Nome de guerra: Cristina Cruz
Quando entrou na aviação: 1985 (com 28 anos)
Quando entrou na aviação: 1985 (com 28 anos)
Setor(es) onde trabalhou: só como Comissária
Cargos ocupados: sempre fui Auxiliar
Quando saiu: em 2006, na demissão em massa após o leilão.
Você acha que entrou tarde para a aviação?
Entrei tarde em relação aos
meus colegas, mas estava formada em Psicologia (que não me ajudou e não ajuda
em nada até hoje) e havia trabalhado em outras carreiras, mas sem ter dado
certo.
Nunca havia pensado em ser
comissária. Uma amiga, me vendo desempregada, me sugeriu ser comissária, aí fui
fazendo os testes, sem sonhar com a carreira, mas me encontrei nela.
Quais os equipamentos que voou?
B727, B737, B747, B777, DC10 e
MD11.
Fiquei 14 meses na Nacional e
depois subi para a Internacional. Meu primeiro voo foi um Frankfurt.
Fiz baseamentos curtos em Los
Angeles (3 vezes) e Hong Kong (2 vezes).
Eu também fiz baseamentos curtos em Hong Kong (uma vez) e Los Angeles (três vezes). Embora goste muito de Los Angeles (moraria correndo em El Segundo),
Hong Kong foi a cidade que mais me impressionou…
Também moraria em El Segundo.
Em Hong Kong, no princípio,
chorava. Não me adaptei nem ao cheiro de óleo de amendoim.
Acabei gostando, até voltei
outra vez, mas não foi o lugar que mais gostei nem me impressionou tanto assim…
Não sou ligada no Oriente,
adorava a África.
Não gosto do Japão.
Well, quanto ao Japão, embora
eu admire e respeite o povo japonês, também não me disse nada. Quais as cidades em que você mais gostava de pernoitar? Por quê?
Roma, Paris, Nova Iorque,
Chicago, Zurique… Pelos passeios que podia fazer na cidade e arredores. Sempre privilegiei
os passeios, nunca fui ligada em compras e nem em vida noturna.
O mais lindo é o B707, que não
voei.
O que mais voei foi o DC10,
que eu amava. Mas também gostava do Jumbo.
Lembra de algum fato/causo desagradável ou anedótico?
Não, não lembro de nada que
seja de valor para contar. Se lembrar, contarei.
Que avião (ou aviões) você voava quando a companhia fechou?
Boeing 777 e MD 11.
Boeing 777, PP-VRB, aterrissando em Heathrow (Londres), agosto de 2002. Foto: Adrian Pingstone |
Não, é lógico que faltava tudo
e várias coisas não funcionavam e a gente tinha que ser mágico, mas eu não
sabia nada sobre insegurança no cockpit.
Insegurança no cockpit?!
Sim, havia algum problema
com os aviões ou com o relacionamento dos pilotos ou de comunicação no ar.
Logo que fechamos caiu o avião
da Gol, muito se falou de insegurança do espaço aéreo brasileiro, nunca percebi
nada.
Quando é que você notou que as coisas não corriam bem na Empresa?
Não me lembro. Nunca pensei
que fariam o que fizeram. Acreditei, me culpo todos os dias pela ingenuidade.
“Acreditou” em quem ou no quê?
Acreditei que sairíamos da crise, seríamos comprados, não seríamos demitidos.
Acreditei que sairíamos da crise, seríamos comprados, não seríamos demitidos.
Acreditei no discurso do
Marcelo Bottini. Na verdade, eu quis acreditar, posso pensar assim.
Eu recebi a minha notificação
de férias em abril para maio de 2006, aí não foi depositado o $$ das férias,
liguei para a Chefia em São Paulo e o pessoal falou que seria depositado.
Reclamei no Rio, fui chamada para uma reunião com a Chefe na época, que não
lembro o nome, talvez Tania, que me disse que queria me demitir porque eu
estava querendo voltar a voar e sendo insolente, mas que o Marcelo Bottini não
havia deixado porque não havia $$ para me demitir.
Voltei a voar. Saí de férias
compulsórias em julho, nada recebi.
No dia do aniversário da Varig
(27 de maio) houve uma missa em São Paulo com o Padre Marcelo, todos choravam
muito, ele e o bispo falaram para não nos preocuparmos porque a empresa não
iria fechar, que tínhamos que ter força, que não iam nos desemparar. Foi triste
demais.
Mas… não era esperado esse triste final?
Não sei quanto aos outros, mas
eu não acreditava, achava que outra empresa ia comprar e manter os empregados.
Imaginei que iam respeitar a convenção coletiva. Pela convenção eu estaria
salva, pois seriam demitidos os aposentados e os novos, não os que estavam no
meio da carreira como era meu caso. Eu tinha 20 anos de empresa e 49 anos de
idade, faltando 7 anos para me aposentar.
Na “apresentação” você escreveu “na demissão em massa depois do
leilão”. Houve dois leilões, não é verdade?
Não me lembro se foi um ou dois leilões, agora você me confundiu, mas eu sei que após o fechamento da venda no leilão em que o "chinês" laranja (você pode ver que nunca mais se falou dele).
Não me lembro se foi um ou dois leilões, agora você me confundiu, mas eu sei que após o fechamento da venda no leilão em que o "chinês" laranja (você pode ver que nunca mais se falou dele).
