José Carlos Bolognese
O azar daqueles dinossauros
era ser de uma espécie que podia fazer tudo, menos nadar. Confinados a uma ilha
cercada de água por todos os lados, menos o de cima (todas as ilhas são, se não
me esconderam alguma coisa, não é?) e bem longe de onde quer que fosse, o jeito
era ficar por lá acenando de vez em para um barco que passasse ao largo (meus
dinossauros podem tudo, menos nadar, lembram?). E, azar dos azares, não restava
um único pterodáctilo em condições de voo. Em tempos dourados, tanto os
dinossauros de terra como os que podiam voar, tinham sido muito úteis prestando
serviços admiráveis mas, agora... Enquanto ainda produtivos fundaram uma
associação, o “Dinossaurus”, que pegava um pouco da produção de cada um para
quando os dinossauros mais velhos já estivessem com suas garras atrofiadas e
suas quatro carreiras de dentes reduzidas a uma só. Mas para esses
desafortunados não foi preciso um meteoro para selar o seu destino. Enquanto
ralavam e acreditavam na segurança do Dinossaurus, não perceberam que outros
répteis iam aos poucos tomando suas reservas do futuro e sua atividade do
presente, não se acanhando de lançar sobre as próprias vítimas a culpa pela sua
desgraça.
Aos poucos foram sendo
esquecidos no continente e só de vez em quando chegava até eles a história de
que alguns continentais ainda se interessavam por eles e batalhavam para
libertá-los daquele ostracismo insular. Até porque viver numa ilha de recursos
parcos e minguantes não é exatamente viver. Portanto, se não queriam entregar
suas carcaças à natureza impiedosa como tragicamente aconteceu com quase
setecentos deles, tinham de dar o fora daquela ilha sinistra o quanto antes.
Quando algum pedaço de jornal
caído de alguma embarcação que passava, chegava com alguma notícia do
“Dinossaurus” (o nome da causa deles), se enchiam de esperança. (Meus
dinossauros também podem ler jornal, só não sabem nadar) E assim, liam
incessantemente durante seis milhões de anos (não esqueçam que é era
jurássica), notícias sobre os avanços e recuos de sua causa. Ora era uma
reunião da aristocracia jurássica que acendia suas esperanças de sair daquela
situação, ora era reunião que só tinha sido marcada para acertar outra reunião
daí a alguns milhões de anos. Ora era uma grande e poderosa embarcação que ia
tirá-los de lá, ora seria construída uma ponte, mas ainda não se tinha a um
acordo em relação ao “por fora” para a obra sair do papel.
Nos dias de hoje, seis milhões
de anos depois, ainda acreditam que a aristocracia jurássica, agora muito bem
entrosada com as piores espécies de roedores, vá lhe devolver o que roubaram
deles. Já era um pouco tarde para aprender a nadar mas... esperança é a última
que morre. Pelo menos até o próximo meteoro.
Título e Texto: José Carlos Bolognese (um
"Dino" teimoso), 14-06-2012
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