quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A ironia sem-abrigo

Nouriel Roubini, professor na New York University’s Stern School of Business. Foto: Bloomberg
André Macedo
Não falo alemão, não leio uma palavra de alemão, nem vejo televisão alemã, mas posso dizer com segurança teutónica que os alemães são mestres na fina arte da ironia. Posso também dizer, com relativa segurança, que as 50 medidas para relançar a economia propostas por Sócrates são mesmo o melhor que o País poderia desejar nesta altura de crise aguda. E, ainda com mais convicção, posso afirmar que o meu optimismo panglossiano - de Pangloss, o defunto futebolista francês com nome de personagem de romance - me leva a crer que, como tudo foi criado para uma finalidade, tudo está necessariamente destinado à melhor finalidade. A frase não é minha, é de Voltaire, mas, como escrevo com ironia, pareceu-me feliz a citação. Por falar em felicidade, lembrei-me logo de Medina Carreira, sobre quem escrevi ontem neste espaço. Na verdade, escrevi sobre a mansão que Nouriel Roubini, o economista americano conhecido como dr. Doom, acaba de comprar em Manhattan.
Naturalmente, todos perceberam que não estava a ser irónico quando disse que ele, Nouriel Roubini, era o Medina Carreira americano, já que o nosso Medina - o que não comprou palacete nenhum, infelizmente - também antecipou a crise muito antes de nós a sentirmos na pele. Mas, por irónico que pareça, imaginemos que Medina tinha realmente feito um investimento parecido numa invejável mansão na Quinta Patiño. Não seria este um precioso indicador de que, em breve, haveríamos todos de ter uma economia mais próspera? Se o sombrio (e tantas vezes oportuno) Medina acreditasse em dias melhores e o demonstrasse com o próprio dinheiro, porque não haveríamos nós também de acreditar e investir? São coisas destas que me fazem suspeitar que o destino é mesmo uma fina ironia que nem sempre estamos dispostos a compreender ou imaginar. Medina Carreira, estou certo, compreende e imagina; por isso vê o que à maioria escapa. Medina, faça-nos o favor, compre já o palacete!
André Macedo, Diário de Notícias, 23-12-2010
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