quinta-feira, 14 de junho de 2012

Dinossauros

José Carlos Bolognese

O azar daqueles dinossauros era ser de uma espécie que podia fazer tudo, menos nadar. Confinados a uma ilha cercada de água por todos os lados, menos o de cima (todas as ilhas são, se não me esconderam alguma coisa, não é?) e bem longe de onde quer que fosse, o jeito era ficar por lá acenando de vez em para um barco que passasse ao largo (meus dinossauros podem tudo, menos nadar, lembram?). E, azar dos azares, não restava um único pterodáctilo em condições de voo. Em tempos dourados, tanto os dinossauros de terra como os que podiam voar, tinham sido muito úteis prestando serviços admiráveis mas, agora... Enquanto ainda produtivos fundaram uma associação, o “Dinossaurus”, que pegava um pouco da produção de cada um para quando os dinossauros mais velhos já estivessem com suas garras atrofiadas e suas quatro carreiras de dentes reduzidas a uma só. Mas para esses desafortunados não foi preciso um meteoro para selar o seu destino. Enquanto ralavam e acreditavam na segurança do Dinossaurus, não perceberam que outros répteis iam aos poucos tomando suas reservas do futuro e sua atividade do presente, não se acanhando de lançar sobre as próprias vítimas a culpa pela sua desgraça.
Aos poucos foram sendo esquecidos no continente e só de vez em quando chegava até eles a história de que alguns continentais ainda se interessavam por eles e batalhavam para libertá-los daquele ostracismo insular. Até porque viver numa ilha de recursos parcos e minguantes não é exatamente viver. Portanto, se não queriam entregar suas carcaças à natureza impiedosa como tragicamente aconteceu com quase setecentos deles, tinham de dar o fora daquela ilha sinistra o quanto antes.
Quando algum pedaço de jornal caído de alguma embarcação que passava, chegava com alguma notícia do “Dinossaurus” (o nome da causa deles), se enchiam de esperança. (Meus dinossauros também podem ler jornal, só não sabem nadar) E assim, liam incessantemente durante seis milhões de anos (não esqueçam que é era jurássica), notícias sobre os avanços e recuos de sua causa. Ora era uma reunião da aristocracia jurássica que acendia suas esperanças de sair daquela situação, ora era reunião que só tinha sido marcada para acertar outra reunião daí a alguns milhões de anos. Ora era uma grande e poderosa embarcação que ia tirá-los de lá, ora seria construída uma ponte, mas ainda não se tinha a um acordo em relação ao “por fora” para a obra sair do papel.
Nos dias de hoje, seis milhões de anos depois, ainda acreditam que a aristocracia jurássica, agora muito bem entrosada com as piores espécies de roedores, vá lhe devolver o que roubaram deles. Já era um pouco tarde para aprender a nadar mas... esperança é a última que morre. Pelo menos até o próximo meteoro.
Título e Texto: José Carlos Bolognese (um "Dino" teimoso), 14-06-2012

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