terça-feira, 3 de junho de 2014

Israel denuncia a Casa Branca por aceitar a inclusão do Hamas no governo interino da Autoridade Palestina

Comentários irados de autoridades israelenses, em Jerusalém, dizem que Washington deu sinal verde a Mahmoud Abbas para "formar uma coalizão de governo com um grupo terrorista". Segundo os israelenses, tal ação piora, ao invés de ajudar, o retorno às negociações de paz.
Francisco Vianna

Primeiro- ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, o Presidente dos EUA, Barack Obama, e o Presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, durante um encontro trilateral em Nova Iorque, em 22 de setembro de 2009. Foto: Avi Ohayon/GPO/Flash90

Na noite de ontem, segunda-feira, autoridades israelenses desancaram críticas ferozes contra a Casa Branca pelo fato da administração Obama ter anunciado que vai trabalhar com o novo "governo palestino" que inclui o grupo terrorista Hamas, na qualidade de falso partido político.

Em amargos e gritantes comentários, autoridades israelenses disseram que, ao invés de cooperar com um governo apoiado pelo grupo terrorista, Washington deveria instar com a necessária veemência o Presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, a desfazer seu pacto com o Hamas e retomar as negociações de paz com Israel.

"Estamos profundamente desapontados pelos comentários do Departamento de Estado Americano em relação a trabalhar como esse arremedo de "governo de unidade palestina". Tal governo é apoiado pelo Hamas, que é uma organização terrorista declaradamentente empenhada na destruição de Israel", disseram as autoridades do governo israelense.

"Caso a atual administração de esquerda, dos EUA, queira, de fato, avançar no sentido de obter uma paz duradoura no Oriente Médio, deveria conclamar Abbas para pôr fim ao seu pacto com o Hamas e voltar a negociar a paz com Tel Aviv", acrescentaram. "Ao invés disso, os EUA estão a habilitar Abbas a acreditar que é aceitável formar um governo com uma organização terrorista".

O escritório do Primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e o do Ministro das Relações Exteriores, em Jesrusalém, se negaram a comentar sobre esse assunto. Na manhã de ontem, segunda-feira, os ministros veteranos de Israel decidiram boicotar o novo "governo", uma vez que ele é apoiado pelo Hamas, considerado uma organização terrorista tanto por Israel como pelos EUA.

Na manhã de ontem, a porta-voz do Departamento de Estado, Jen Psaki, disse que os EUA acreditam que Abbas "formou um governo interino tecnocrata… que não inclui membros afiliados com o Hamas." Portanto, acrescentou ele, "pelo que sabemos até agora, vamos trabalhar com este governo".

A Sra. Psaki disse, entretanto, que Washington "continuará a avaliar a composição e as políticas adotadas pelo "novo governo de Abbas" e, se necessário, vamos modificar a nossa abordagem". Mais tarde ela acrescentou que a administração estaria "vigiando cuidadosamente para se certificar de que a nova unidade de governo manterá em vigência os princípios que servem como precondições para que os EUA continuem com sua ajuda financeira mensal à Autoridade Palestina.

Tal pronunciamento da Sra. Psaki causou uma grande surpresa aos líderes israelenses; fontes de Washington tinham sido citadas em Israel nos últimos dias dizendo que os EUA não reconheceriam de imediato o novo governo de coligação com o Hamas.

Já no sábado último, o Secretário de Estado americano, John Kerry, tinha telefonado a Abbas e "expressado sua preocupação quanto ao fato de o Hamas exercer qualquer papel de governo e a importância que o novo "governo" palestino deu ao compromisso com os princípios da não-violência, com o reconhecimento do Estado de Israel e a aceitação de acordos prévios com Tel- Aviv", disse a Sra. Psaki.

Ontem, Kerry discutiu os recentes desdobramentos com Netanyahu via telefone. O Departamento de Estado americano mostrou-se silente quanto ao conteúdo da conversa, ou absteve-se de comentar sobre se o anúncio da Casa Branca tinha surpreendido o governo israelense.

Perguntada se Israel concordaria em retornar à mesa de negociações nessas condições, a Sra. Psaki disse que isso era uma decisão a ser tomada apenas por Israel. "Em última análise, a decisão tem que ser tomada pelas partes... E a dificuldade em tomá-la medirá a dificuldade de reiniciar as negociações de paz e, assim, vermos. Os americanos não estão em posição de fazer previsões quanto a isso", disse ela.

Segundo Psaki, os Estados Unidos estão abertos ao plano atual estabelecido pela goveno interino de unidade da Autoridade Palestina, mas acrescentou que "é cedo demais para especular qual o resultado e teremso que esperar que os fatos e eventos ocorram".

A porta-voz do Departamento de Estado comentou que embora os EUA continuem a esperar que Abbas mantenha seu compromisso com a manutenção da coordenação de segurança com Israel, o apoio do Hamas para o atual governo não alterou a perspectiva americana sobre a culpabilidade de ataques de foguetes lançados em direção a alvos israelenses da controlada Faixa de Gaza pelo Hamas.

"Esperamos que a AP faça tudo ao seu alcance para impedir ataques provenientes de Gaza, mas entendemos que [a] Faixa de Gaza está sob o controle do Hamas", explicou Psaki.

Mais cedo, em Ramallah, Abbas empossou 17 ministros em um novo governo tecnocrata destinado a orientar o PA para eleições dentro de seis meses.

O gabinete israelense, por sua vez, disse ontem que iria boicotar o novo governo da AP e considerá-lo responsável por quaisquer foguetes disparados contra Israel a partir de Gaza.

Numa decisão aprovada em reunião extraordinária do Comité Ministerial para Assuntos de Segurança Nacional, Netanyahu e oito principais ministros disseram que não irian lidar com o novo governo e que formariam uma equipe para "examinar cursos de ação" à luz da nova unidade palestina de governo.

Abbas deu posse aos ministros ontem à tarde depois de dirigentes do Hamas em Gaza e o Fatah, de Abbas, resolveram um desacordo de última hora sobre um ministério chave do governo.

Ele saudou o "fim" da divisão palestina, dizendo: "Hoje, com a formação de um governo de consenso nacional, anunciamos o fim de uma divisão palestina que tem prejudicado muito o nosso caso nacional".

Abbas prometeu que o novo governo vai respeitar os princípios estabelecidos pelo quarteto de paz no Oriente Médio, que pede o reconhecimento de Israel, rejeitar a violência e cumprir todos os acordos existentes, embora o Hamas ainda tenha que ratificar essas condições.
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia internacional), 03-06-2014

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