sexta-feira, 27 de abril de 2018

[Pernoitar, visitar, comer e beber fora] Cavalo Negro

Pedro Garcia Rosado

Uma das coisas interessantes do supermercado Pingo Doce, que frequento, é a promoção regular de vinhos, com preços mais baixos do que o preço de venda ao público. Os alentejanos estão em maioria, mas não esses que me interessam. E um dos vinhos que descobri foi o Cavalo Negro (tinto).


Comecei pelo de 2016, interessado pela combinação de castas (Castelão, Trincadeira e Aragonês). Seria bom? À cautela comprei uma garrafa. Quando a abri, e provei o vinho, lamentei de imediato não ter trazido mais. Sem notas adocicadas, perfeitamente equilibrado, entusiasmou-me. Na vez seguinte em que fui ao supermercado vi-o lá e pus de imediato uma caixa de seis garrafas no carrinho. Na caixa desisti: uma das castas era a Touriga Nacional (excelente no Dão e no Douro, mas “extraviada” noutras regiões). Não trouxe… o que foi um erro.

Situada a empresa (Parras Wines) a cerca de meia hora de casa, perto de Alcobaça, telefonei e disseram-me que sim, que havia Cavalo Negro de 2016. Lá fui. Não havia ainda engarrafado, a loja ia abrir na semana seguinte e já haveria… podia trazer uma garrafa do de 2014 (Castelão, Trincadeira e Aragonês). Trouxe uma caixa, abri uma garrafa uma semana depois e… não me entusiasmou. Mais ou menos nessa altura voltei à loja, já aberta. Trouxe o de 2016 e, para provar, um Dão (Evidência) e um Quinta de Gradil (de que mais tarde falarei).

Tendo confirmado as muito boas impressões do Cavalo Negro de 2016, voltei, entretanto, ao de 2014. E foi uma surpresa: o vinho, descansando mais duas ou três semanas, melhorara. A seguir aventurei-me a outras edições, detendo-me apenas no tinto (do branco falaremos mais tarde): o de de 2015 (Toruiga Nacional, Alicante Bouchet e Aragonês), vendido com a designação de Premium, é um vinho muito bom, de qualidade superior, acima do Reserva e totalmente estagiado em carvalho francês; o Reserva de 2016 (Touriga Nacional, Aragonês e Castelão), tão bom como o “colheita” do mesmo ano (e que talvez só possa melhor apreciado um pouco mais tarde); e, finalmente, o Reserva de 2014. E este tinto fechou com chave de ouro o meu contato com o Cavalo Negro: É um vinho tinto absolutamente notável e memorável de sabor e aromas.

Sendo um vinho regional do Tejo, o rótulo não indica em concreto a sua origem (o seu “terroir”) mas, nomeadamente no caso do de 2016, fiquei a pensar que poderia ser oriundo de uma região de Alcoentre, Tagarro, de cujos vinhos tintos guardo excelentes recordações.  Não é, segundo me informou depois a Parras Wines, mas não errei por muito: as uvas do Cavalo Negro são de Almeirim, a cerca de 40 quilómetros de Tagarro e a caminho da Serra de Aires e dos Candeeiros, região que é também famosa pelos seus vinhos. E a Touriga Nacional, imigrante de outras paragens, aclimatou-se aqui bem, tendo uma presença digna.

Vendido em exclusivo ao Pingo Doce, o Cavalo Negro é um exemplo perfeito do vinho que pode sair das terras do noroeste de Lisboa, longe dos padrões abaunilhados que mancham outros vinhos e com um potencial interessante. O vinho aprecia-se talvez melhor assim: à descoberta, de garrafa em garrafa, saboreando-o e examinando-o, indo pelos nossos próprios passos, aprendendo, aprendendo sempre.
Título e Texto: Pedro Garcia Rosado, Vinhos e Petiscos, 16-8-2017

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