segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Wikileaks, ética, anti americanismo e Lula, o grande líder

Lula já se prepara para ser o grande líder dos protestos a favor do governo
Leia primeiro o post abaixo
Lula, o libertário — aquele que pretende que uma comissão decida no Brasil quando um veículo de comunicação deve ser punido por, sei lá, excesso de liberdade de expressão!!! — está praticamente convocando uma manifestação pública em defesa do WikiLeaks. Ele é bom de fora.
Antiamericanos locais e globais o convenceram de que há aí uma boa causa. Ao se manifestar certa feita sobre a sentença da “Justiça” do Irã que condenara Sakineh ao apedrejamento (agora, é só a forca…), um Lula muito pudoroso ponderou que não era correto a gente ficar se metendo nas leis de um outro país. Também foi esse o conselho que deu sobre os dissidentes cubanos, aproveitando para comparar presos de consciência de lá a bandidos comuns de cá. Nos três casos, bem pensado, seus inimigos eram um só. Apoiar Irã, Cuba ou o WikiLeaks significa satanizar os EUA.

Lula só se mete com as leis suecas e americanas. Dessas, ele não gosta, não! Na semana passada, ao afirmar, como se fosse protesto, que não via manifestações em favor de Assange e da liberdade de imprensa, fazia um abordagem um tanto irônica, como a dizer: “Pô, vocês enchem tanto o saco do meu governo com isso! E o ‘whiskyleaks”? Convenham: ele nada mais fazia do que explorar uma confusão que originalmente nem é dele. Como já disse, se a imprensa não consegue distinguir crime de liberdade de expressão, Lula se sente à vontade para não distinguir liberdade de expressão de crime, na melhor escola Franklin Martins…
Ele já anuncia a sua trajetória de palanqueiro em defesa de causas: “Podem estar certos que nos encontraremos em algum lugar desse país, em alguma assembléia, em alguma passeata, em algum protesto, não contra a Dilma, mas em algum protesto contra alguma coisa.”
Está combinado! Lula passa a ser o grande líder dos protestos a favor do governo, entenderam? A rigor, continuará a fazer o que fez nos últimos oito anos. Se, do lado de lá, estiver um governo da oposição, tanto melhor.


Tudo vai ficando muito claro: Lula, o grande democrata, quer participar de ato público em favor do WikiLeaks
Abaixo, escrevo um texto demonstrando como os adversários da democracia ocidental dos mais variados matizes estão se aproveitando do caso WikiLeaks, que conflui para um único objetivo: desmoralizar a democracia americana e transformar os EUA no grande vilão do mundo. Recomendo a leitura. Pois bem. Leiam o que segue. Comento no post seguinte:
Por Simone Iglesia, na Folha Online:
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta segunda-feira que, ao deixar o governo, não ficará dentro de uma “redoma de vidro” e que participará de protestos. Brincou que só não participará de manifestações contra sua sucessora,Dilma Rousseff. Segundo ele, o primeiro evento nas ruas pós-governo poderá ser pela liberdade de imprensa e pela defesa do site WikiLeaks.
“Podem estar certos que nos encontraremos em algum lugar desse país, em alguma assembléia, em alguma passeata, em algum protesto, não contra a Dilma, mas em algum protesto contra alguma coisa. Um protesto porque censuraram o WikiLeaks, vamos fazer manifestação, porque a liberdade de imprensa não tem meia cara, tem que ser total e absoluta, não pode desnudar só um lado. Tem que desnudar tudo”, disse Lula durante entrega do Prêmio Direitos Humanos 2010.
Dizendo que apanhou até cair no chão durante a crise do mensalão, em 2005, o presidente disse que deveria ter sido atendido, naquele período, pela Comissão de Direitos Humanos. “O governo precisava da Comissão de Direitos Humanos para defendê-lo porque a linha de ataque era violenta, raivosa, aquele negócio de que é hora de acabar com o governo e bater no governo até cair no chão”, afirmou. Lula disse que pediu ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, que entregue nos próximos dias relatório da situação da busca de corpos no Araguaia.
