Os líderes políticos
progressistas, na Europa, não têm sabido responder ao discurso
ultranacionalista
Victor Ângelo
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Stavanger, foto: AD |
Esta é uma crónica com vistas
largas. Escrevo-a em Stavanger.
Estou alojado na torre mais alta desta cidade da costa ocidental da Noruega. Vejo o fiorde, as
montanhas, o lago, e tenho, à minha frente, uma cidade que se mostra próspera e
serena. A imigração, que salta à vista em Oslo e incomoda muita gente, é aqui
discreta, presente apenas num ou outro pequeno comércio e pouco mais. Os
empregos existentes na região, à volta do petróleo, exigem uma mão-de-obra
muito qualificada, o que está para lá do que um imigrante recente, vindo da
Somália ou do Iraque, pode oferecer.
Lembro-me do assassino louco
de Oslo. Ter-se-ia provavelmente sentido mais tranquilo, se tivesse vivido
nesta terra, que tem um caráter profundamente norueguês. O resto do mundo
parece estar muito longe, noutro planeta, como se fosse apenas um mercado que
convém manter aberto, mas à distância.
Na verdade, os extremistas
políticos têm uma posição ambígua em relação à globalização. É considerada boa
quando possibilita colocar as suas mercadorias nos quatro cantos do mundo. Ou
quando lhes permite voar, livremente, para destinos exóticos. É péssima quando
são os outros a conquistar os nossos mercados ou a emigrar para o nosso
canteiro. Assim pensam os movimentos radicais, pela Europa fora. Os europeus
habituaram-se a dar cartas, na arena internacional. Não conseguem imaginar um
xadrez diferente, em que o jogo das relações económicas entre Estados seja mais
equilibrado. Nem querem entender o impacto da China, da Índia e de outros
países emergentes na nova distribuição do poder económico a nível mundial.
Com a aceleração da
globalização, temos assistido à expansão das ideias extremistas, em vários
países europeus. É mais fácil propor o fecho de fronteiras e a criação de
barreiras, que de pouco ou nada servirão, do que preparar os nossos jovens para
competir num mundo mais complexo. Como também poderá ser mais expedito acusar
os outros, como causa de todos os males, sobretudo do crescimento do desemprego
e da estagnação, do que procurar novas alternativas, que tenham em conta que o
Bangladesh e os demais não vão pedir licença para entrar no mercado mundial.
Os líderes políticos
progressistas, por seu turno, não têm sabido responder ao discurso
ultranacionalista. Continuam a alimentar a ilusão de que, apesar da
globalização, tudo poderá continuar na mesma, que será possível, com uma
política de "esquerda", manter regalias e sistemas sociais que só
foram possíveis num mundo menos igual. Ou seja, em vez de sublinharem a
necessidade de mudança, insistem numa continuidade que não tem futuro. Criam
ilusões e os tiros saem-lhes pela culatra.
A continuarmos na mesma via,
sem confrontar os factos, sem preparar os cidadãos para uma economia baseada no
conhecimento, vamos encontrar-nos, a médio prazo, numa Europa fechada sobre si
própria, dividida e refugiada em preconceitos nacionalistas. Numa Europa em
crise profunda, com milhões de desempregados sem qualificação profissional
adequada. A título de exemplo, a empresa de consultoria McKinsey acaba de
publicar um estudo que mostra que, em França, no ano 2020, poderemos ter 2,3
milhões de pessoas desempregadas e, em simultâneo, 2,2 milhões de empregos
tecnologicamente avançados disponíveis, sem candidatos franceses para os
preencher. Factos como este serão terreno fértil para os movimentos como o de
Marine Le Pen ou de Geert Wilders, na Holanda.
Olho novamente para o fiorde e
os seus múltiplos meandros. Concluo que navegar nestas águas deve ser bem
complicado.
Título e Texto: Victor Ângelo, revista Visão,
10-05-2012
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Museu do Petróleo, Stavanger, foto: Jarvin |
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