sexta-feira, 27 de abril de 2018

"A esquerda é o Titanic de 2018 - já bateu no iceberg e afunda em meio ao ridículo"

Cesar Maia
     
(Clovis Rossi - Folha de S.Paulo, 26)

1. Que a esquerda está em crise em boa parte do mundo não chega a ser uma grande novidade. Novidade é que significativa parcela do mais importante partido da esquerda brasileira, o PT, esteja contribuindo para esse cenário geral de crise com uma forte pitada de ridículo. Se a única ideia que os petistas podem oferecer é essa estupidez de acrescentar "Lula" ao nome, é melhor chamar o Tiririca para substituir a Gleisi Hoffmann na presidência do partido. Palhaçada por palhaçada, fiquemos com quem é mais autêntico.
    
2. Idiotice à parte, passemos a uma crítica fulminante à esquerda vinda de um acadêmico, Wanderley Guilherme dos Santos, de impecáveis credenciais esquerdistas e um propagandista entusiasmado do governo Lula. "Esse é um mundo no qual a esquerda do século XX não tem mais lugar. Por isso toda esquerda no mundo hoje é obsoleta, conservadora e reacionária. Ela se organizou em termos de pensamento e ação no século XIX para concorrer com o liberalismo em termos de imaginário futuro de organização social.
   
3. O liberalismo oferecia o progresso, a esquerda oferecia a revolução pela ruptura. A queda do muro de Berlim destruiu esse projeto alternativo. A esquerda desde então tem estado na defensiva e não é à toa que sua palavra de ordem seja resistência", escreveu esse cientista social para o último número de 2017 da trimestral revista Inteligência.
   
4. Sou obrigado a concordar com ele, até porque já escrevi inúmeras vezes que a esquerda —não só a brasileira — não conseguiu ainda sair dos escombros do muro de Berlim, mesmo passados quase 30 anos da queda. Foi também o fim do comunismo e é intrigante que mesmo a esquerda que não comungava com o comunismo soviético tenha se ressentido.
  
5. Se a obsolescência da esquerda tivesse provocado apenas a ascensão de uma direita civilizada, não haveria grandes problemas. Veja-se o Chile: a esquerdista Michelle Bachelet dá lugar ao direitista Sebastián Piñera, que, quatro anos depois, devolve a cadeira a Bachelet para que ela a entregue, após outros quatro anos, a Piñera. E o Chile vai em frente, tropeçando às vezes, mas sem uma crise tremenda como a que devorou o Brasil e ainda se faz sentir.
  
6. O problema é que o vácuo deixado pela esquerda foi preenchido pela extrema-direita, como escreve Dani Rodrik, um heterodoxo professor de economia política internacional na Escola de Governo John F. Kennedy, da mitológica Harvard: "Tivessem os partidos políticos, particularmente os de centro-esquerda, perseguido uma agenda mais ousada, talvez o crescimento de movimentos de direita, nativistas [nacionalistas], pudesse ter sido evitado".
  
7. O raciocínio parece correto, mas o problema é que nem a direita (civilizada) nem a esquerda puseram de pé até agora uma agenda capaz de contrapor-se "às queixas que autocratas populistas exploraram com sucesso —desigualdade e ansiedade econômica, a percepção de declínio do status social e o abismo entre as elites e os cidadãos comuns", para citar de novo Rodrik.
  
8. A esquerda brasileira acha mesmo que pôr "Lula" no nome é uma agenda suficiente?
Título e Texto: Cesar Maia, 27-4-2018 

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