Carina Bratt
A senhora Eliana está longe de
ser quem diz. Não quem gostaria de ser realmente, ainda que pegasse e vestisse
uma camiseta com um desses dizeres: “EU SOU CAPAZ”, “EU POSSO”, “EU FAÇO”.
Aliás, nunca será, ainda que se cubra da cabeça aos pés com uma dessas peças,
ou coloque de contrapeso, uma saia nova, um par de sapatos recém-tirados da
loja. Para chegar à perfeição desejada, terá que ser carimbada, rotulada,
amassada, preparada, sacrificada na sua imbecilidade decepadamente cotoca.
Essa pretensão ao posto
almejado está longe de acontecer. Bota longe nisso. A senhora Eliana é burra de
pai e mãe. De filhos também. A titularidade da ‘boa empresária’ não lhe caiu
nos conformes. De empresária boa, dona Eliana está mais para fajutice ao cargo
ou como diria, para o posto ocupado. Aliás, empresária inventada “por sua
conta” imaginativa.
Em verdade, para quem
conseguiu falir em menos de um ano uma rede de escolas de inglês e de
informática, com alunos saindo pelo ladrão, por três vezes consecutivas, jamais
chegará, ou jamais conseguirá se manter em evidência por um tempo que, ao
menos, lhe deixe fora das contaminações de uma empresária sucedida com sucesso
pleno e total. Melhor dito: de uma boa empresária no sentido exato da palavra.
A senhora Eliana não sabe administrar
a própria casa. Uma desordem só. O marido (entre aspas em face de viverem
juntos, maritalmente), é “um banana”. Como “banana”, passa o tempo pagiando um
filho que, apesar de quase dezoito, não se livrou dos caminhos das fraldas e da
chupeta. O moleque não dá um peido sem
que o pai não esteja ao lado, cheirando. Ainda que esse traque venha encanado.
Quando o “pai banana” não está
colado no seu mancebo, absolve suas horas voando de parapente. A senhora Eliana
é “tão sem noção”, tão sem graça, sem sal, sem tempero, que não sabe
administrar a sua atual empresa, voltada agora, não mais para a licenciatura do
inglês e informática, todavia, para o seguimento de telemarketing de cobrança
para empresas financeiras de renome Brasil a fora. E a dentro também, se
duvidar.
A beldade, de casa, do seu
quarto, se acha a rainha da mandioca. Controla sua firma, tudo via Internet,
através de câmeras instaladas estrategicamente, inclusive dentro dos banheiros.
Invasão de privacidade, para ela, não existe. A empresa da senhora Eliana
presta serviços a terceiros por bondade de Jesus. E por que por bondade de
Jesus?! Porque a malparida, não sabe confeccionar uma Nota Fiscal sem que a
mesma não precise ser refeita várias vezes.
As pessoas que dela
necessitam, para a emissão dessas Notas fiscais, carecem enviar repetidos
e-mails várias vezes por dia, até que a senhora Eliana seja capaz de entregar o
documento sem erros. Uma Nota Fiscal tão simples, tão sem frescuras que até uma
criança recém-saída da barriga da mãe, faria em dois minutos, e pior, sem que
os médicos precisassem lhe cortar o cordão umbilical.
Ela, a senhora Eliana, jamais
terá a precisão do burocrático senhor José, funcionário do Conservatório Geral
de Registro Civil magistralmente descrito por Saramago. A senhora Eliana
tampouco alcançará a sutileza de uma Cecília Meireles, ou a profundidade
inquestionável de Cora Coralina. Não aprendeu a diferença entre o lírio e o
lirismo de Clarice Lispector. Ainda que
se passem mil anos, não dirá a seu marido no escutador de novelas:
“Se tu me amas, ama-me
baixinho
Não o grites de cima dos
telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim
Se me queres
Enfim,
Tem de ser bem devagarinho,
Amado
Que a vida é breve,
E o amor, o amor mais breve
ainda...”.
A senhora Eliana ainda que
viva trezentos anos não terá um “amor sem fim” por seu “marido banana”, tipo
aquele amor descrito por Scott Spencer. Igualmente pelo enteado (filho do
“marido banana”). A senhora Eliana não é feliz porque, entre as pequenas coisas
do dia a dia, não sabe dar vida a uma Nota Fiscal. Morrerá solteira das coisas
supérfluas, divorciada de parentes e amigos. Passará pelo mundo apartada.
Desgarrada das coisas boas. Desconectada. Notadamente arredada dos pequenos
mimos que a conduziriam ao sucesso, se deixasse de lado a estupidez trazida dos
tempos de infância.
O seu cotidiano é vazio... oco
de cores, destituído de sabores. Ausente de esperanças, de alegrias, até de
tristezas. As tristezas fogem dessas pessoas cheias de pequenos buraquinhos,
como se assemelhassem a uma peneira. Dona Eliana e uma merda sem sentido. Até
para se sentir triste, tem que, acima de tudo, possuir um coração. E a senhora
Eliana, no lugar do coração, não tem porra nenhuma. Morrerá à espera de alguma
coisa que a faça renascer para os braços gélidos da prematuridade.
PS: Não posso deixar de
registrar dois “eventos” dos quais participei (eu e Aparecido) quase que um em
cima do outro, em atropelo voraz. Vou chamar de “evento”, para não lembrar a
tristeza infame da presença fria da morte. Num primeiro momento, da cantora
Beth Carvalho, lá no Rio de Janeiro e, por derradeiro, o passamento do diretor
de teatro Antunes Filho, aqui em São Paulo. E por que “evento” se em ambos
celebramos o falecimento de pessoas dignas e importantes? Simples! Essas duas figuras que partiram, eram
públicas, conhecidíssimas e viviam na mídia.
Porém, nunca se soube que um
deles tivesse feito alguma coisa feia ou repulsiva ou indigesta, tipo roubo,
lavagem de dinheiro, ou praticado qualquer outro ato contrário às leis. Beth
Carvalho e Antunes Filho viviam do seu trabalho. Viviam da profissão. Nunca
foram presos ou processados por golpes ou por terem recebido propinas.
Exemplo para os nossos
ilustres governantes, deputados, os cambaus, que aparecem todos os dias na
televisão, não pelo que fazem de útil. Pelas falcatruas e roubos que praticam e
se beneficiam. Isso causa uma sensação de perda ainda maior. De impunidade,
para ser mais exata.
Essas criaturas conhecidas
como “políticos” envergonham a sociedade. Emporcalham a nação. Percebam que uns
tem o PODER e usam esse poder, para a alegria da grande massa. Outros usam o
mesmo PODER, para denegrirem a própria imagem e a cara empobrecida desse Brasil
tão lindo e encantador.
Parabéns à Beth Carvalho e
parabéns ao Antunes Filho. Serão lembrados sempre pela DIGNIDADE, pelo DECORO,
pela TRANSPARÊNCIA DE SEUS ATOS, enquanto os demais abraçados às poules de
Brasília, pelas DEGENERESCÊNCIAS DE CARÁTER, sobretudo, pelas DEPRAVAÇÕES e
PUTRECÊNCIAS INFINITAS QUE NÃO CANSAM DE ESPALHAR.
Título e Texto: Carina Bratt, de São Paulo, Capital.
5-5-2019
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