João Marques de Almeida
Durante a primeira semana no
poder, o governo grego condenou as suas promessas ao fracasso e matou o seu
programa eleitoral. O que se seguiu foi uma “tournée” europeia entre o patético
e o desastroso.
Nunca vi um partido e um governo
cometerem tantos erros como o Syriza e a coligação grega nos últimos dez dias.
Tudo começou ainda antes de formar governo com a aliança com os Independentes
Gregos. Como se percebeu, a coligação já tinha sido preparada bem antes das
eleições, para o caso dos dois formarem maioria, como veio a acontecer. O
acordo com um partido populista e nacionalista de extrema-direita foi uma
provocação para os governos francês e italiano, que enfrentam ameaças
semelhantes. Ou seja, com a coligação interna, o Syriza perdeu o apoio dos dois
governos de esquerda que poderiam ajudar algumas das suas pretensões.
Em segundo lugar, logo no
primeiro dia de governo, com o apoio à Rússia, o governo grego conseguiu
irritar a Alemanha, a Holanda e a Finlândia. Merkel passou meses a construir um
consenso na Europa (e na Alemanha) sobre a política russa, chega um novo governo
e a primeira declaração diplomática foi um ataque à posição europeia sem
qualquer discussão com os outros governos. Os finlandeses, ameaçados pelo
expansionismo russo, ouviram o governo grego negar a existência de uma ameaça
russa. E o governo holandês, que viu centenas de holandeses morrerem quando o
avião da companhia aérea da Malásia foi abatido por armas russas, ouviu um
governo da União Europeia professar a sua amizade por Putin. Se o Syriza
estivesse empenhado em espalhar antipatia pela Europa, não faria melhor.
Mas o pior de todos os erros
foi ter tornado as divergências sobre a dívida e o financiamento gregos num
jogo de soma nula. Com as decisões iniciais de aumento da despesa pública e a
rejeição do pedido da extensão do programa, sem qualquer discussão com as
autoridades europeias, o unilateralismo grego transformou uma hipotética
vitória grega numa possível derrota alemã. Durante a primeira semana no poder,
o governo grego condenou as suas promessas ao fracasso e matou o seu programa
eleitoral.
O que se seguiu foi uma
“tornée” europeia entre o patético e o desastroso. Após o encontro com o
ministro das Finanças grego, George Osborne confidenciou aos seus colegas de
governo que tinha tido uma discussão com um académico, e não uma reunião com um
ministro. O PM italiano, Renzi, ofereceu uma gravata ao PM grego (um acto nunca
visto na história da integração europeia). O Presidente Hollande recusou
perguntas na conferência de imprensa com Tsipas. Todos sabem o que isso
significa: desacordo absoluto sobre o que interessa. E acrescentou, com o
sarcasmo que só um político francês alcança, “chegámos a acordo sobre políticas
culturais e de cooperação universitária.”
O calvário das viagens
terminou com o encontro entre Yanis Varoufakis e Mario Draghi. Como lhe
competia, Draghi limitou-se a explicar as regras do BCE. Não há financiamento a
países com uma cotação de dívida muito baixa (habitualmente conhecida por
“lixo”) se não estiverem no programa de apoio externo (para as almas de
esquerda mais sensíveis convém recordar que Dilma deu uma resposta semelhante
ao então PM português José Sócrates). Foi a recusa do novo governo grego em
pedir a extensão do programa que forçou o BCE a tomar esta posição. Como é
óbvio, o Syriza conhecia as regras.
Há duas interpretações para
esta sucessão de erros. A primeira considera o governo grego composto por
políticos amadores e inexperientes. Neste caso, o cenário mais provável será o
recuo do governo grego, como de resto já aconteceu em relação à redução da
dívida (e de certo modo no caso das sanções contra a Rússia). Neste caso, a
principal frente de batalha passará para a política grega. Como irá o governo
grego lidar com a quebra das promessas eleitorais? E conseguirá preservar a
unidade do Syriza? Há um segundo cenário, mais negativo. O governo grego culpa
a “Europa” e chega à conclusão que a melhor forma de manter o poder será
retirar a Grécia do Euro. Estamos mais perto do desastre do que há duas
semanas. Por culpa do governo grego que conseguiu em cerca de dez dias isolar-se
do resto da Europa. Até o Podemos já
se começou a afastar.
Será o Syriza, o PT da hora na Grécia ?
ResponderExcluirCoitados dos gregos, com um passado tão importante em nossa civilização, caíram em uma cilada, assim como os hermanos na Argentina e os mano em Pindorama.
José manuel
Por incrível que pareça, ou por mais paradoxal que pareça, acho que essa malta é "pior" do que o PT; o Lula tinha a demagogia, a falta de escrúpulos e outros quindins... mas conservou algum pragmatismo, ou oportunismo político, tanto faz. Os syrizianos são 'universitários' cheios de teoria marxista e odeiam o ocidente liberal e capitalista.
ResponderExcluirO ministro das Finanças da Inglaterra, George Osborne, teria confidenciado a seus pares que Varoufakis, da Grécia, pouco tinha de ministro de finanças, era um acadêmico.