Moiani Matondo
O que torna Angola um país
moderno não é satélites construídos pelos outros (e que não funcionam), radares
avariados ou comboios rápidos de cidade que só existem em bonitas maquetas
televisionadas.
Não existe razão lógica alguma
que justifique o denominado Programa Espacial Nacional, cujo principal símbolo
é o satélite angolano que não opera. Contudo, não vale a pena especular sobre
se o satélite Angosat-1 trabalha ou não, se desapareceu ou não. Mas vale a pena
perguntar por que razão Angola se meteu nesta aventura, gastando, pelo menos,
320 milhões de dólares.
Estará Angola a criar um
cluster (nicho de mercado) aeroespacial com a participação de técnicos
nacionais, universidades locais e tecnologia doméstica? Haverá uma aposta
estratégica, quantificável em recursos humanos, educativos e técnicos, no
sector do espaço? Isto faz sentido na presente conjuntura?
De entre as várias explicações
dadas, designadamente a entrevista ao Jornal de Angola, no passado dia de 23 de
abril, do ministro das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, José
Carvalho Rocha, não se vislumbra nada disso. O que aparenta é que Angola fez um
contrato com os russos para estes produzirem um satélite com nome angolano, em
que o único contributo de Angola é pagar o serviço. Não existe qualquer
transferência de tecnologia ou partilha de know-how. Não se constata, portanto,
a criação do cluster angolano da engenharia aeroespacial.
Na realidade, os benefícios
para Angola da existência de um satélite são residuais. O próprio ministro tem
dificuldades em avançar com justificações para o projeto, além de umas
referências vagas à diversificação da economia e da monitorização do clima para
a agricultura. Mas certamente que o satélite não é como o antigo rei da
Tailândia, Bhumibol Adulyadej, que patenteou uma invenção que fazia chover e
prevenia a seca. O contributo angolano é menor do que o tailandês.
A verdade é que esta história
do satélite parece mais uma negociata, das várias que existiram ao longo dos
anos, entre russos e angolanos, e certamente alguém terá beneficiado de muitos
milhões a contratar um satélite que não funciona….
Ao mesmo tempo que o governo
gasta mais de 300 milhões num satélite que não fala e não faz chover, a TPA,
citando o Novo Jornal, informa que o aeroporto internacional de Luanda não tem
o radar a funcionar. Isto quer dizer que os aviões que lá aterram o fazem com a
mesma segurança que uma avioneta na picada. Não se percebe como é que Angola
pretende ser uma potência regional, se nem de um aeroporto em condições dispõe.
Este facto demonstra a
mendicidade das políticas públicas de José Eduardo dos Santos. Houve dinheiro
para engordar os oligarcas e os familiares do regime, mas não para colocar um
radar a funcionar no aeroporto mais importante do país. Este fenómeno é o
espelho do regime de roubalheira nacional em que o país viveu durante décadas.
Só a completa impunidade e irresponsabilidade dos dirigentes justifica que se
tenha chegado tão baixo.
E, como se já não bastasse ser
a classe dirigente composta por uns faraós do absurdo, o ministro dos
Transportes ainda vem anunciar um comboio rápido de cidade com ligação ao aeroporto,
e mostra umas bonitas imagens. Qual metro para qual aeroporto? Talvez seja
melhor primeiro colocar um radar no aeroporto.
Satélites, aeroportos, metros
são símbolos de uma modernidade que os dirigentes angolanos querem exibir, mas
que é falsa. A única verdade de que temos a certeza até agora é que o dinheiro
público foi desbaratado. A saúde não funciona, a educação não funciona, o radar
não funciona, o satélite é uma farsa.
E era bom saber o que se passa
com as barragens novas, o Porto do Caio e muitas obras de envergadura
anunciadas no estertor do mandato de José Eduardo dos Santos, para percebermos
se é tudo uma farsa, apenas montada para propaganda.
Face ao estado a que chegou,
Angola tem de voltar ao seu ano zero e começar tudo de novo.
Título, Imagem e Texto: Moiani Matondo, Maka Angola, 24-4-2018
Título, Imagem e Texto: Moiani Matondo, Maka Angola, 24-4-2018
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