sábado, 4 de dezembro de 2010

"Cavaco Silva é um dos raros políticos com um pensamento próprio sobre Portugal"

Cavaco Silva é um dos raros políticos no activo com um pensamento próprio sobre Portugal. Goste-se ou não, concorde-se ou não, é um facto. Os seus mandatos como primeiro-ministro e como presidente da República mostram-no sempre igual a si mesmo. Um defeito para uns e uma qualidade para outros. Agora que as circunstâncias obrigam os portugueses, incluindo as suas elites, a reverem conceitos e preconceitos, há defeitos que, a esta nova e fraca luz, assumem aspectos positivos. Um absurdo? Nem por isso. Cavaco foi sempre um solitário, sem enraizamento partidário. Ganhou o congresso da Figueira da Foz em circunstâncias inesperadas segundo os analistas de serviço. Tudo nele contrariava o estereótipo então consagrado do político. Não se lhe conhecia ideologia clara, facção ou seguidores. Talvez por isso pode pensar e fazer, sem grandes encenações mediáticas ou dramatismos e sem grande preocupação de negociações ou consensos. Um mandão, um prepotente, um tirano, dizia-se. Mas as vitórias que se seguiram revelaram este desiderato bem português do "haja quem mande". A que se juntou uma ideia arrojada sobre Portugal, os portugueses e as suas capacidades, testada num período de realizações e mudanças propícias a uma ideia de progresso e a um reforço da sempre fraca auto-estima nacional.

É certo que o cavaquismo - a pior herança que deixou -, obra sobretudo de alguns dos próceres à solta na recta final dos seus mandatos, tem facetas execráveis; é certo que nem tudo o que foi feito se revelou positivo; é certo que alguns problemas estruturais que perduram podiam ter sido atacados; é certo que alguns ingredientes do pior da nossa cultura colectiva nasceram aí. Mas é igualmente certo que, numa relação custo benefício, o benefício foi superior ao custo.
Não me espanta pois que na apresentação do seu Manifesto Eleitoral, Cavaco Silva se visse rodeado por pessoas muito diversas. Provavelmente pessoas que vêem nas suas qualidade e nos seus defeitos as qualidades e os defeitos certos para se ser presidente da República no Portugal dos próximos cinco anos. Sobretudo após um mandato em que, Cavaco Silva, igual a si próprio, desorientou, desde logo, tudo e todos, com os temas que abordou, a posição supra partes em que se colocou, as chamadas de atenção que foi fazendo, a magistratura silenciosa da mediação e da influência, a interpretação rigorosa dos seus poderes. Ao contrário do que tantos vaticinavam, Cavaco não foi um primeiro-ministro em Belém, resistiu à tentação, se é que a teve, de se imiscuir na governação e interpretou o seu papel com firmeza e segurança, indiferente às críticas dos que o achavam indeciso ou timorato por não "deitar o Governo abaixo", numa confusão involuntária ou premeditada sobre as competências do presidente e as competências da Assembleia da República.
Nestes cinco anos, enquanto o primeiro-ministro envolto numa aura messiânica inventava com perigoso voluntarismo um país que nunca existiu, o Poder Judicial entrava claramente numa crise de valores e em convulsão sistémica e a Assembleia da República parecia, justa ou injustamente, o recreio de uma escola secundária, o olhar dos portugueses foi-se virando para Belém. Hoje o valor maior é o da confiança e procuram-se políticos que exerçam com rigor, com conhecimento, com bom senso e justeza o seu mandato. Hoje, depois de tanto ilusionismo político, a verdade começa a ser apreciada e a maioria dos portugueses já não quer ser docemente enganada. Hoje requer-se competência e não apenas jeito ou talento histriónico.
Cavaco Silva tem um olhar português. Conhece o País e conhece os portugueses, tem um pensamento para Portugal e uma ideia de futuro e acredita que esse futuro pode ser diferente do futuro negro que este presente atribulado nos oferece. A sua candidatura representa isso mesmo: a nossa hipótese mais fiável de podermos trocar de futuro e de voltar a ter esperança. 
Maria José Nogueira Pinto, Diário de Notícias, 02-12-2010

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