Bandeira da Costa do Marfim |
O conselho dado aos europeus para deixarem a Costa do Marfim prenuncia o agravamento de um longo conflito com origem em 2000. De facto, desde as eleições daquele ano, em que Alassane Ouattara foi impedido de se apresentar, que a Costa do Marfim vive em tensão quase permanente. O processo para se chegar às presidenciais que deram agora a vitória a Ouattara foi demorado - as eleições estiveram previstas para 2008 e 2009. A sua realização parecia assinalar o fim da instabilidade que tem minado o país.
O sucedido nestas semanas demonstra o contrário. O Presidente cessante, Laurent Gbagbo, que mostrou saber utilizar a rua em 2000, quando os seus partidários ocuparam Abidjan apressando a sua designação como Chefe do Estado (ainda que fosse consensual a vitória nas urnas), mostra que este sabe que a essência do poder em África passa, antes de tudo, pela sua posse e exercício fáctico. E desde que assumiu a Presidência demonstrou-o em várias ocasiões, por exemplo na guerra civil de 2002. À custa da estabilidade da Costa do Marfim, como tantas vezes sucedeu em África no último meio século.
Com fortes apoios internos, Gbagbo pode ser alvo de sanções da UE e dos EUA e sobreviver no poder, como sucedeu e sucede noutros países do continente. Um facto pode ditar a diferença. A União Africana adoptou uma inequívoca posição comum, suspendendo a Costa do Marfim, e considerando ilegítima a atitude de Gbagbo. Falta à UA apoiar a atitude política com sanções económicas, o que pode fazer, por exemplo, através da CEDEAO, de que a Costa do Marfim é membro.
Em Abidjan, Gbagbo disse estar determinado a resistir. A diferença entre a sua permanência ou o abandono do poder indicará se em África se escreve ainda um mesmo capítulo da sua história, ou se estamos perante um novo capítulo.
Editorial, Diário de Notícias, 23-12-2010
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