Cristina Miranda
Quando criaram a Geringonça e
tomaram conta do poder, prometeram tudo e mais um par de
botas. Em cima da mesa estavam todas as medidas de austeridade impostas pela
Troika por via do desgoverno de Sócrates – e cuja culpa recaiu sobre Passos –
que era preciso reverter, custasse o que custasse, só por populismo, sem
qualquer responsabilidade. Com os cofres cheios de dinheiro deixado por Maria
Luís Albuquerque, a tarefa não foi difícil. Enquanto havia para distribuir,
andava tudo bem no “país das maravilhas socialistas”. O problema (o de sempre)
foi quando passado um ano o dinheiro esgotou-se. Puf! Dissimuladamente,
enquanto Costa continuava a pregar aos burros “boas novas”, Centeno pela calada,
cativava. E cativava. E cativava. Tudo mais ou menos “controlado” (diga-se,
escondido) até ao momento em que a aplicação das 35 horas dá a machadada final
e implode o SNS. Já havia avisos que a catástrofe era iminente: um aumento
colossal da dívida do SNS; falta de equipamentos, medicamentos e materiais como
compressas e fios de sutura; falta de enfermeiros; falta de médicos
especialistas. Mas o pior estava para vir…
Não é preciso ter um QI
sobrenatural para perceber que, para haver redução da carga horária de 40 para
35 horas, ou há gente a mais e estão todos a “lamber sabão” no trabalho – e aí
até sobra pessoal, logo a redução não afeta os serviços representando uma
poupança – ou fazem mesmo falta e nesse caso, ao reduzir o horário
laboral vai provocar necessidade de novas contratações urgentes e consequente
aumento de despesa. Não há aqui milagres. Dizer-se que esta
lei não aumenta a despesa é desonesto. Sobretudo quando falamos do SNS que ao
contrário doutros serviços (há por aí muitas instituições públicas inúteis e
cheias de gente), já estava carente de muitos profissionais já com as 40 horas
semanais. Logo, reduzir sem compensar com contratações de mais funcionários era
um “assassinato” previsível ao SNS.
A catástrofe tinha de
acontecer a qualquer minuto. Mesmo com a parca compensação das 2000
contratações, a entrada em vigor para o sector da saúde a 1 de Julho das 35
horas provocou um “tsunami” devastador que ainda não parou de fazer estragos
sérios no ministério da saúde: o Centro Hospitalar de Vila Real vai encerrar 50 camas e o bloco cirúrgico oncológico; as grávidas do Hospital Alfredo da Costa são transferidas a meio do trabalho de parto; demissões no Centro Hospitalar Lisboa Central onde se exige plano de catástrofe;
a maternidade do Alfredo da Costa que encerra 3 salas de parto; o fecho da unidade de cuidados coronários da Guarda; o Hospital S.João que encerra 70 camas e alguns blocos operatórios; o
Hospital de S. José sem urgência de cirurgia vascular; o Hospital de Lamego que vai fechar 6 camas nas especialidades de cirurgia e
medicina. Ao todo já encerraram em todo o país mais de 240 camas em diversas
unidades hospitalares. Onde estão os ativistas dos cordões humanos frente à
Maternidade Alfredo da Costa no tempo de Passos? Morreram? Imigraram?
Costa, ao “estilo Gaspar” sem
Troika, já veio dizer alto e bom som no Parlamento que não há dinheiro. Que é
preciso estabelecer prioridades (é verdade! quem diria!). Deve ser por isso que
mandou prosseguir com as obras no IP3, vai avançar com um
financiamento a Moçambique no valor de 202 milhões de euros e atribuiu sem
qualquer controlo 4 mil milhões em subsídios enquanto a ala pediátrica
do S. João continua à espera dos 5 milhões prometidos e o SNS estoura por falta
de contratações urgentes e obrigatórias de todo o tipo de pessoal.
Que diz entretanto Marcelo
sobre o caos instalado na saúde? Que é preciso esperar para ver. Ok. Foi exatamente o que vimos em Pedrógão.
Esperamos e vimos a morte de centenas de cidadãos. Prevenção não é nosso forte
e com um Presidente que ao invés de puxar as orelhas e estes “miúdos
irresponsáveis” dá-lhes AINDA, depois de todos os falhanços vergonhosos, o
benefício da dúvida a qualquer hora, estamos entregues à bicharada. Como se já
não bastasse, ainda foi dizer que a dívida (sim, a dívida pública que não parou
de subir desde a entrada da Geringonça) subiu mas vai baixar, qual astrólogo do
bem aventurado milagre económico e financeiro que nunca acontece a não ser na
imaginação dele!
Entre as “prioridades” de
Costa e a “fé cega e surda” de Marcelo, venha o diabo e escolha!
Título e Texto: Cristina Miranda, Blasfémias,
10-7-2018
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