aí, pessoas que pareciam cegas começaram a envergar algum bom senso, indumentária que, por décadas, jogaram no canto de gavetas não visitadas. Órfãos de suas próprias ideias, desmoralizados de suas próprias convicções, as esquerdas relutaram em jogar ao mar uma carga de custosa manutenção, não mais comercializável no mercado das ideias, embora pesadas demais para carregar nos próprios ombros. Começa então a reciclagem da mercadoria encalhada, já em estado de adiantada decomposição, mediante a militância em causas prosaicas, como a transformação dos cuidados e das políticas em defesa do meio ambiente em estado de religião. Mas não só. Outras bandeiras foram paulatinamente tomadas de mãos prudentes para virar sortilégios, estado a que foram reduzidas as lutas em prol de minorias, que eram sistematicamente desconsideradas, desrespeitadas e perseguidas nos regimes comunistas. Com efeito, os ex-países comunistas eram tragédias ambientais (Mar de Aral, Chernobyl, fábricas poluidoras, águas degradadas etc.) e as minorias, a exemplo dos homossexuais, perseguidas.

Toda essa tragédia da esquerda foi assistida em real time pelo mundo inteiro: gente sofrida fugindo pelas fronteiras da Hungria, da Áustria e de onde mais pudesse para se ver livre daqueles que juravam empunhar o estandarte de salvação das massas oprimidas.

De Cuba, muito mais de um milhão de pessoas fugiram e continuam a fugir para os Estados Unidos, sede do “inferno capitalista” e país “opressor da classe operária”. Noventa mil pessoas morreram tentando atravessar o Estreito da Flórida em cima de qualquer coisa que boiasse, contanto que houvesse qualquer esperança de se verem livres do carinho dos irmãos Castro ou do conforto e fartura oferecidos em Cuba.

Essa fuga, sempre quando possível, desses países, é conhecida como “votar com os pés”. É a atitude mais desesperada de quem não encontra mais nenhuma razão de viver em sua própria terra, deixando para trás familiares, amigos, “emprego certo”, mal levando a roupa do corpo. Conheço várias pessoas nessa situação, algumas trabalham ou já trabalharam comigo. É de dar dó.

Querem um exemplo melhor? Por que o partido comunista russo não ganha a eleição e instala de novo o comunismo na Rússia? Por que nas eleições parlamentares não chega a 12% dos votos? Afinal, lá foi a pátria do socialismo, lá governaram sem oposição por setenta anos. Querem a resposta? Por isso mesmo. E isso se passa em todos países ex-comunistas.

Pessoas já me perguntaram como é que no Brasil, por exemplo, há milhões que apoiam e querem transplantar para o País regimes falidos, perversos, abandonados por homens simples dos países em que foram implantados. Sempre respondo que a mente humana ainda é, em grande parte, uma região imperscrutável, às vezes mais desconhecida que corpos celestes a um milhão de anos-luz da Terra. Sempre insistem que essas posições afrontam realidades palpáveis como as reveladas pelos que continuam votando com os pés. Um amigo da Flórida costuma apontar para o mar e me perguntar se haveria alguém ainda em Cuba caso não fosse uma ilha e tivesse os Estados Unidos ou países latinos por fronteira seca. Não tenho certeza, mas acho que ele tem razão. Arremata as suas elucubrações com uma questão que está na cabeça de todos: Será que ainda querem tentar de novo?

Realmente não sei, mas, como diz a cita preambular, loucura é ficar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes. Nunca podemos duvidar da estultice humana. Há sempre a possibilidade de um maluco beleza fazer a seguinte proposta: Vamos tentar de novo?
Título e Texto: Pedro Frederico Caldas

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Um comentário:

  1. Uma grande Vergonha para os imbecis comunistas é que o seu comunismo foi feito por um Burguês-Coxinha-Judeu Kissel Mordekay, falsamente apresentado como o "filósofo alemão Karl Marx", e pelo Capitalista alemão Friedrich Engels!!! Quer dizer que dois capitalistas fizer o comunismo para a boiada proletária global!

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