quarta-feira, 25 de abril de 2018

A mentira da modernidade

Moiani Matondo


O que torna Angola um país moderno não é satélites construídos pelos outros (e que não funcionam), radares avariados ou comboios rápidos de cidade que só existem em bonitas maquetas televisionadas.

Não existe razão lógica alguma que justifique o denominado Programa Espacial Nacional, cujo principal símbolo é o satélite angolano que não opera. Contudo, não vale a pena especular sobre se o satélite Angosat-1 trabalha ou não, se desapareceu ou não. Mas vale a pena perguntar por que razão Angola se meteu nesta aventura, gastando, pelo menos, 320 milhões de dólares.

Estará Angola a criar um cluster (nicho de mercado) aeroespacial com a participação de técnicos nacionais, universidades locais e tecnologia doméstica? Haverá uma aposta estratégica, quantificável em recursos humanos, educativos e técnicos, no sector do espaço? Isto faz sentido na presente conjuntura?

De entre as várias explicações dadas, designadamente a entrevista ao Jornal de Angola, no passado dia de 23 de abril, do ministro das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, José Carvalho Rocha, não se vislumbra nada disso. O que aparenta é que Angola fez um contrato com os russos para estes produzirem um satélite com nome angolano, em que o único contributo de Angola é pagar o serviço. Não existe qualquer transferência de tecnologia ou partilha de know-how. Não se constata, portanto, a criação do cluster angolano da engenharia aeroespacial.

Na realidade, os benefícios para Angola da existência de um satélite são residuais. O próprio ministro tem dificuldades em avançar com justificações para o projeto, além de umas referências vagas à diversificação da economia e da monitorização do clima para a agricultura. Mas certamente que o satélite não é como o antigo rei da Tailândia, Bhumibol Adulyadej, que patenteou uma invenção que fazia chover e prevenia a seca. O contributo angolano é menor do que o tailandês.

A verdade é que esta história do satélite parece mais uma negociata, das várias que existiram ao longo dos anos, entre russos e angolanos, e certamente alguém terá beneficiado de muitos milhões a contratar um satélite que não funciona….

Ao mesmo tempo que o governo gasta mais de 300 milhões num satélite que não fala e não faz chover, a TPA, citando o Novo Jornal, informa que o aeroporto internacional de Luanda não tem o radar a funcionar. Isto quer dizer que os aviões que lá aterram o fazem com a mesma segurança que uma avioneta na picada. Não se percebe como é que Angola pretende ser uma potência regional, se nem de um aeroporto em condições dispõe.

Este facto demonstra a mendicidade das políticas públicas de José Eduardo dos Santos. Houve dinheiro para engordar os oligarcas e os familiares do regime, mas não para colocar um radar a funcionar no aeroporto mais importante do país. Este fenómeno é o espelho do regime de roubalheira nacional em que o país viveu durante décadas. Só a completa impunidade e irresponsabilidade dos dirigentes justifica que se tenha chegado tão baixo.

E, como se já não bastasse ser a classe dirigente composta por uns faraós do absurdo, o ministro dos Transportes ainda vem anunciar um comboio rápido de cidade com ligação ao aeroporto, e mostra umas bonitas imagens. Qual metro para qual aeroporto? Talvez seja melhor primeiro colocar um radar no aeroporto.

Satélites, aeroportos, metros são símbolos de uma modernidade que os dirigentes angolanos querem exibir, mas que é falsa. A única verdade de que temos a certeza até agora é que o dinheiro público foi desbaratado. A saúde não funciona, a educação não funciona, o radar não funciona, o satélite é uma farsa.

E era bom saber o que se passa com as barragens novas, o Porto do Caio e muitas obras de envergadura anunciadas no estertor do mandato de José Eduardo dos Santos, para percebermos se é tudo uma farsa, apenas montada para propaganda.

Face ao estado a que chegou, Angola tem de voltar ao seu ano zero e começar tudo de novo.
Título, Imagem e Texto: Moiani Matondo, Maka Angola, 24-4-2018

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