Após esse dia, que há várias
fotos na internet com o povo chorando, o pessoal foi demitido. Foram demitidos em
massa, mas alguns foram favorecidos, os amigos do comandante John Long, que
permaneceu como chefe dos pilotos e dos comissários, foram escolhidos para
ficarem na chefia.
Na época eu questionei os
critérios de escolha de quem havia ficado pois não foi respeitado o acordo
coletivo que demitiria os aposentados e os novos. Fui muito criticada pela
minha posição, como sempre muitos comissários ruins ficaram e bons foram
demitidos, e também não demitiram casais, tanto de pilotos casados com
comissárias como de comissários e comissárias casados. Lógico que não foram
todos os casais que ficaram, muitos foram demitidos, Mas eu disse que ao invés
de deixar um casal na empresa, pois aí só uma família teria emprego e $$ para
sobreviver, deveriam ter demitido um integrante do casal deixando lugar para
outro funcionário, assim duas familias teriam meios de sobrevivência. Mas os
beneficiados não concordaram comigo, é claro.
Foi estressante para mim na
época. Até hoje me deprimo muito com essa história da demissão.
Eu não acreditava que seria demitida,
afinal tinha bom file, adorava meu trabalho, e estava longe da aposentadoria.
Não me preocupava, realmente acreditei que a demissão seria feita com critério.
Na época questionei o Marcelo
Bottini sobre a falta de critérios, e ele me disse "após a demissão,
colegas seus me ligaram pedindo vaga, dizendo que eram amigos de minha esposa e
eu dei uma vaga para a “fulana”, revertendo a sua demissão", (eu sei quem
é porque ele me disse, mas não vou revelar para não voltar a discussão do
passado que tanto me fez mal). Nunca mais consegui falar com essa pessoa.
E sei de outras que tiveram a
demissão revertida após falarem com ele ou com o Comandante John Long ou com os
responsáveis pelos comissários.
Não concordo com esse tipo de
coisa. Criticamos tanto quando no congresso ou em outros meios onde as pessoas
são beneficiadas por serem amigos ou parentes de alguém, mas quando acontece
conosco tendemos a ver as coisas de outra maneira, eu não, por isso que me
magoo mais.
Eu não estive em nenhum leilão
porque eles aconteceram no Rio e já na época, sem receber 4 meses de salário,
não tinha $$ para ir.
Você sente saudades da Empresa?
Não, tenho um ódio enorme por
ter sido feita de palhaça.
Nem sou grata, afinal a
empresa não me deu nada. Eu trabalhava, ela me pagava. Eu ia aos lugares que
ela mandava, era a minha obrigação Tirar prazer disso era facultativo.
Não fiz fortuna. Não fiz
"muamba".
Não ganhei nada trabalhando lá,
a não ser amigos bacanas e desilusão.
Para mim, essa nostalgia viúva
é como aquelas que falavam mal do marido e porque ele morreu virou santo.
A empresa foi importante para
o país, assim como a Panair, a Matarazzo, a Duchen, a Mesbla, Cobertores
Parahyba, e tantas outras que fecharam e nem conheci.
Assim como a Varig, o Mappin,
a Matarazzo e a Parahyba, não pagaram a ninguém e nada aconteceu.
Atualmente, qual é a sua
atividade?
Atualmente trabalho como autônoma em eventos.
Gostaria de acrescentar
algo?
Só tenho para dizer que eu sou cúmplice do meu infortúnio pois que, por ingenuidade, deixei que as coisas acontecessem porque eu acreditava.
Só tenho para dizer que eu sou cúmplice do meu infortúnio pois que, por ingenuidade, deixei que as coisas acontecessem porque eu acreditava.
E outra coisa, aprendi que não
existe "empresa mãe" nem que temos que ser “fieis” à empresa sempre.
O trabalho é uma relação de negócios como outra qualquer. Eu
trabalho, você me paga. Se você não me paga eu tenho o direito de sair e
receber os atrasados. E se eu não trabalho você não tem que me pagar, pode me demitir. Mas tem que
respeitar os meus direitos legais.
Como não pensávamos assim, achávamos
que a empresa era mãe, fomos passados para trás.
Conversas anteriores:
Conversas anteriores:
A tragédia dos empregados da VARIG é da mesma natureza da dos aposentados que recebem pouco mais do que a "merreca" do salário mínimo. Ora, se tem 30 bilhões de dólares para gastar com a Copa da FIFA e com as Olim...Piadas, tem que ter dinheiro para melhorar substancialmente os serviços públicos básicos à sociedade e corrigir injustiças gritantes como as barbaridades cometidas contra os aposentados e os ex-funcionários da VARIG.
ResponderExcluirComo estamos em franca escoriocracia, infelizmente, não acredito que esses assuntos serão satisfatoriamente resolvidos pela gangue no p(h)oder. A esperança é a de que os militares resolvam a questão na base do "cacete" (the big stick policy), mas para isso, infelizmente teremos que continuar a cair mais ainda e chegarmos perigosamente próximos ao fundo do poço...
Francisco Vianna
e o que sobrou de dinheiro , que esta entrando os que ficaram estão "comendo!.
ResponderExcluiré preciso Fiscalizar os funcionarios que estão"administrando " a massa falida , chegam a ganhar R$ 20MIL/MES. Antônio Mendes
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