segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

[O cão tabagista conversou com…] Cristina Cruz: "Até hoje me deprimo muito com essa história da demissão"

Nome completo: Cristina Salles dos Santos Cruz
Nome de guerra: Cristina Cruz

Quando entrou na aviação: 1985 (com 28 anos)

Setor(es) onde trabalhou: só como Comissária

Cargos ocupados: sempre fui Auxiliar

Quando saiu: em 2006, na demissão em massa após o leilão.


Você acha que entrou tarde para a aviação?
Entrei tarde em relação aos meus colegas, mas estava formada em Psicologia (que não me ajudou e não ajuda em nada até hoje) e havia trabalhado em outras carreiras, mas sem ter dado certo.
Nunca havia pensado em ser comissária. Uma amiga, me vendo desempregada, me sugeriu ser comissária, aí fui fazendo os testes, sem sonhar com a carreira, mas me encontrei nela.

Quais os equipamentos que voou?
B727, B737, B747, B777, DC10 e MD11.
Fiquei 14 meses na Nacional e depois subi para a Internacional. Meu primeiro voo foi um Frankfurt.
Fiz baseamentos curtos em Los Angeles (3 vezes) e Hong Kong (2 vezes).

Eu também fiz baseamentos curtos em Hong Kong (uma vez) e Los Angeles (três vezes). Embora goste muito de Los Angeles (moraria correndo em El Segundo), Hong Kong foi a cidade que mais me impressionou…
Também moraria em El Segundo.

Em Hong Kong, no princípio, chorava. Não me adaptei nem ao cheiro de óleo de amendoim.

Acabei gostando, até voltei outra vez, mas não foi o lugar que mais gostei nem me impressionou tanto assim…

Não sou ligada no Oriente, adorava a África.

Não gosto do Japão.

Well, quanto ao Japão, embora eu admire e respeite o povo japonês, também não me disse nada. Quais as cidades em que você mais gostava de pernoitar? Por quê?
Roma, Paris, Nova Iorque, Chicago, Zurique… Pelos passeios que podia fazer na cidade e arredores. Sempre privilegiei os passeios, nunca fui ligada em compras e nem em vida noturna.

Versailles, 1990

E qual o seu avião preferido?
O mais lindo é o B707, que não voei.

O que mais voei foi o DC10, que eu amava. Mas também gostava do Jumbo.

Lembra de algum fato/causo desagradável ou anedótico?
Não, não lembro de nada que seja de valor para contar. Se lembrar, contarei.

Que avião (ou aviões) você voava quando a companhia fechou?
Boeing 777 e MD 11.

Boeing 777, PP-VRB, aterrissando em Heathrow (Londres), agosto de 2002. Foto: Adrian Pingstone
Nos últimos tempos funcionava tudo a 100%?
Não, é lógico que faltava tudo e várias coisas não funcionavam e a gente tinha que ser mágico, mas eu não sabia nada sobre insegurança no cockpit.

Insegurança no cockpit?!
Sim, havia algum problema com os aviões ou com o relacionamento dos pilotos ou de comunicação no ar.

Logo que fechamos caiu o avião da Gol, muito se falou de insegurança do espaço aéreo brasileiro, nunca percebi nada.

Quando é que você notou que as coisas não corriam bem na Empresa?
Não me lembro. Nunca pensei que fariam o que fizeram. Acreditei, me culpo todos os dias pela ingenuidade.

“Acreditou” em quem ou no quê?

Acreditei que sairíamos da crise, seríamos comprados, não seríamos demitidos.

Acreditei no discurso do Marcelo Bottini. Na verdade, eu quis acreditar, posso pensar assim.

Eu recebi a minha notificação de férias em abril para maio de 2006, aí não foi depositado o $$ das férias, liguei para a Chefia em São Paulo e o pessoal falou que seria depositado. Reclamei no Rio, fui chamada para uma reunião com a Chefe na época, que não lembro o nome, talvez Tania, que me disse que queria me demitir porque eu estava querendo voltar a voar e sendo insolente, mas que o Marcelo Bottini não havia deixado porque não havia $$ para me demitir.

Voltei a voar. Saí de férias compulsórias em julho, nada recebi.

No dia do aniversário da Varig (27 de maio) houve uma missa em São Paulo com o Padre Marcelo, todos choravam muito, ele e o bispo falaram para não nos preocuparmos porque a empresa não iria fechar, que tínhamos que ter força, que não iam nos desemparar. Foi triste demais.

Mas… não era esperado esse triste final?
Não sei quanto aos outros, mas eu não acreditava, achava que outra empresa ia comprar e manter os empregados. Imaginei que iam respeitar a convenção coletiva. Pela convenção eu estaria salva, pois seriam demitidos os aposentados e os novos, não os que estavam no meio da carreira como era meu caso. Eu tinha 20 anos de empresa e 49 anos de idade, faltando 7 anos para me aposentar.

Na “apresentação” você escreveu “na demissão em massa depois do leilão”. Houve dois leilões, não é verdade?

