Rodrigo Constantino
Muitos, com razão, apontam para a estratégia de Gramsci ao constatar o elevado grau de esquerdismo nas universidades e redações de jornais do país. De fato, isso acontece mesmo. Mas há outro fator, muitas vezes negligenciado, que pode ser tão importante quanto a deliberada ocupação por revolucionários, por “agentes orgânicos” da causa: a pura preguiça.
O filósofo Luiz Felipe Pondé,
que transita nesse meio acadêmico, já escreveu sobre isso mais de uma vez. O
acadêmico preguiçoso não precisa estudar muito para subir na carreira: basta
ele prestar homenagens aos gurus marxistas. Torna-se um jogo de cartas
marcadas, em que os mais prostituíveis se destacam, ao bajular aqueles no
comando, quase todos socialistas. Vira um círculo vicioso.
Imaginem o professor que precisa
ensinar a língua portuguesa correta, ou matemática. Isso dá muito trabalho!
Agora, atacar Bolsonaro de “fascista” e gritar “Lula Livre” até uma hiena
consegue fazer! A preguiça leva muita gente à ideologia de esquerda, pois ela
serve como um escudo protetor para sua ignorância. Lembrei disso ao comentar o caso da “estudante” de jornalismo que não
sabia sequer a capital do Paraná ou quem tinha escrito a primeira carta ao
reino de Portugal após a descoberta do Brasil.
Entre as vinte origens do
fenômeno da esquerda caviar, que descrevi no meu livro homônimo, consta uma que
é justamente sobre isso: a preguiça mental. Segue o capítulo:
A preguiça também atrai muitos
à esquerda festiva. Não é preciso estudar a fundo, pesquisar, refletir e pensar
sobre como resolver de verdade os problemas. Basta aderir a um grupo, repetir
meia dúzia de slogans bonitos e usar palavras mágicas como “justiça social”,
“tolerância”, “diversidade”, “sustentabilidade” e “paz” que você
automaticamente ganha o respeito de muitos bobalhões e posa como alguém cheio
de opiniões sobre os mais variados assuntos.
O ex-comunista Arnaldo Jabor
assumiu, sobre sua luta de juventude: “Era uma vingança contra traumas
familiares, humilhações, pequenos fracassos. Era também uma mão-na-roda para
justificar a nossa ignorância – não, pois não precisávamos estudar nada profundamente,
por sermos a ‘favor’ do bem e da justiça”.
A esquerda caviar está repleta
de filósofos de botequim, que fazem aquelas leituras rápidas de como aprender
sobre um pensador profundo em trinta minutos. São também devoradores de orelhas
de livros. Depois, com o típico ar professoral da turma, ligam a metralhadora
giratória de verborragia, de citações vazias, mas embaladas em mantos de
sabedoria, e pronto: assunto encerrado; podem bancar os superiores na roda do
grupo.
O filme Para Roma com
amor, de Woody Allen, satirizou esse tipo na personagem de Ellen Page, uma
jovem sedutora meio maluquinha e rebelde, que adora repetir algumas frases de
poetas e escritores para impressionar os outros. Profundidade que é bom, nada!
Se essas frases forem citadas em francês então, é a garantia da boa imagem de
intelectual culto e humanista. “Reparem como o sujeito que fala em francês e
pensa em francês toma ares de gênio e de infalibilidade”, alfinetou o sempre
atento Nelson Rodrigues.
O que você acha sobre o
impacto dos gastos públicos na taxa de juros de longo prazo? “Sou pela justiça
social, meu amigo”. E o que você faria em relação ao problema da imigração e do
subemprego dos imigrantes em uma sociedade de bem-estar social com impostos
cada vez maiores? “Sou pela diversidade, meu chapa”. Como você acha que a
ameaça terrorista deveria ser enfrentada? “Paz e amor, brother”.
Não existe maneira mais rápida
e fácil de comprar um pacote pronto e completo de “soluções” para todos os
males do mundo do que ingressar na esquerda caviar. Os artistas serão seus
aliados, os intelectuais vão defender bandeiras iguais, e a grande imprensa vai
acompanhar seus gritos nobres por justiça e paz. Qualquer um pode repetir esses
chavões, até mesmo o mais idiota dos idiotas.
Muitos jovens usam camisetas
com a foto de Che Guevara estampada. Isso, na cabeça deles, basta para
colocá-los como “críticos do sistema”. Mal sabem que Che pensava que o jovem,
em particular, devia aprender a “pensar e agir não por si, mas como parte da
massa”. Os que escolhiam o próprio caminho, de forma independente, eram
apontados como párias e delinquentes sem valor.
Em um discurso famoso, Che
prometia “fazer sumir da nação a praga do individualismo!” Para ele, era
criminoso pensar como indivíduo (como se existisse algum pensamento que não o
individual). Melhor coletar alguns slogans em panfletos comunistas. Receita
perfeita para quem tem preguiça de pensar.
Pensar dá muito trabalho.
Estudar, mais ainda. Aprender sobre a realidade exige esforço e tempo, coisas
cada vez mais raras no mundo moderno. Aquele que deseja seguir com sua vida,
focando em seus verdadeiros interesses, e ao mesmo tempo sair bem na foto, como
uma alma engajada e socialmente preocupada, encontra no esquerdismo um atalho
fascinante e tentador.
O sujeito pega sua viola,
acende seu cigarro de maconha, canta músicas românticas de Lennon e Bob Dylan,
e jura para si mesmo que fez mais pela humanidade do que os empreendedores
capitalistas que arriscam suas economias em empreitadas que produzem riqueza e
empregos à sociedade. Garçom, mais uma cerveja!
Título, Imagem e Texto: Rodrigo Constantino, Gazeta do Povo, 27-4-2018
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