As funções europeias de Centeno revelaram o
seu real pensamento: ele está muito mais próximo de Vítor Gaspar do que da
escola de Louçã que manda no Bloco. Não há ninguém nas esquerdas que não o
saiba.
Um dos fenómenos mais bizarros
da vida política portuguesa é a existência de duas Catarinas Martins (como se
uma não chegasse). A ‘Catarina Martins’ vota a favor dos orçamentos deste governo.
E já votou a favor de três, todos eles da responsabilidade do ministro das
Finanças. Mas, depois, a ‘Catarina Martins II’ anda pelas ruas das nossas
cidades, com as televisões atrás, a protestar contra o orçamento que a versão
número um da senhora aprovou. A nossa Catarina Martins deve achar que os
portugueses são estúpidos ou então julga que a política não é mais do que um
palco de teatro. Em Portugal, o populismo, a demagogia e o oportunismo
juntaram-se no Bloco de Esquerda e são levados ao palco pela Catarina.
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Foto: Paulete Matos |
A ida de Centeno para
presidente do Eurogrupo agravou o conflito. Na altura, muitos dos nossos
‘especialistas’ em política europeia desvalorizaram o impacto das novas funções
de Centeno, com o argumento extraordinário de que a Europa estava fora do
acordo da geringonça. No meio de tanta ‘sabedoria’, não entendem o fundamental.
A Europa tem um lugar central em tudo o que esteja ligado a recursos
financeiros no nosso país.
Ao contrário do que acontece
com a líder do Bloco, o ministro das Finanças sabe que não podem existir um
‘Mário Centeno I’ e um ‘Mário Centeno II’. As suas funções em Bruxelas não
permitem que isso aconteça. É simplesmente impensável que o país do líder do
Euro grupo possa arriscar um processo por incumprimento das regras do défice.
Aliás, o PM também sabe isso, e sabia-o quando tudo fez para que Centeno
conseguisse o lugar, por isso apoiará o seu ministro até ao fim da legislatura.
As funções europeias de Centeno também revelaram o seu verdadeiro pensamento.
Centeno está muito mais próximo de Vítor Gaspar do que da escola de Louçã que
prevalece no Bloco. Não há ninguém nas esquerdas que não o saiba.
O conflito com Centeno não
significa o fim da geringonça nem sequer que o Bloco não aprove o orçamento
para o próximo ano. Mas as relações entre as esquerdas serão mais tumultuosas e
a política nacional será mais incerta daqui até ao fim do ano. Veremos muito
mais a Catarina Martins das ruas do que a Catarina Martins deputada. Mas,
apesar dos protestos, o verdadeiro sonho da líder do Bloco é ser um dia
Catarina Martins a ministra da Cultura, para poder beneficiar dos orçamentos
aprovados em Lisboa e em Bruxelas.
Notas de rodapé
1. O Bloco e os sectores mais radicais do PS transformaram o
Parlamento na sua sala de festas para onde convidam os seus amigos para
celebrarem a aprovação de leis patéticas que na prática muito pouco mudarão.
São sobretudo uma justificação para folclores parlamentares.
Apenas se lamenta que
deputados experientes e responsáveis do PS participem nessa farsa. É o preço a
pagar pela geringonça. Pelo meio, a qualidade da nossa democracia diminui.
2. Foram necessários bombardeamentos pelos americanos, britânicos e
franceses, para o PCP e o Bloco acordarem para a guerra da Síria, apesar desta
ter começado há mais de cinco anos.
Assad, Putin e Erdogan podem
fazer os ataques que quiserem, e as nossas extremas esquerdas nem reparam.
Aparecem os americanos e os seus aliados europeus em cena, e os nossos neomarxistas
ficam logo indignados.
No fundo, nunca deixaram de
ser os idiotas úteis das ditaduras de Moscovo. Mesmo quando a Mãe Rússia está
mais próxima do fascismo do que do comunismo. Mas, para as esquerdas radicais,
isso não passa de um pormenor. O que interessa é atacar o Ocidente e os seus
regimes capitalistas e liberais.
Título e Texto: João Marques de Almeida, Observador,
15-4-2018
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