quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Vamos privatizar Chico Buarque

Ana de Hollanda, com dois eles, a irmã de Chico Buarque de Holanda, com um ele só, vai assumir o Ministério da Cultura. Ok. É uma boa oportunidade para lançar uma campanha nacional, cuja síntese pode ser esta: “VAMOS PRIVATIZAR CHICO BUARQUE”.
Por que escrevo isso sobre o nosso colecionador de Jabutis? A Caixa Econômica Federal, fundada em 1861, faz 150 anos em 2011. Resolveu investir R$ 12,5 milhões num certo Projeto Chico Buarque, que já teve início neste ano. O banco patrocinou um livro, lançado pela Companhia das Letras, chamado “Esta História Está Diferente”. Dez autores escreveram contos inspirados nas músicas do compositor. Mesmo com a bufunfa da CEF — quer dizer, sua, leitor —, o livro pode ser comprado por R$ 45. O projeto foi concebido em 2008 como parte das comemorações pelos 60 anos de Chico, que tinha 64 àquela época, e se concretizou em 2010, aos 66. A poesia não respeita as fronteiras da matemática.
A CEF patrocina também, como parte das festividades pelos seus 150 anos,  um filme inspirado na música “Olhos nos Olhos”, dirigido pelo diretor Karim Aïnouz. O diretor deu uma pista do roteiro a um site: “É a história de um casal que está junto há 14 anos, acaba de se mudar para um apartamento novo em Copacabana e se separa. O personagem do marido é um locutor e dublador que, sem coragem de olhar nos olhos dela, literalmente, grava uma mensagem dizendo que está indo embora. O filme é 24 horas na vida dessa mulher…” Original. Acredito que ela se vingue no fim, para poder dizer ao marido: “Quero ver como suporta me ver tão feliz…” O banco também vai patrocinar uma minissérie inspirada na obra do autor e um DVD com o show que estréia no ano que vem.

O Ministério da Cultura — mesmo a atual gestão, destronada pela turma de Ana de HoHollanda, a maninha, e Antonio Grassi — aprovou em outubro a captação de R$ 1,5 milhão pela Lei Rouanet para a montagem de uma peça inspirada no jabutizadoLeite Derramado.
Se você clicar aqui, verá quanto a CEF pretende investir em cultura em 2011 fora do capítulo “Chico Buarque”: R$ 33,1 milhões. Projetos podem ser contemplados com uma verba que varia de R$ 50 mil a R$ 400 mil. Chico, sozinho, sai pela bagatela de R$ 12,5 milhões. Entendo. Vocês sabem que articulistas já derramaram rios de leite exaltando a tal compreensão que Chico teria da alma feminina. Pois é. A presidente da CEF, Maria Fernanda Ramos Coelho, também pode se orgulhar de compreender a alma de Chico Buarque.
É evidente que esses projetos poderiam ser tocados sem dinheiro da CEF. A iniciativa privada financiaria tudo e qualquer coisa relativa a Chico porque vende e rende — pô, o cara é considerado até o nosso maior romancista, mesmo sem saber escrever romances! Então por que a obsessão pelo dinheiro público? Vai ver essa coisa toda está ligada àquela velha desconfiança que o nosso mais importante marxista (em prosa e  verso) tem do capitalismo. Ele só se sente à vontade se suas metáforas forem patrocinadas pelo povo.
Está lançada uma nova campanha: VAMOS PRIVATIZAR CHICO BUARQUE!
Reinaldo Azevedo

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