Nem para mim mesmo consigo
explicar. Contudo, sete anos de um rigoroso inverno nos direitos de milhares de
trabalhadores e aposentados, faz-me acreditar que somos residentes indesejáveis
de um dos países mais injustos do planeta. Mas, tratados como um estorvo pela
União – que deve ser a “união” de interesses particulares de quem manda no país
– nem assim perdemos a capacidade de pensar. Quando pensar é tudo que me resta,
tentarei dar a visão do que têm sido para mim esses quase sete anos.
O que já me parecia evidente
desde muito antes dessa crise Varig/Aerus tem sido fortemente confirmado pelos
fatos. Dois pequenos episódios que nada têm a ver com Aerus e Varig, me levam a
alguma compreensão do porquê em nosso país fazer o que é certo é a última coisa
que dá certo... para quem o faz!
1) No mês de janeiro houve um
apagão restrito à minha rua e a umas poucas adjacentes que durou quase doze
horas. Quando a paciência já tinha passado muito do limite, aproveitei uma
reunião espontânea de moradores e sugeri uma ação conjunta para tentar a
solução para esse problema que é crônico na minha área – e não é só na minha,
por certo. É claro que todos concordaram e assim passei a recolher nomes e
dados para um eventual abaixo-assinado e formação de um grupo que iria à
empresa concessionária apresentar nossa demanda. No dia seguinte liguei o
computador e pesquisei os nomes importantes da empresa de eletricidade a quem
deveríamos nos dirigir. Em seguida fiz um texto relativo ao problema e deixei
várias linhas para as assinaturas. Fiz cópias desse texto e as distribuí nas
casas das pessoas na esperança de torná-las multiplicadoras da reivindicação,
isto é, que cada uma dessas pessoas procurasse a adesão de outras dando ao
movimento uma maior consistência. Resumo da ópera, passados quase 60 dias
apenas UM vizinho me procurou.
O único consolo que tenho é
que fiz política de bom nível e a decepção é que para funcionar, só falta um
detalhe, todavia o mais importante: a vontade e a predisposição de lutar
coletivamente, acomodando diferenças pessoais e focando no resultado. Nós, os
sedizentes “apolíticos”, deixamos tudo para os “profissionais” da política,
dispensando-se a partir daqui maiores explicações.
2) Há pouco mais de dez dias
um caminhão que transportava refrigerantes quase tombou numa rua não longe de
onde moro e deixou cair parte da carga. Quando passei pelo local por volta das
14 horas, duas forças se opunham. A polícia que tentava controlar a situação e
uma turba que xingava a polícia porque esta não permitia os saques que queriam
fazer. Cerca de 17:30 passei de volta pelo local e pude notar que a situação
mudara pouco, com polícia e multidão ainda se enfrentando. Mas pude notar
alguns “carentes” que recebem assistência de vários tipos, inclusive alimentar,
de uma instituição de caridade onde sou voluntário. Como portavam bolsas para
saquear guaraná, pensei em sugerir à “Soberana”, o Bolsa refrigerante.
Brincadeira à parte, o que vi são os votos que elegem essas nulidades
destruidoras empresas aéreas, entre outras, e matam aposentados de fome.
Aí está a política dos “profissionais” que nós
permitimos existir.
Nesses incríveis sete anos já
contamos toda a história do drama dos aposentados e ex trabalhadores da Varig.
Mas, se a nossa história flui, mudando para pior a cada ano que passa, sua
essência continua a mesma – uma tremenda injustiça. Mas o país – ou a “União,
termo que usam quando fingem defender a nação – também foi acumulando fatos e
deixando uma história suja a ser contada pelas futuras gerações não
contaminadas por ideologias porcas.
Por ser um país dos mais
injustos, o Brasil todavia, não é o lar só de gente má. Apesar de nossos baixos
indicadores de qualidade de vida em comparação com os de outras nações, o país
tem ilhas de qualidade em muitas áreas que nem precisamos destacar. Mas
infelizmente essa cultura do melhor nunca chega ao governo e à maioria das
instituições encarregadas de fazer o país funcionar. Por outro lado, no nível
individual, mesmo pessoas com alto nível de percepção das coisas, se sentem e
agem como pequenas ilhotas de um imenso arquipélago e não constroem pontes nem
com as outras ilhas (semelhantes) e nem com o continente.
Diante da exuberância demonstrada
pela boçalidade imperante é preciso que o lado bom acorde e pegue de volta uma
nação que pertence a todos e não a eventuais ocupantes do poder.
Título e Texto: José Carlos Bolognese. 10-03-2013
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Oi Jim, mesmo assim, continue lutando.
ResponderExcluirbeijos Janda
Valeu, Janda! Obrigado!
ResponderExcluirBeijos./-
A desunião sempre imperou entre os variguianos, reflexo da cultura dos brasileiros.
ResponderExcluirLamentável.
Triste tudo isto!
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