Valmir Azevedo Pereira
Incomparável para
muitos, abominável para outros, o ignóbil nasceu predestinado a tornar-se um
emérito mandrião.
Emergiu no palco
sem um dos dedos da mão, e para compensar a medonha deficiência física esmerou-se
em explorar ao máximo seus outros atributos, desde um ego desvairado, ao cinismo
na sua expressão máxima.
Ao contrário dos
demais ou da maioria, beneficiou-se com a falta de escrúpulos e sem a chamada
consciência, que volta e meia aporrinha muita gente.
Assim, liberto de
uma série de amarras, que inibem as maiores e menores patifarias e seus
diligentes patifes, o melífluo farsante seguiu em frente. E foi longe.
Nascido entre uma
gentalha famosa por ser jeitosa ao extremo, o seu maneiro hábito de não
apegar-se a nenhum princípio, em particular daqueles que deveriam forjar o
caráter do ser humano, pode travestir-se de qualquer coisa, e se num dia era
contra, no outro era a favor, e vice-versa, conforme seus interesses. Uma
metamorfose, e o pior, ambulante.
E o povaréu
admirado, aplaudia.
“É o cara, é o
nosso retrato, é tudo o que eu queria ser”, bradou um fã exaltado e
invejoso.
Ignóbil, no
início agradecia aos céus por tanta benevolência, depois, mais ufanista de si
mesmo, apenas se olhava no espelho e dizia, “mas eu sou bom mesmo”.
Assim, sem
freios, como qualquer malandro gostaria de ser, descobriu o Brasil, nada fez,
nada construiu, contudo foi o que mais gastou, mais inaugurou, mais anunciou, e
mais viajou.
Acima de todos,
submeteu vassalos, amealhou criadagem, fez fortuna, cooptou adversos, criou
cátedra, fabricou dirigentes e elegeu-se a estátua de si mesmo, e como tal, ao
passar esperava o devido respeito de seus súditos.
Criava-se, assim,
o ícone da bandalha.
Espantosamente,
cresceu nas promessas não cumpridas, nos discursos insossos, nas mentiras
deslavadas, nas contradições do dito no dia anterior, hipnotizando platéias com
sua estrondosa capacidade de acusar inocentes, de elogiar canalhas, de
atropelar as leis e de protagonizar atitudes e gestos cafajestes sem o menor
pudor.
De fato, colocou-se
acima de regras, de princípios e seu despudor foi tamanho que embevecidos
pretenderam santificá-lo. Antes, foi abonado como Doutor Honoris Causa
por diversas entidades. Um espanto!
Mas eis que de
repente, ele saiu de moda, ficou repetitivo. Chegara ao fim seus momentos de
gloriosa impunidade?
E começou a
desmilinguir-se.
O abjeto perdera
o seu charme, esvaíra o seu dom de enganar, de inventar, de prometer. Nos
palanques, um vazio. Nem pagando audiência.
E o circo começou
a desmoronar, e surgiram estridentes vozes de revolta, de insatisfação, e
levantada a tampa da panela, de seu interior o cheiro fétido de corrupções e de
enganações.
Revela-se que o
pobre ignóbil de há muito era um dos mais ricos homens do Brasil, e olha que
esmerou-se em distribuir esmolas e bolsas, mas triste realidade, com o dinheiro
dos outros, enquanto, paralelamente, enchia o seu pé-de-meia.
O sussurro de “o
rei está nu”, encaixou-se como uma luva no velhaco, e parece que vai se
espalhando pelos rincões desta terra, e alguns esperam que o tímido murmúrio se
transforme num grito uníssono: “o farsante está nu”.
Infelizmente, o
Brasil não está mudando, apenas cansou-se das mesmas baboseiras vomitadas à
exaustão e pelo seu ridículo desempenho no repetitivo papel de “o maior
brasileiro de todos os tempos”.
Mas, oxalá, a
indigesta mídia que divulga que o Julgamento do Mensalão não afetará as
próximas eleições, não promova a volta do “mala sem alça” para a
desgraça da Nação.
Título e Texto: Gen. Bda Rfm Valmir Fonseca Azevedo Pereira, Brasília,
DF, 01 de outubro de 2012
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