Cesar Maia
1. Um voo amplo sobre as eleições de vários países, nos últimos
anos, incluindo, claro, 2017 e 2018, mostra um crescimento sustentado da
antipolítica, seja com os candidatos vitoriosos, seja com o crescimento de
candidatos e novas forças, seja pela sinalização das pesquisas.
2. A antipolítica eleitoral e pré-eleitoral afirma a
"morte" dos partidos políticos tradicionais e a necessidade da
ascensão de nomes e movimentos, cuja principal bandeira é a rejeição aos
partidos e aos políticos.
3. Como em geral as legislações eleitorais não autorizam candidatos
avulsos, a antipolítica se apresenta fantasiada com a sigla de partidos
políticos. Mesmo os partidos tradicionais - em muitos países - preferiram
retirar de seu nome a palavra partido e passaram a se denominar por
palavras-bandeiras.
4. É assim no Brasil com Rede, Patriotas, Podemos, Democratas,
etc., e em outros países como a Espanha com Cidadãos e Podemos, que perfilam
nas pesquisas ao lado dos tradicionais PP e PSOE. Exclua-se disso aqueles que
tradicionalmente e há muitas décadas adotaram denominações com a expressão como
União...
5. Agora, em 2018, pesquisas pré-eleitorais no Brasil - e
especialmente a do Instituto Datafolha, pois foi realizada após as janelas de
março e o troca-troca de partidos e a inclusão de personalidades no campo
eleitoral - mostram claramente a força de saída da antipolítica.
6. Pelo menos, na América Latina, o amplo processo de corrupção
envolvendo políticos e suas relações reforçou a percepção dos eleitores que há
a necessidade de varrer do tabuleiro político os partidos tradicionais e que há
que se dar prioridade aos que estão no campo da antipolítica.
7. Há que se sublinhar que a antipolítica e o populismo são primos irmãos e que se afirmam quase da mesma maneira, incluindo a tradicional rejeição às elites em defesa dos pobres. Isso traz incorporada a mensagem que os partidos e políticos formam as elites e que há que rejeitá-los.
8. A pesquisa do Instituto Datafolha divulgada no domingo, 15 de
abril, mostra claramente esse quadro e a força da antipolítica. Ou seja, a
força das pré-candidaturas que se afirmam pela rejeição aos partidos e aos
políticos. O populismo antipolítico de Lula tem o destaque de sempre. Mas
quando outros nomes do PT que não podem ser incluídos na antipolítica são
apresentados, estes, não chegam a 2%.
9. Com o impedimento legal de Lula, a pesquisa Datafolha oferece
alternativas.
10. Os dois primeiros nomes que se destacam e lideram as intenções
de voto fazem parte do campo da antipolítica (rejeição a partidos, a políticos
e até à política) independentemente de suas ideias. São eles Bolsonaro e
Marina. E próximo a eles o ex-ministro do STF que capitaneou o julgamento do
mensalão, Joaquim Barbosa. Bolsonaro perde um pouco de fôlego na medida em que
outros nomes da antipolítica são oferecidos.
11. Ciro Gomes faz parte deste bloco na pesquisa, e aparentemente
como nome partidário. Mas, seu passeio por vários partidos em sua trajetória
política mostra coisa diferente. Não é exatamente o partido que o caracteriza.
Mas seu populismo retórico e virulento, que aproxima sua comunicação da de
Bolsonaro. E assim é percebido pelos eleitores.
12. É dessa forma que está formado o grid de largada para outubro
de 2018. E esse será o desafio maior dos candidatos orgânicos, construir
discursos e mensagens que os separem do facilitário oportunista da
antipolítica.
Título e Texto: Cesar Maia, 16-4-2018
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