A cerimônia de premiação foi interrompida duas vezes por manifestantes. Primeiro, um grupo aproveitou uma brecha em que ninguém estava discursando e gritou em coro “Abertura dos arquivos já”. Em seguida, quando Lula discursava, uma manifestante parou em sua frente e abriu uma faixa pedindo audiência com ele ou com a presidente eleita, Dilma Rousseff.
A manifestante, Ana Elisabeth Faria Costa, disse depois do evento que um irmão e outras quatro pessoas estão presas por índios dentro de uma reserva no Pará. Ela disse correr risco de morte por vir a Brasília protestar. Depois das duas saias-justas, Lula fez elogios à atuação de Paulo Vannuchi na Secretaria de Direitos Humanos e acabou cometendo uma gafe que logo tentou minimizá-la. O presidente disse à deputada Maria do Rosário (PT-RS), que assumirá a secretaria no governo Dilma, que ela poderá se esforçar ao máximo, mas que nunca irá superar Vannuchi na área, no máximo, terá seu trabalho igualado a ele. Ao perceber o mal estar causado por sua frase, Lula remendou que não se deve nunca duvidar do potencial das mulheres.
“Acho, Maria do Rosário, que você pode fazer o máximo que fizer, mas vai apenas fazer igual [a Vannuchi]. Mais do que foi feito nesse período, acho impossível. Se bem que na política nada é impossível. E como as mulheres estão galgando mais espaço na política, o que parece impossível para os homens pode ser baba para as mulheres”, afirmou.


O diabo na alma do Ocidente
A capa do caderno Aliás do Estadão deste domingo trouxe o seguinte título: “Liberdade à sombra”. E se pode ler ali uma síntese do que vai no miolo:
“Sakineh Ashtiani? Presa. Liu Xiaobo? Preso, Julian Assange? Preso. São três personagens diversos, a desafiar establishments. Nesta edição, Mohammad Mostafaei, de seu exílio na Noruega, conta como o caso de sua cliente mais famosa, a iraniana condenada ao apedrejamento, é tratado pelo governo de Teerã. O escritor e dissidente chinês Ma Jian analisa por que Pequim quer apagar da história o Nobel de Xiaobo. E Sérgio Augusto percorre o labirinto de acusações que hoje cerca Assange, o polêmico criador do site WikiLeaks.”
Todos sabem: não participo do culto a Julian Assange; não acho que sua “missão” seja virtuosa para a democracia; acredito que o trabalho do WikiLeaks, da forma como se dá, flerta abertamente com a delinqüência. E já expus aqui fartamente os meus motivos. Isso nada tem a ver com liberdade de imprensa. Que ela publique o que quiser já que se sente confortável em ser parte de uma cadeia que, na origem, é criminosa. Roubar dados sigilosos é crime, e um estado que não procurasse coibi-lo e punir os responsáveis estaria renunciando a seu papel.
“Eu só cheiro o pó; não faço o tráfico”, poderá dizer um homem honrado. “Eu só compro relógios e carros roubados; não sou eu quem os rouba”, poderia dizer outro homem honrado… Comparação exagerada? Ora, então me digam onde está a diferença. “No interesse público!”, responde alguém de imediato. Sei… Isso, por acaso, quer dizer que o sigilo das políticas de estado nunca é de interesse da coletividade? A derrota da Alemanha nazista talvez deva pôr tal juízo em perspectiva! Qual é a tese? Quando elegemos governos, segundo leis e regras democráticas conhecidas, nós lhes atribuímos a função de arbitrar o que pode e o que não pode ser tornado público, segundo leis. É uma das regras do jogo. Mesmo esse aspecto perde um pouco de relevância agora.
Já escrevi aqui algumas vezes que o WikiLeaks, mesmo com esses vazamentos irrelevantes, estava servindo para desmoralizar a democracia mais importante do mundo, alimentando, assim, o antiamericanismo tosco. Lula, como sempre, esteve entre aqueles que perceberam o mal com antecedência, e, por isso, ele pôde falar besteira primeiro. A “síntese” do caderno Aliás, do Estadão, não poderia ser mais reveladora; as palavras fazem sentido, e o que vai na página do jornal é claro: Julian Assange, Sakineh e Liu Xiaobo são figuras equivalentes; os três lutam contra “establishments” e estão presos. Tal consideração poderia ser publicada num jornal de Teerã ou distribuída pela Irna, a agência de notícias do governo.
