Nome completo: Alberto José Cavalcanti
Nome de guerra: Alberto José
Quando começou a trabalhar: em
Setembro de 1961
Onde: no Banco da Bahia (hoje Bradesco),
Rio de Janeiro
Quando se aposentou: em Julho
de 1994
Eu me formei em Mecânica pela Escola Internacional, São Paulo, e entrei na Varig em 1967. Fui para a Base SAO (São Paulo) onde voava pelo Brasil na Rede Aérea Nacional (RAN). Em 1970, fui alocado na Rede Aérea Internacional (RAI) que era o "sonho de consumo" de todos os tripulantes. Trabalhei no Boeing 707 e, depois, no DC-10 e no B-747 até assumir o cargo de Chefe de Equipe dos Boeing 747 e 777!
Eu tive três acidentes na aviação, sem grandes danos. Um, o
primeiro, foi no Maranhão, quando o Avro em que eu estava trabalhando perdeu a
porta em pleno voo.
Neste acidente, em Congonhas,
à 01h45 do dia 01-01-74, o B-727 deslisou da pista e caiu lá embaixo, ficando
semi-enterrado na lama. Os passageiros gritavam assustados, mas como ninguem se
feriu eles pediram para que eu abrisse garrafas de champagne (era uma conexão
internacional) para brindar à vida e ao Ano Novo!
Eu tirei a licença de Piloto
Comercial (340 horas) pensando em ser piloto da Varig, depois achei melhor
ficar onde eu estava. Hoje, eu acredito que a vida de Comissário da VARIG foi
uma grande oportunidade para conhecer as pessoas e os melhores lugares do
mundo! Acho que todo o brasileiro devia ter a oportunidade de poder desfrutar
dessa experiência inesquecível para aprimorar o caráter e expandir a cultura!
Apesar dos problemas do Aerus, acho que todos que trabalharam na VARIG tiveram
muita sorte.
Eu tenho 73 anos, sou casado,
a minha mulher foi funcionária federal, tenho um filho advogado, e outro, jornalista.
Procuro fazer tudo que me dá prazer e, acho que o meu hobby, além de ler muito,
é procurar ajudar os outros.
Como aconteceu do avião
perder a porta em pleno voo?!
A comissária que estava comigo
era a Linzmayer, grande colega e ótima pianista. Depois que o Avro decolou,
quando apagaram o aviso "atar os cintos" ela se levantou do assento e
disse que ia começar o serviço. Eu respondi que ela voltasse para o assento e
afivelasse o cinto pois eu iria esperar um pouco mais. Ela não gostou muito,
pois que depois teria que trabalhar com mais rapidez. Quando ela travou o
cinto, como o avião já estava pressurizado, houve aquela explosão e tudo que
estava solto voou para fora junto com a porta da galley. Como era o local onde
estaríamos trabalhando, os pilotos acharam que nós tínhamos sido ejetados no
espaço. Ao voltar, verificaram que a porta não estava devidamente travada, o
que não foi culpa nossa! A Linzmayer, muito abalada, me disse que foi o último
voo dela. Dali em diante ela iria se dedicar ao piano, menos perigoso!
Você esqueceu de mencionar o segundo acidente…
O segundo acidente foi em
1982. Eu estava sentado em uma posição na porta 2 direita do Boeing 727, assento
que não deveria existir pois era muito perigoso. O travamento da galley estava
com defeito e quando o avião decolou - decolagem muito rápida - a galley
desmontou. Sobrevivi, pois eu estava com o cinto de segurança destravado e ao
ouvir o primeiro estalo consegui pular para o corredor. Fiquei três meses fora
do voo devido a leves queimaduras de água quente.
Qual o avião que você mais gostou de voar?
Eu gostei de voar o DC-10 que
era um avião muito bonito, espaçoso e confortável até para descansar, depois
que terminava o plantão. Tenho boas recordações naquela espaçonave!
E as cidades que mais gostava de pernoitar?
Roma, Londres, Nova Iorque e Paris
Do que você mais e menos
gostava na profissão?
Eu gostava muito de conhecer os passageiros e conversar com eles. A bordo
fiz muitos amigos. Em um voo para Joanesburgo, conheci o jornalista Walter Cronkite que me
convidou para ir à CBS em Nova Iorque assistir ao seu famoso telejornal
"7'oclock news". Fui, algumas vezes!
Conheci, na primeira classe, voltando de Joanesburgo, o atual Rei da
Swazilândia, que viajou vestido com os trajes nativos e paramentos, vestindo
ainda uma camisa do Flamengo! Me convidou para ir à Swazilândia, o que eu não
consegui fazer.
Conheci o famoso Gregory Peck, que me convidou para almoçar em Hollywood.
Ele gostou muito quando me perguntou o nome de um filme em que ele trabalhou.
Eu respondi que não lembrava pois quando eu via o nome dele, entrava no cinema
sem ligar para o título do filme. Ele achou ótimo essa tirada. E fiz ainda muitos amigos, passageiros menos
famosos!