Não me lembro se foi um ou dois leilões, agora você me confundiu, mas eu sei que após o fechamento da venda no leilão em que o "chinês" laranja (você pode ver que nunca mais se falou dele).

Após esse dia, que há várias fotos na internet com o povo chorando, o pessoal foi demitido. Foram demitidos em massa, mas alguns foram favorecidos, os amigos do comandante John Long, que permaneceu como chefe dos pilotos e dos comissários, foram escolhidos para ficarem na chefia.

Na época eu questionei os critérios de escolha de quem havia ficado pois não foi respeitado o acordo coletivo que demitiria os aposentados e os novos. Fui muito criticada pela minha posição, como sempre muitos comissários ruins ficaram e bons foram demitidos, e também não demitiram casais, tanto de pilotos casados com comissárias como de comissários e comissárias casados. Lógico que não foram todos os casais que ficaram, muitos foram demitidos, Mas eu disse que ao invés de deixar um casal na empresa, pois aí só uma família teria emprego e $$ para sobreviver, deveriam ter demitido um integrante do casal deixando lugar para outro funcionário, assim duas familias teriam meios de sobrevivência. Mas os beneficiados não concordaram comigo, é claro.

Foi estressante para mim na época. Até hoje me deprimo muito com essa história da demissão.

Eu não acreditava que seria demitida, afinal tinha bom file, adorava meu trabalho, e estava longe da aposentadoria. Não me preocupava, realmente acreditei que a demissão seria feita com critério.

Na época questionei o Marcelo Bottini sobre a falta de critérios, e ele me disse "após a demissão, colegas seus me ligaram pedindo vaga, dizendo que eram amigos de minha esposa e eu dei uma vaga para a “fulana”, revertendo a sua demissão", (eu sei quem é porque ele me disse, mas não vou revelar para não voltar a discussão do passado que tanto me fez mal). Nunca mais consegui falar com essa pessoa.

E sei de outras que tiveram a demissão revertida após falarem com ele ou com o Comandante John Long ou com os responsáveis pelos comissários.

Não concordo com esse tipo de coisa. Criticamos tanto quando no congresso ou em outros meios onde as pessoas são beneficiadas por serem amigos ou parentes de alguém, mas quando acontece conosco tendemos a ver as coisas de outra maneira, eu não, por isso que me magoo mais.

Eu não estive em nenhum leilão porque eles aconteceram no Rio e já na época, sem receber 4 meses de salário, não tinha $$ para ir.

Você sente saudades da Empresa?
Não, tenho um ódio enorme por ter sido feita de palhaça.

Nem sou grata, afinal a empresa não me deu nada. Eu trabalhava, ela me pagava. Eu ia aos lugares que ela mandava, era a minha obrigação Tirar prazer disso era facultativo.

Não fiz fortuna. Não fiz "muamba".

Não ganhei nada trabalhando lá, a não ser amigos bacanas e desilusão.

Para mim, essa nostalgia viúva é como aquelas que falavam mal do marido e porque ele morreu virou santo.

A empresa foi importante para o país, assim como a Panair, a Matarazzo, a Duchen, a Mesbla, Cobertores Parahyba, e tantas outras que fecharam e nem conheci.

Assim como a Varig, o Mappin, a Matarazzo e a Parahyba, não pagaram a ninguém e nada aconteceu.

Atualmente, qual é a sua atividade?
Atualmente trabalho como autônoma em eventos.

Gostaria de acrescentar algo?
Só tenho para dizer que eu sou cúmplice do meu infortúnio pois que, por ingenuidade, deixei que as coisas acontecessem porque eu acreditava.

E outra coisa, aprendi que não existe "empresa mãe" nem que temos que ser “fieis” à empresa sempre.

O trabalho é uma relação de negócios como outra qualquer. Eu trabalho, você me paga. Se você não me paga eu tenho o direito de sair e receber os atrasados. E se eu não trabalho você não tem que me pagar, pode me demitir. Mas tem que respeitar os meus direitos legais.
 

3 comentários:

  1. A tragédia dos empregados da VARIG é da mesma natureza da dos aposentados que recebem pouco mais do que a "merreca" do salário mínimo. Ora, se tem 30 bilhões de dólares para gastar com a Copa da FIFA e com as Olim...Piadas, tem que ter dinheiro para melhorar substancialmente os serviços públicos básicos à sociedade e corrigir injustiças gritantes como as barbaridades cometidas contra os aposentados e os ex-funcionários da VARIG.
    Como estamos em franca escoriocracia, infelizmente, não acredito que esses assuntos serão satisfatoriamente resolvidos pela gangue no p(h)oder. A esperança é a de que os militares resolvam a questão na base do "cacete" (the big stick policy), mas para isso, infelizmente teremos que continuar a cair mais ainda e chegarmos perigosamente próximos ao fundo do poço...
    Francisco Vianna

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  2. e o que sobrou de dinheiro , que esta entrando os que ficaram estão "comendo!.

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  3. é preciso Fiscalizar os funcionarios que estão"administrando " a massa falida , chegam a ganhar R$ 20MIL/MES. Antônio Mendes

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