Trata-se de um raciocínio escandaloso, ideologicamente orientado, ainda que a motivação do editor tenha sido outra.
No miolo do caderno, conforme se anuncia, há três textos. Andrei Netto faz uma boa entrevista com Mohammad Mostafaei, advogado de Sakineh. Ma Jian, um dissidente chinês, detalha a Carolina Rossettti a rotina de um regime em que a modernização é imposta no porrete. E coube a Sérgio Augusto, num texto intitulado “Candidatos a ‘homens do ano’”, forçar a mão para demonstrar que Assange, Liu Xiaobo e Sakineh são prisioneiros políticos de regimes distintos, mas vítimas de um mesmo mal que, não obstante, assume faces diversas. Suas palavras não deixam margem para interpretações alternativas. Leiam um trecho:
Liu Xiaobo não pôde ir a Oslo, Julian Assange pode estar indo para Estocolmo. Liu ganhou o Nobel da Paz, periga de Assange levar o próximo (indicado pelos russos já foi). Ambos estão atrás das grades: Liu na China, cumprindo pena de 11 anos, Assange na Inglaterra, desde terça-feira. Liu é um preso político, Assange também, a despeito dos esforços das autoridades britânicas e suecas para enquadrá-lo como um reles delinquente sexual. Mesmo com o vulcão Eyjafjallajökull adormecido, o norte da Europa está pegando fogo. Liu e Assange foram os “homens do ano”, junto com a iraniana Sakineh (o sexo é de somenos nessa categoria): três vítimas de diferentes formas de autoritarismo, três exemplos de coragem e resistência.
Pronto! Todo o resto, no fim das contas, é desnecessário. Sérgio Augusto decretou o empate entre estas três ditaduras: os EUA, a China e o Irã. Tudo o que a delinqüência política e intelectual busca mundo afora é provar a hipocrisia e a falência da democracia ocidental. Se pensarem bem, é essa a motivação da rede terrorista Al Qaeda: “Queremos provar que são eles [os ocidentais, os decadentes, os americanos e seus asseclas] a fazer aquilo de que nos acusam”. A partir do texto se Sérgio Augusto, sabemos que viver é muito perigoso: em Londres, Nova York, Pequim ou Teerã. Osama Bin Laden tem procurado demonstrar isso de modo mais evidente desde a derrubada das Torres Gêmeas e do atentado ao prédio do Pentágono. Qual é o problema desse rapaz? Bem, ele é um tanto exagerado, não é?, e acaba militando contra a causa.
Como percebemos — e Sérgio Augusto não está sozinho nesta abordagem —, Julian Assange conseguiu disseminar esse ponto de vista sem explodir uma única bomba ou fazer verter uma gota de sangue. Americanos (e seus sequazes em Londres ou Estocolmo) não seriam menos autoritários do que chineses ou iranianos quando os interesses dos respectivos “establishments” (assim mesmo, no plural e, na verdade, num singular que a todos englobaria) estão em causa. Se for preciso, os EUA demonstram a sua face chinesa ou iraniana. O que Sérgio Augusto e nenhum outro articulista conseguiria explicar, se acordo com seu próprio raciossímio, é por que o Irã e a China não conseguem exibir o seu lado americano.