O que eu detestava no trabalho eram as pessoas que se valiam de uma
promoçãozinha para concussar, prevalecer, prejudicar (reportar), humilhar
colegas injustamente sem ao menos lembrar da mensagem: "não julgueis para
não serdes julgados"!... o que eu vi acontecer muitas vezes! Rsrsrs…
![]() |
Gregory Peck e Brock Peters, no filme “O sol é para todos” (To Kill a Mockingbird), 1962 |
![]() |
Hotel Fiesta Palace, Paseo de La Reforma, México, 1971 |
Em 1974 eu estava pernoitando no Fiesta Palace, um hotel bem luxuoso na
cidade do México. Na primeira noite, após o jantar, tomei uma cerveja e fui me
deitar na imensa cama de seis travesseiros. Às duas horas da manhã, levei um
baita susto quando fui acordado por alguém que deitou ao meu lado e me abraçou.
Imaginem, uma mulher bonita, vestida, aparece no meio da noite dizendo: “honeyyy, it's too late, sorry!” Pulei da
cama sem saber ainda se era sonho ou realidade! Ela tambem ficou assustada! Ela
pensou que tinha entrado no apartamento onde estava o marido. Por algum
mistério, o cartão dela abriu a minha porta que estava sem a tranca! Mas, de
tão inusitada a estória parou por aí… nem havia clima para outras coisas…
rsrsrs.
Alberto, você se aposentou em 1994, muito antes da crise na empresa… Como acompanhou o desfalecer da Varig?
Eu sou um observador das coisas que nos cercam (muitos colegas já
comentaram essa mania), assim sendo, nos últimos anos de trabalho eu prestava
muita atenção nos acontecimentos atípicos dentro de uma empresa como a Varig, (fatos
que, eu achava, outros colegas não davam importância), por exemplo: mensalmente
milhares de serviços eram embarcados quando não havia passageiros para consumir
aquela fortuna em alimentos, o que reportei várias vezes para a DSB;
substituição dos B-727 por aviões novos arrendados alegando futura proibição
daquele tipo de avião nos USA, que eu sabia ser a justificativa uma "meia
verdade" que era o início para leasing
superfaturado de novos modelos; a transferência diária de milhares de dólares
norte-americanos em carga dos aviões da VARIG para as empresas de carga Polar, Flying
Tiger e outras mais, que eu procurava comprovar visualmente nos aeroportos de Miami,
Los Angeles e Nova Iorque, o que qualquer interessado podia ter constatado e,
principalmente, a queda na importação e instalação de peças e equipamentos não
essenciais e de conforto nos DC-10, B-747, B-777 e alguns B-737! Infelizmente,
sem bola de cristal, antes de sair eu sempre comentei que estavam
"sangrando" a VARIG!
Má administração ou gestão
temerária?
Má administração é quando você comete um erro e tenta corrigir;
administração temerária foi quando a VARIG comprou os B-747 em uma época onde
havia crise e poucos passageiros; depois, a administração seguinte foi outra
coisa que ficou evidente quando não aceitaram a administração do Fernando Pinto
e, no fim, chamaram até o fornecedor de amendoim (Manoel Guedes) para ser
presidente da "sucata" que restou!
Onde estava no dia 12 de
abril de 2006?
No dia 12 de Abril eu não lembro. No dia 12 de Julho eu estava assistindo
à revoada de aves de rapina no "leilão" coordenado por um tal de
Marcelo Bottini - que eu nunca vi mais gordo – que feito um idiota, gritava
para nós - funcionários e aposentados - "vocês são uns guerreiros!"
enquanto os algozes da FRB bebiam o último sangue da VARIG!
Você sente saudades da
Empresa?
É claro, quantas pessoas queriam voar na VARIG e não conseguiram! O
momento crítico era quando, estando de reserva no DO, o telefone tocava e a
Escala lhe mandava para algum lugar não programado. A maioria dos colegas se
estressava pois ia para a reserva "para não voar"; eu fazia o oposto,
e quando era liberado sentia o prazer de voltar para casa!
Mas não foi ela, a empresa,
a causadora do drama que hoje vivem ex-trabalhadores, aposentados e
pensionistas Aerus? Se ela pagasse a parte dela e repassasse ao Aerus o que
descontava dos funcionários…
Quando nós falamos em VARIG nós falamos no serviço de bordo, no avião
voando, na manutenção que funcionou, na comissaria que preparou os alimentos,
na loja que atendeu o cliente, etc. A VARIG estrutura administrativa é uma
outra coisa, repleta de "aspones" e picaretas fingindo que
trabalhavam enquanto dilapidavam a empresa-serviço. A fundação, por incompetência
de uns e má-fé de outros não teve capacidade de pilotar a VARIG e nem deixou
que o governo assumisse o comando. A decisão de não pagar o que devia ao Aerus
foi uma decisão dolosa dos seus "dirigentes"!
Conversas anteriores:
Favor mandar abraço grande para o Alberto José. Um Lord Inglês, pessoa de primeira classe. Obrigado,
ResponderExcluirMarson.