sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Ilusões

João Bosco Leal

Quando jovens, todos possuímos muitas e variadas ilusões. São ilusões com carreiras, dinheiro, viagens, maridos ou esposas, dentre tantas outras. Alguns querem ser ricos e bem sucedidos, outros, se considerando gênios, têm convicção de que fundarão uma nova e milionária empresa, assim como fez Bill Gates.

Há os que desejam conquistar astros de cinema ou televisão, como Tom Cruise, Robert Redford, Jennifer Lopez, Luiza Brunet ou Ana Paula Arósio, dependendo do sexo ou da preferência de quem tem a ilusão.

Com o passar do tempo, começamos a perceber que todos esses astros já não são assim tão bonitos, que já possuem rugas, engordaram, que estão envelhecendo. Passamos então a admirar a beleza de outros, mais jovens, e, aos poucos, vamos nos esquecendo dos anteriores e nosso símbolo de beleza passa a ser outro.

O mesmo ocorre com nossos desejos de sucesso, que, se antes eram o de inventar uma Microsoft, com o tempo passam a ser o de inventar uma nova Brastemp, e mais tarde já nos satisfazemos em montar uma simples fábrica de geladeiras, que não seja assim nenhuma Brastemp, mas que venda bem.

Sobre nossas carreiras, na juventude imaginamos que seremos médicos, engenheiros, advogados, ou de qualquer outra profissão, desde que certamente uma pessoa de renome internacional, tamanha nossa competência. Que inventaremos vacinas para as doenças mais graves, desenharemos obras inimagináveis, daremos palestras sobre leis ou novas fórmulas matemáticas que descobrimos.

O tempo passa, nos formamos, casamos, temos o nosso primeiro filho e tudo se transforma. Após seu nascimento, todas as nossas metas são alteradas, pois, agora, em nossos planos, existe mais um, e ele é que é o astro principal. Muitas ilusões continuam, principalmente as materiais, mas o “eu”, agora, já é outro, é “ele”.

Começamos a ter alguns sentimentos que eram inexistentes até então, como a preocupação com o futuro, pois, mesmo que em nossas cabeças possa permanecer a ilusão da invenção de uma nova Microsoft, já entendemos que só nasce um Bill Gates, um Pelé ou um Ayrton Senna a cada século, e que, pelo menos até aquele momento, não somos ninguém semelhante a eles.

Algumas mudanças quanto a essas nossas ilusões da juventude vão ocorrendo lentamente, e nossas opiniões, sejam sobre beleza, política ou economia, também vão se alterando, sendo lapidadas, melhoradas, e entramos então em uma nova fase, onde os valores são outros e a educação e a saúde daquele nosso filho pesam muito mais do que você ser rico ou conhecido internacionalmente por suas realizações.

Você vê em uma foto que a Rachel Welch envelheceu, mas está uma coroa bem enxuta, e que poucas mulheres atingem sua idade com aquela beleza. Que você não inventou uma nova Microsoft, uma Brastemp, nem uma outra fábrica de geladeiras que vendem bem, mas que aquele seu filho já se formou, está indo muito bem profissionalmente, casou e te deu seu primeiro neto, dos muitos que deseja.

Consegue visualizar agora, em seus filhos, as mesmas angústias pelas quais passou e já possui maturidade suficiente para poder dizer-lhes o que gostaria de ter ouvido e não ouviu, ou que, se ouviu, como todo jovem, rebeldemente não deu importância, pois quem lhe falou foi um velho, que não sabe de nada.

“Não se preocupe, meu filho, tudo vai dar certo, você só começou a perder algumas ilusões, e isso é bom. Ilusões são muito perigosas, pois não possuem defeitos. Agora você começará a sonhar, e, se mantiver os pés no chão, o sonho é sempre possível de ser realizado”.
Texto e imagem: João Bosco Leal 

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