Que diferença faz o fato de o Irã ser um país notório por suas farsas jurídicas, agora incrementadas com filminhos de suspense na TV em que a vítima é obrigada a atuar como atriz da própria desgraça, horror que nem Goebbels, o mais articulado das facínoras da “comunicação de massas”, imaginou? O que importa que, na China, a tirania do Partido Comunista seja vista como base necessária da modernização capitalista? Nem e noutro casos, dissidentes vão para a cadeia ou são eliminados em praça pública. Criticar tais países já se tornou quase uma rotina burocrática do humanista padrão.  Sérgio Augusto e o editor do Aliás estão certos de que coragem grande mesmo é denunciar os Estados Unidos e a Suécia…
Porrada nos conservadores
O Ocidente, como vemos, não é  flor que se cheire. Mas nem todos devem apanhar igualmente. É claro que a “direita” e os “conservadores” têm de tomar mais porrada. Sérgio Augusto escreve que Obama ainda não tomou providências contra Assange e o WikiLeaks — falso: seu governo se mobilizou contra o site, no que faz bem —, mas seu bicho papão, como de hábito, são os sanguinários republicanos… Como vocês sabem, esses “fundamentalistas cristãos” não são muito diferentes de terroristas islâmicos…
Ocorre que Assange está preso na Inglaterra sob a acusação de estupro na Suécia. Ao contrário do que vende aquela chamada na capa do caderno, Sérgio Augusto NÃO “percorre os labirintos da acusação” coisa nenhuma! Limita-se a endossar as restrições feitas por Glenn Greenwald, para quem a história não está bem-contada, pondo sob suspeição o sistema legal sueco. Vocês sabem como Estocolmo pode se confundir com Teerã… Como faltam elementos para endossar as suspeitas de condução política, resta ao jornalista brasileiro repetir Greenwald: provar que a “lei do estupro” na Suécia é absurda, exagerada, “porta aberta para uma próspera indústria do (falso) estupro, mão na roda para mulheres levianas e advogados inescrupulosos”. Posso até concordar com isso.  Mas cadê a evidência de condução política? Ademjais, um dia Sérgio Augusto deveria refletir sobre a lei brasileira, país que, não sendo, assim, uma Suécia, pode considerar, a depender das circunstâncias, o beijo uma variante do estupro…
Sergio Augusto parece ter ainda um outro argumento definitivo em favor de Assange. Leiam:
O WikiLeaks não divulgou de roldão 250 mil sigilosas mensagens diplomáticas. De tão explorada, essa balela corre o risco de virar “verdade”, no sentido que o dr. Goebbels dava à palavra. Dos 251.297 documentos que tem guardados, o WikiLeaks divulgou, até o momento, cerca de mil. E só o fez depois de se aconselhar com as cinco organizações jornalísticas (The Guardian, The New York Times, El País, Le Monde, Der Spiegel) que aos vazamentos se associaram e por eles são corresponsáveis.
Goebbels é lembrado com propriedade nesse trecho. O jornalista considera que o fato de Assange ter anunciado 251.297 documentos e divulgado apenas mil até agora conta a seu favor, como se isso não pudesse caracterizar uma forma de chantagem, a exemplo do que ele já fez com as informações que diz ter sobre um “grande banco americano”, que todos sabem ser o Bank of America. Vejam com que tranqüilidade Sérgio Augusto dá de barato que seja de Assange a prerrogativa de divulgar dados sigilosos obtidos de modo criminoso. Açambarcou uma prerrogativa do estado. Mais: para o jornalista, o “aconselhamento” de cinco organizações jornalísticas elimina qualquer resquício de crime. Por quê? O WikiLeaks ter chamado esses veículos para lavar a origem criminosa dos dados vazados muda a sua essência moral?
Desde o primeiro texto que escrevi a respeito desse caso, eu queria chegar justamente a este ponto, sintetizado com tanta percuciência por Sérgio Augusto. Pouco importam suas intenções, que não sei quais são — mas não cheiram bem —, Julian Assange é hoje um pretexto para a desmoralização dos regimes democráticos e de seus mecanismos de mediação e controle de conflitos. Eis aí. Essa abordagem, reitero, não é só do jornalista brasileiro, não. Neste fim de semana, por algumas horas, fiquei zapeando TVs dos EUA, da França, de Portugal… Essa bobagem vai se repetindo mundo afora.
Se há um empate entre EUA, China e Irã, devemos supor que esses “analistas” queiram o desempate, não é? E ele só se realizariam, vejam que desdobramento lógico fabuloso!, se americanos (e ocidentais) deixassem de punir até os crimes para que seus algozes, do outro lado, continuassem a punir inocentes — ou “criminosos” de consciência; só saberíamos defender a superioridade do nosso regime deixando impunes os nossos criminosos.
O terrorismo começa a ser o vitorioso moral da batalha. Quem não sabe a diferença entre o crime e a liberdade de expressão acaba, fatalmente, condescendendo com quem não distingue a liberdade de expressão do crime. Na China e no Irã, uma coisa e outra se equivalem. E, estamos vendo, de modo espelhado, mas guardando a malignidade essencial da equivalência, o mesmo se dá entre nós. Os principais adversários da democracia não usam turbante. O mal está dentro de nós.
Reinaldo Azevedo

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