Cesar Maia
1. A "informalidade" que acompanhou líderes sindicais nas
suas relações com grandes empresas sempre foi uma rotina. As montadoras não
cansaram de detalhar. Uma das idas de lideranças sindicais (entre elas Lula) à
Alemanha foi, na época, divulgada com detalhes nos bares e boates, incluindo
shows de strip-tease.
2. Essa informalidade e intimidade explicam o que ocorreu com Lula.
Pode ser até que ele não entendesse isso como desvio de conduta ou ilegalidade.
As explicações que Lula dá ao caso do triplex explica bem e com detalhes essa
relação "informal" e íntima que alguns procuradores chamaram de
promíscua. Mas ele não entende assim.
3. Seu discurso no carro de som, em frente ao Sindicato dos
Metalúrgicos de São Bernardo, traz informações que vão além do conteúdo. Por
exemplo, ter falado para baixo, para os militantes e não direto para a TV, que
era do próprio sindicato.
4. Ou seja, não se dirigia ao público que assistia ao vivo na TV ou
depois nos sites. Dessa forma, Lula voltava a seu nicho e abandonava a condição
de líder popular e mantinha-se apenas na condição de origem como líder
sindical.
5. Isso não era a narrativa de sua história, mas a narrativa de sua
realidade atual, numa espécie de giro político de 360 graus, voltando a ser o
que foi.
6. A agressividade com que se dirigiu ao Ministério Público, ao
Poder Judiciário e aos meios de comunicação e, claro, às elites, certamente não
correspondia a um candidato a presidente. Não teve nem o cuidado de restringir
com "alguns" ou algo assim. Ao contrário, generalizou as agressões.
7. Por isso, as associações representativas de procuradores e
juízes e da mídia reagiram, porque todas se sentiram agredidas. Era um discurso
de candidato a deputado e não de candidato majoritário.
8. A figura de retórica, dizendo que todos os militantes e
lideranças sindicais ou políticas deveriam se sentir todos e cada um como Lula,
incorporando-o, é bem explicativa.
9. Seria o caso de todos serem iguais a Lula, usando sua máscara. E
o Sindicato dos Metalúrgicos seria a Casa de Papel (Netflix), todos de máscaras
de Lula e cercados pela Polícia Federal. E, depois da prisão, todos os
militantes.
10. Esse discurso de transferência de personalidade às massas é
característica do populismo dos anos 20 e 30 na Europa, incluindo as cores e os
gestos. O conteúdo demagógico de seu discurso de que as elites, procuradores e
juízes e mídia o perseguiam porque ele representava os pobres sequer produziu
emoção. As imagens da TV do Sindicato retrataram isso.
11. Os anos de militância pós sindical, de militância política e de
experiência internacional deveriam ter dado a Lula uma maturidade que não teve
enquanto "enfrentou" a polícia em ‘La casa de papel’.
12. Não é sem razão que Lula repetia à exaustão que sua relação com
Bush foi muito melhor e prazerosa que sua relação com Obama.
Título e Texto: Cesar Maia, 9-4-2018
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