Confrontado com os números do
desemprego e das falências, António José Seguro acusou Pedro Passos Coelho de
ser "o primeiro-ministro com maior insensibilidade social de sempre".
Deus Todo Poderoso e alguns leitores são testemunhas de que não reverencio por aí
além o actual chefe de Governo, mas a afirmação do dr. Seguro, tão violenta
quanto vaga, deixou-me a pensar.
Em primeiro lugar, a pensar na
História. O que será que o dr. Seguro quis dizer com "sempre"?
Referia-se apenas ao regime vigente, incluindo o malvado Cavaco Silva e o
enxovalhado Santana Lopes? Limitou-se à República em geral e considerou tanto
Salazar e Caetano quanto cada um daqueles incontáveis primeiros-ministros que
precederam o Estado Novo e governavam durante quinze dias? Ou é possível que o
dr. Seguro seja erudito a ponto de ter avaliado criteriosamente a
"insensibilidade social" de todos os primeiros-ministros, presidentes
do Conselho de Ministros, presidentes do Ministério, secretários de Estado dos
Negócios do Reino, ministros de Estado, presidentes da Junta Provisional e
secretários de Estado que mandaram ou fingiram mandar nos executivos desde o
popular Miguel de Vasconcelos até aos nossos dias? Não faço ideia.
Também não imagino como é que
o dr. Seguro mede a "insensibilidade social" dos políticos. Pela
cara? Pelas acções? Através de instrumentos de alta, ou baixa, tecnologia? Um
"insensível social" é o indivíduo que demonstra avareza na hora de
distribuir consolo aos pobres? Ou é o que se esquece de introduzir a temática
da pobreza em pelo menos 65% daquilo que diz? Ou o que não enverga uma
expressão facial compungida quando disserta acerca dos necessitados? Ou o que,
por incapacidade e desonestidade patológicas, governa de modo tão abominável
que arruína um país e que, mediante uma falta de lealdade para com os cidadãos
muito mais grave do que a falta de lealdade de que o Presidente da República se
queixa, condena boa parte da população a sofrer por muitos e bons anos as
consequências de tamanho desastre?
No máximo, Pedro Passos Coelho
é o primeiro-ministro com maior "insensibilidade social" desde o eng.
Sócrates, a cujo partido o dr. Seguro pertence e a cujo fulminante desprezo
pelo bem-estar alheio o dr. Seguro assistiu em recato.
Título e Texto: Alberto Gonçalves, Diário de
Notícias, “Esta rotunda pátria”
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