Cristina Miranda
Mais um ano, mais um festejo
de uma suposta liberdade e democracia com a revolução de abril de 74. Mas
a verdade não é essa. Nunca foi. O 25 de Abril não foi uma revolução do povo,
mas sim, dos militares insatisfeitos com Salazar que lhes congelara os direitos
e que os partidos reacionários de ideologia marxista (alguns por entre os
militares), souberam bem aproveitar. Perguntem a Otelo Saraiva de Carvalho (veja aqui). Ele
explica melhor que eu.
Otelo Saraiva de Carvalho, (à direita), com Fidel (à esquerda) e o seu irmão Raúl (no centro da foto), em Havana, em 1975. Foto: D.R./Leya |
Se temos hoje LIBERDADE
e DEMOCRACIA devemo-la
somente aos corajosos comandos liderados por Jaime Neves que em 25 novembro de 1975
correram com os comunistas já alapados no Governo, em marcha com o PREC para
tornar o país numa ditadura à semelhança de Cuba, Venezuela ou Coreia do Norte. Esta
é a verdade inegável que nenhum branqueamento da História de Portugal
conseguirá jamais apagar. Está escrito.
Tivesse o tão festejado 25 abril
vingado e teríamos hoje um país completamente diferente. As
expropriações, a coletivização das propriedades agrícolas privadas, a
estatização dos meios de comunicação e consequente controlo da liberdade de expressão,
bens e serviços, e mercado controlado pelo Estado, estaríamos hoje ao
nível de Cuba, isolados a um canto da Europa com uma moeda fraca,
todos iguais na profunda pobreza.
Quis o destino e ainda bem,
que desse tempo ficasse apenas uma Constituição comunista obsoleta, que para mal
dos nossos pecados ainda não foi toda revertida e adaptada ao nível de um país
evoluído e verdadeiramente democrático europeu. Mas pergunto: volvidos mais de
40 anos, somos mesmo livres?
Como podemos ser
verdadeiramente livres se votamos numa coligação partidária que ganhou quase a
maioria absoluta nas eleições de 2015, mas são três derrotados que
governam? Como podemos ser livres se as ideologias divergentes do
poder atual são bloqueadas, manipuladas, apagadas, perseguidas e rotuladas de
fascistas, xenófobos, racistas, neoliberalistas e mais outro tanto vocabulário
inventado para calar e rebaixar violentamente opositores? Quantos de nós não
conhece bem essa realidade da censura moderna nas redes que
com mudanças imperceptíveis de algoritmos, bloqueiam a informação indesejada do
“establishment”?
Mas há mais. Que liberdade é
esta que cria leis que autorizam a ocupação à força de casas privadas ou
terrenos? Que permite que se façam alianças com comunistas –
essas criaturas que deram os parabéns ao novo líder cubano que venceu – sem
eleições livres – exatamente os mesmos que num passado recente quiseram impor o
PREC e tomar dos privados, toda a propriedade e economia?
Que liberdade é esta que
acumulou dívidas estonteantes fruto de muito descontrolo e roubalheira
descarada de políticos, empresários e banqueiros, cuja fatura chegou aos portugueses,
em forma de aumentos grotescos de impostos e austeridade, pagos com
sofrimento laboral, cortes na saúde, na educação, na segurança, aprisionando-os
por décadas sem fim?
Que permite que os maiores
corruptos de que há memória em Portugal não estejam ainda todos presos, mas
sim, a pavonearem-se por aí, livres como passarinhos com tempo suficiente para
vender bens, esconder mais dinheiro sujo e ainda dar conferências pelo país
numa propaganda desenfreada de lavagem da verdade?
Que permite empregar toda a
família dos políticos no Estado, receber de viagens não gozadas (entre outros)
e ainda declarar estes comportamentos como legais marimbando-se para a ética?
Que se une – fazendo
desaparecer prova, substituindo procuradores do MP – sempre que é
necessário safar políticos de crimes de pedofilia, corrupção ou branqueamento
de capitais – mas organiza-se ferozmente para atacar pequenos comerciantes que
fogem ao IVA e que, ao serem apanhados com meia dúzia de infracções, de valor
irrisório, o fisco confisca imediatamente os bens e os senta sem demoras, na
barra dos tribunais aplicando pena de prisão?
Que castiga funcionários que
investigaram Manuel Pinho, outra “vítima” apanhada com mão no dinheiro público?
Que permite ainda, para cúmulo
dos cúmulos, que um derrotado nas eleições, com outro que nunca foi eleito,
façam acordos sobre destinos da Nação que não foram escrutinados? Algum de nós
votou nisto?! Votou?!! Então não me falem em democracia em Portugal! Isto é
ditadura convenientemente camuflada pós 25 abril. Vão gozar com outros.
Se há “liberdade a celebrar” é
a que foi conquistada pelos políticos. Isso sim! Grande golpe! Engordaram
contas bancárias e passaram a dominar através do sistema partidário montado,
fechado, um povo inteiro que mantiveram refém com discursos faustosos,
mentirosos e ilusórios para viverem confortavelmente à sua
conta! Até hoje.
É a festa da liberdade
deles – políticos – que conquistaram com esta revolução a liberdade de
“roubar legalmente” e continuarem livres mesmo depois de condenados.
Título e Texto: Cristina Miranda, Blasfémias,
25-4-2018
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Estou aqui a ver as notícias. Já passaram mais de quatro décadas sobre a revolução. Um pouco menos sobre tudo o que se passou depois. Pelo que vejo, a este ritmo, mais cinco ou seis anos, e Otelo é promovido a herói nacional em vez de ser tratado como chegou a ser julgado em democracia: um criminoso.
ResponderExcluirRodrigo Moita de Deus, 31 da Armada, 25-4-2018