Era terça-feira, feriado do Dia do Trabalhador.
Olhou pela janela, reparou que estava chovendo e se admirou com a fila de
pessoas esperando a abertura do “seu” supermercado.
Desceu, curioso para saber o porquê daquela
afluência. Explicaram-lhe sobre a promoção: se comprasse mais de 100 euros
teria um desconto de 50%. Por exemplo, se o valor das mercadorias fosse de 174
euros, pagaria somente 87 euros. Pareceu-lhe interessante. Portanto, entrou na
fila e, depois, no supermercado. Efetivamente, estava muito cheio, mas ele não
se atrapalhou porque já conhecia os rayons.
Então, não foi difícil conseguir ajuntar as suas compras.
A fila no caixa estava muito grande. Paciência.
Quando chegou a sua vez pagou as compras: 87 euros!
No dia seguinte cansou-se de dar entrevistas a
centenas de jornais, dezenas de revistas, às poucas televisões e rádios, e aos
milhões de blogues… Todos louvavam-lhe a dignidade e a altivez. A repercussão
foi tão grande que…
O Bloco de Esquerda apresentou um requerimento à
Assembleia da República para a esculturação de um busto. O PCP acrescentou uma emenda:
que ele, o busto, fosse apresentado com uma bóina, vermelha, na cabeça. Emenda
rejeitada pela maioria. E o PS, naturalmente, EXIGIU que o busto fosse
esculpido em pedra-pome.
No dia da inauguração do busto, cotovelavam-se as
delegações da Coreia do Norte, Cuba, Venezuela, Irã, Bielorrússia, Gabão,
Zimbabué, Equador, Bolívia… a delegação mais numerosa era a do PT-Partido dos Trabalhadores, do Brasil.
Com mais de 300 delegados. A metade, ou mais, quando perguntou as razões
daquela boca livre e lhes foi explicado as razões da homenagem não conseguiram
disfarçar o riso. Prontamente contido.
Enfim, os discursos se sucederam. A tônica era uma
só: a incrível coragem, física e moral,
daquele trabalhador (nunca lhe foi perguntado onde trabalhava) que não se
curvou ao golpe da rede capitalista ordinária! Um homem farol, uma luz
iluminada, um homem que poderia ter colocado no carrinho compras no valor de
174 euros, mas não… ele não se dobrou, colocou só 87 euros, valor real das
mercadorias, e blá-blá-blá…
Mais tarde, no Hotel da delegação brasileira, a
polícia foi chamada para coibir o barulho excessivo: a metade da delegação que rira, lá na Assembleia da República,
agora libertada dos salamaleques protocolares,
gargalhava com vontade de mais uma piada de português.
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