sexta-feira, 8 de abril de 2011

Realengo: Governo usa tragédia para fazer marketing político e pessoal!

Há duas notas do Painel da Folha, editado por Renata Lo Prete, cujo conteúdo merece comentário. Lembrem-se que o Painel é a mais tradicional coluna da imprensa brasileira voltada para os bastidores. O que quero dizer com isso? O Painel não é exatamente uma coluna de opinião — como é, essencialmente, o meu blog. Se a nota está ali é porque, no mínimo, algumas pessoas ligadas ao governo confirmam a informação. Seguem os textos do Painel em preto, com comentários meus, em azul.
PRIMEIRA NOTA
Alguma resposta
A decisão governamental de lançar campanha pelo desarmamento na esteira dos assassinatos em série cometidos por um atirador numa escola pública do Rio resulta menos da crença na relação direta entre as duas coisas e mais da necessidade de dar alguma resposta imediata a tragédia de tamanhas proporções.
A ideia de promover uma ofensiva de publicidade institucional antiarmas surgiu pela primeira vez no final de fevereiro, quando a divulgação do Mapa da Violência revelou, entre outras tendências, o crescimento dos homicídios entre a população jovem. De início, pensava-se lançar a campanha em junho, mas agora o cronograma deverá ser antecipado.
Comento
Então eu estava certo nas duas coisas:
a) o próprio governo considera que a campanha do desarmamento não tem nenhuma relação com o evento de ontem;
b) trata-se mesmo de um oportunismo asqueroso; usa-se uma tragédia, que abalou o país, para o governo fazer o que é uma variante da propaganda (ainda voltarei a este ponto em outro post. Mas o que vem agora é pior.
SEGUNDA NOTA
Abalada
Logo depois do evento no Palácio do Planalto em que se emocionou ao falar das crianças mortas no Rio, Dilma voltou para seu gabinete e ligou para Lula, que estava no México. Ao contar o que havia ocorrido, a presidente voltou a chorar.
Comento
Se edito o Painel e tenho essa nota, também publico. A coluna cumpre seu papel. O que me deixa um tanto espantado é que essa informação tenha chegado à imprensa. A tragédia é tão monumental; os eventos são de tal sorte chocantes; a forma como as crianças morreram de tal modo nos constrange que, entendo, o choro público de Dilma já tinha tido a sua oportunidade. Se, no resguardo de seu gabinete, numa conversa pessoal com o seu amigo Lula — já que isso não é assunto para tratar com “antecessor”, cujo papel é político —, ela chora, por que a imprensa deve saber disso? Chorou diante de uma audiência?
Respondo: porque, infelizmente, meus caros — e lamento se a consideração deixará muita gente incomodada —, usa-se a consternação do país para tratar Dilma como a nossa “Rainha”, aquela que seria o símbolo profundo de nossas felicidades e de nossas dores. Até compreendo que,  numa solenidade pública, não tenha contido o choro. Vazar a informação, no entanto, de que a Soberana chorou ao tratar do assunto numa conversa privada implica, nesta ordem:
a) exploração política da tragédia — não por acaso, a informação sai publicada numa coluna voltada para os bastidores da política;
b) espetacularização dos sentimentos da nossa dirigente, que revela, assim, seu lado humano e compreensivo: dura nas coisas públicas, sensível das coisas privadas.
Não dá! Tenham mais compostura!
Reinaldo Azevedo
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